"CLAUS..."

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O enterro demorou horas, parece que esse amigo de papai era bem popular. Estou esperando no carro enquanto Camilly arrasta papai pelo cemitério para falar com ele sobre os meus Sonhos. Ligo o rádio e passo pelos canais, mas desligo quando não encontro nada de bom. Saio do carro para esticar as pernas e lá está ele... Claus está parado ao lado de uma das lápides, pensativo, com suas asas negras balançando com o vento.

   - O que está fazendo aqui? - Pergunto quando me aproximo.

   - Visitando os meus pais.

   - Pensei que Anjos fossem imortais...

   - E somos. Meus pais eram Humanos... Só eu nasci com o dom de Anjo.

   - Pensei que você só aparecia nos meus sonhos.

Ele agora se vira e começa a falar olhando diretamente para os meus olhos.

   - Sim... Mas você já me conhece, posso parar de me esconder.

   - Ah...

   - Onde está o seu pai?

   - Por aí... - Dou de ombros.

   - Vamos dar uma volta?

   - Não posso... Meu pai pode voltar a qualquer momento.

   - Está bem... Mas você vai ficar me devendo um passeio. - Ele sorri.

   - Pode deixar.

Posso ouvir as vozes de papai e Camilly.

   - É melhor eu ir...

   - Tudo bem... Até mais, Ally.

   - Tchau.

Desço a pequena colina em direção ao carro.

   - Não quero mais falar sobre isso. - Papai grita batendo a porta do carro.


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   - Ally, tem alguém querendo te ver. - Acordo com papai batendo na porta do meu quarto.

   - Está bem... Desço em 5 minutos. - Grito, ainda grogue de sono.

Me levanto e vou até o banheiro, escovo os dentes e troco de roupa. Troco o pijama cafona por um vestidinho rodado todo trabalhado no amarelo. Como Claus disse, eu adoro amarelo. Desço as escadas pensando que Thiago está me esperando, mas viro na cozinha e dou de cara com ele.

   - Claus?

   - Oi, Ally. Tudo bem?

   - O que faz aqui?

   - Você ainda me deve um passeio, se lembra?

   - Eu sei... Mas agora?

   - É... Agora. - Claus sorri. Seus olhos brancos me fitando.

   - Tudo bem... Onde vamos?

   - Talvez ao parque...

   - Está bem. Pai, volto mais tarde.

   - Não vai tomar café? - Papai pergunta segurando uma xícara, que provavelmente tem o seu chá matinal.

   - Estou sem fone. - Lhe dou um beijo no rosto e saio com Claus.

Quando estamos longe de casa, eu pergunto:

   - Como o meu pai não se assustou com as asas ou com os olhos?...

   - Posso fazer as pessoas me verem de formas diferentes, elas me vêem como eu quero.

   - Ainda não entendi...

   - Quando você sonhava comigo, você me via como um fantasma, era por isso que quando você virava eu não estava lá.

   - Tô começando a entender.

   - Fiz o seu pai me ver como um garoto normal... Um Humano.

   - Por que você me fez te ver como um fantasma?

   - Não estava pronto pra você ainda...

   - Pronto pra mim? Como assim?

   - É uma longa história. Depois eu te conto.

Chegamos ao parque _ uma grande área verde com campos de futebol, lanchonetes e um grande lago no centro, onde as crianças nadam animadas _ e sentamos em um dos inúmeros bancos em frente ao lago.

   - Quantos anos você tem? - Pergunto.

   - Tenho 512 anos.

   - O quê? - Dou um grito tão alto que faz as pessoas em volta olharem pra nós. - Desculpe. Você tem 512 anos?

   - Sim...

   - Deve ter sido legal ter vivido em várias épocas...

   - Na verdade, não. - Ele dá um suspiro profundo e continua. - Eu vi as pessoas crescendo, se casando e tendo filhos... Morrendo. E eu continuava ali, parado no tempo.

   - Você se apaixonou, não foi? - Já vi filmes e li livros demais pra perceber isso.

   - Foi. - Ele sorri. - Ela era linda, perfeita... Até aquela noite.

   - O que aconteceu?

   - Foram os Demônios... Estávamos deitados na cama, ela deitada no meu peito como sempre fazíamos. Ouvi um barulho na sala... Eu fui ver o que era... Ela me pediu para não ir... E eu devia ter ouvido ela... - Ele se cala, lágrimas escorrem pelo seu rosto. - Quando eu voltei... Ela estava deitada na cama, como eu a deixei. Cheguei perto e ela estava fria, os olhos abertos com espanto, tinha sangue por toda a cama...

   - Ela estava morta...

   - Tecnicamente, não. Os Demônios levaram a alma dela... Para se livrarem do corpo, o mataram.

   - Por que eles a levaram?

   - Porquê... - Ele se cala, parece bem longe daqui, perdido em seus pensamentos. - Na verdade, me faço essa pergunta todos os dias.

O vento sopra forte, levando as folhas das árvores para longe. Claus olha para o céu que está ficando preto, ele está com uma expressão preocupada no rosto.

   - Parece que vai chover. - Digo.

   - Não é chuva. - Ele se levanta depressa. - Temos que ir.

   - Por quê? - Me levanto. - O que está acontecendo?

   - Demônios.. - Claus não para de olhar para o céu, o vento ficando cada vez mais forte, fazendo as pessoas irem embora do parque.

   - Você está me assustando...

   - Droga. - Ele segura os meus braços e olha profundamente nos meus olhos. - Ally, olhe nos meus olhos, olhe para mim... Não importa o que aconteça, continue olhando para mim.

   - O que está?... - Antes que eu pudesse terminar de falar, uma figura sombria aparece atrás de Claus. A figura usa um manto preto que lhe cobre da cabeça aos pés. - O que é aquilo?

Claus se vira e fica chocado, seus olhos paralisam na figura misteriosa. A pessoa por trás do manto ergue a cabeça, ele tem olhos pretos... Totalmente pretos, cabelos castanhos...

   - Não é possível... - Falo chocada. - Thiago? 

SONHOS (TRILOGIA "SONHOS" PARTE I)Onde histórias criam vida. Descubra agora