Não podemos ser amigos

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Não podemos ser amigos

E se você me vir vindo
Dê meia volta e vá
Para o mais distante que conseguir
Antes que eu veja sua nuca
E repare que você esteve passando pelo mesmo caminho
Pois, meritíssimo
Se não pudermos confundir as roupas
E não debatermos sobre as igrejas nos bares
Eu não aguentaria ficar um minuto
Ouvindo você falando
Sobre como seriam os seus tempos ideais
E eu teria que te falar novamente
Que ela pode voltar pra você um dia
Aliás, estaria me contradizendo
Quando estivéssemos fechando a garagem
E você trancasse o carro com a chave dentro
Até que xingasse tudo que tinha na carne
Eu te imploro, xingue pelo meu nome
E então, ao vermos que o chaveiro está em horário de almoço
Deitássemos no chão engraxado
E rolaríamos
Nas nossas
Próprias
Cordas
Isso me faria tão feliz e tão complexa
Que por um exato momento eu perderia todo o meu fôlego
Gozaria entre as suas pernas
E perceberia que poderia ter passado a vida em qualquer canto de estrada
Mas eu nunca sujaria tanto alguém com o meu coração como acabaria pelo seu
Não podemos nunca
Sermos conhecidos
Não podemos nem pensar muito nisso
É isso que eu te peço
Lacre a nossa conversa
Pague uma prostituta
Compre uma penteadeira
Abra o seu escritório de advocacia
Mas não se lembre que o meu apartamento é o 302 e que tem que apertar o interfone duas vezes porque está com defeito
Então, está tudo claro?
Você pode ver o quão grave seria o nosso encontro
Voltamos, pela Marechal Floriano
Sem falar nossos nomes
Com as mãos pingando.

As semelhanças entre um político quebrado e um coração corruptoOnde histórias criam vida. Descubra agora