Ainda me lembro como nos conhecemos. Era um dia chuvoso, os relâmpagos e trovões tomavam conta do céu. Dentro daquela escola, crianças choravam, pedindo pelos pais. Nós tínhamos 10 anos. Thiago era de outra sala. Devido à forte chuva, a sala dele alagou, então juntaram as salas. Thiago sentou do meu lado... Começamos a conversar... No ano seguinte, caímos na mesma sala, e foi assim que viramos melhores amigos.
Mas agora, vendo Thiago aqui, parado na minha frente, com o manto preto e os olhos totalmente pretos, tudo parece estranho. Ele não parece ser a mesma pessoa.
- Ora, ora... O que temos aqui? - Thiago sorri mostrando dentes brancos.
- O que faz aqui? - Claus se coloca em minha frente.
- Fiquei sabendo que encontrou a Scarlet. Vim dar os parabéns.
- Do que está falando? Por que está desse jeito? - Pergunto a Thiago.
Ele se aproxima, seus pés não tocam o chão... Ele está flutuando.
- Passei anos me escondendo... Perdi o meu tempo aturando as suas baboseiras. Mas agora estou livre. - Ele olha para Claus. - Graças a você. - Ele volta seu olhar para mim. - E a propósito, meu nome é Caleby.
- Do que ele está falando? - Sussurro para Claus.
- Vamos embora. - Claus olha para Caleby com uma expressão de poucos amigos. - Foi bom te ver de novo.
- Pena que não posso dizer o mesmo.
- Segure firme. - Claus me coloca em seus ombros.
- Nossa conversa ainda não terminou. - Caleby grita antes de Claus sair voando daquele lugar.
"Corro pela estrada deserta, minhas pernas queimam. Ele continua me seguindo. Caleby está a poucos passos atrás de mim.
- Você é minha. - Ele grita.
Quando olho para trás, não o vejo. Paro eufórica. Onde ele está?
- Procurando por mim? - Ele aparece atrás de mim, e agarra o meu braço quando tento fugir. - Você não vai a lugar nenhum.
- Me deixe ir embora.
- E porque eu iria fazer isso?
- Porque nós somos amigos. Thiago, me escute...
- Não, agora você vai me escutar. - Ele aumenta o tom de voz e aperta o meu braço com mais força. - O meu nome é Caleby. Passei décadas fingindo ser o que eu não era, fingindo me importar com você... - Ele se cala, parecendo se culpar por dentro, como se tivesse feito algo errado. Ele passa os dedos em meu rosto, acariciando os meus lábios. Sua expressão é de dor e amor.
- Por que está me olhando assim?
- Scarlet, eu te..."
Acordo assustada.
- Calma, está tudo bem. Foi só um sonho. - Claus está deitado ao meu lado na pequena cama de solteiro do meu quarto.
- O que faz aqui? - Não posso deixar de abrir um sorriso.
- Cuidando de você...
- Hum... Que horas são?
Ele olha para o relógio na cabeceira.
- 15h00min. Por quê?
- Só tô perguntando...
Passamos a tarde inteira conversando... A cada minuto que passava eu achava ele mais encantador, principalmente quando o vento soprava pela janela e tocava delicadamente em seus lindos cabelos loiros. Ao anoitecer, ouço um barulho em minha porta.
- Ally, é hora do jantar, amor. - Papai diz com sua voz suave.
- Não estou com fome. - Grito.
- Você está aí a tarde inteira, precisa se alimentar.
- Você deveria ir. - Claus sussurra.
- Não, quero ficar aqui... Com você.
Ele passa as mãos em meu rosto, olho firme na brancura de seus olhos.
- O que foi? - Ele pergunta.
- Tenho medo de quando eu voltar, você não estar mais aqui...
- Não se preocupe. - Ele sorri. - Não vou a lugar nenhum.
- Promete?
- Prometo.
Entro no quarto e me deparo com Claus dormindo em minha cama. Com cautela, me deito ao seu lado.
- Já voltou? - Ele murmura.
- Desculpe, não queria te acordar.
- Está tudo bem. - Ele se senta na cama.
- Você ficou aqui...
- Eu prometi que ficaria. - Ele se ajeita na cama, de modo que ficamos frente a frente. - Quero te dar uma coisa...
- O que é?
- Mas tem uma condição, você tem que fechar os olhos e confiar em mim.
- Eu confio...
- Feche os olhos. - Ele sussurra.
Fecho os olhos pensando no que ele vai me dar. Sei que ele está mais perto, sinto sua respiração em meu rosto. De repente, seus lábios tocam os meus... Lábios doces que abrem os meus, e retribuo o beijo com prazer. Ficamos ali naquela sintonia labial por o que parece horas. Com o tempo, o beijo fica mais voraz... Eu passando as mãos pelos seus cabelos longos e loiros, e ele com as mãos em meu rosto. O desejo crescendo a cada instante. Quando percebo, estamos deitados na cama, nos beijando apaixonadamente. De repente, ele se afasta, e quando abro os olhos ele está em pé ao lado da janela.
- Não posso fazer isso. - Ele murmura sem fôlego.
- Por que não? - Me sento na cama.
- Tem uma coisa sobre os Anjos que eu ainda não te contei.
- O quê?
Ele passa as mãos pelos cabelos, suas asas balançando com o vento frio que vem da janela.
- Sexo é proibido. - Ele sorri.
- O quê? - Pergunto com desespero na voz. Ainda tentando acreditar.
- Não é bem assim... - Ele suspira. - É complicado...
- Acho que sou capaz de entender.
Ele se senta na cama, tentando ao máximo não me tocar. Suspirando fundo, ele começa.
- Sempre que um Anjo nasce é uma loucura. Ele passa por... Batizados, como vocês costumam dizer. O primeiro é o da Proteção, depois vem o da Mortalidade, Beleza, Vocação, Pureza e por último vem a Castidade. Desde pequenos somos treinados... Somos proibidos de ter qualquer relação com os Humanos. Nenhuma relação, nem de amizade... Nada.
- Por quê?
- Porque pra eles os Humanos são sujos e os Anjos são puros. Eu não sei como, mas quando estou com você me esqueço de todos os meus problemas. Só existe você.
E ficamos ali, nos beijando durante a noite. E depois adormecemos... Um abraçando o outro. E pela primeira vez em anos, minha noite se vai sem ser tomada por sonhos.
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SONHOS (TRILOGIA "SONHOS" PARTE I)
RomanceE SE VOCÊ TIVESSE SEMPRE O MESMO SONHO? TODAS AS NOITES... SEMPRE A MESMA COISA... ALLY TEM O MESMO SONHO DESDE OS 10 ANOS DE IDADE... UMA PONTE DE MADEIRA CRUZANDO UM LAGO QUE PARECE SER FEITO DE SANGUE E UM SÍMBOLO. O SÍMBOLO QUE A ASSOMBRA TODOS...