VI • A Ressurreição Demoníaca • FINAL

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— Mamãe, você prometeu levar a gente no cinema! — diz garotinho de oito anos na maternidade do hospital.

— É, você prometeu! — acrescenta a irmãzinha menor que ele.

A mulher toda de branco na frente deles revira os olhos. Ela observa o menino com cabelo escuro tigelinha e a garota de cachos amendoados. Tenta ser firme quando diz:

— Meu turno termina em quinze minutos! Só mais um pouquinho e eu já vou sair com vocês, tá bom?

— Você disse isso faz dez minutos! — a menina argumentou.

— Foi uma emergência, meu bem. Eu precisei...

— Isabelle? — um enfermeiro de óculos a chamou pela porta.

— Diga.

— Sabe aquele acidente que passou no jornal? Então, foram muitas vítimas e eles decidiram transferir algumas pra cá. Eu vou participar de uma cirurgia agora mesmo, será que poderia só anestesiar o paciente do quarto 113?

— Claro, eu já tô indo.

— Mas mãe! — ambas crianças protestam ao mesmo tempo.

— Eu já volto! É só isso e eu já vou embora, eu prometo.

Isabelle percorreu os corredores brancos com uma enorme vontade de fumar. Lembrou do pai das crianças e de como as coisas eram mais fáceis quando ele era vivo. Agora precisava trabalhar em dobro para sustentar as duas; quase não tinha tempo para algum tipo de lazer. 

Mas ela trocou o horário com uma colega e hoje finalmente sairia mais cedo, pronta para dedicar todo o carinho e atenção para os filhos. A mulher ajeita a touca na cabeça e coloca a máscara no rosto. Ela prepara a injeção e abre a porta do quarto 113. 

Ao entrar, ela toma um susto: a maca estava vazia e a janela, aberta. Antes que pudesse se virar para chamar um médico, uma corrente elétrica invadiu todo seu corpo.

Ela começou a tremer sem parar, sentindo duas pranchas queimando nas costas. Isabelle sente o sangue fervilhar dentro dela enquanto engasga com a própria língua tragada pela garganta. A visão logo escurece e a última coisa em que consegue pensar é em seus filhos.

O corpo eletrocutado cai morto no chão. Desmond sorri atrás dela, segurando o desfibrilador. Ele fecha a porta e se veste com as roupas brancas da mulher, não esquecendo da touca e da máscara.

 Em seguida o homicida atravessou os corredores do hospital até a saída sem chamar muita atenção. Alguns notaram as marcas negras do desfibrilador nas costas, mas ninguém parou para perguntar.

Ao chegar lá fora, o advogado tirou a máscara e inalou o ar noturno.

— A noite é uma criança — falou sorrindo.

E assim o demônio psicopata se infiltrou no cardume de notívagos da grande São Paulo.


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