Perda

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     Você já se imaginou chegando em casa depois de um dia cansativo de trabalho e encontrando sua única e amada filha estirada no carpete verde da sua sala de TV com vários remédios encima da mesa de centro? Você correndo até ela e a segurando em seus braços, mas, aos poucos, percebe que já é tarde demais? Roberto também não...
     Era um fim de tarde de uma quarta-feira de verão, Roberto saía do trabalho depois de terminar a primeira etapa de um novo design de carro para empresa Cord. Esse trabalho já estava tomando grande parte de seu tempo, isso e o salário baixo estava deixando Roberto louco para dar um fim ao projeto o quanto antes, e para isso ele ficava ainda mais tempo no escritório pensando em como fazer essa tarefa mais rápido para poder passar mais tempo com sua filha Carla, mas naquela tarde tudo era diferente, ele estava feliz, tinha acabado de terminar a parte mais difícil e agora poderia dar mais atenção para sua filha que já tinha 19 anos e cursava medicina em uma faculdade pública.
     Você deve estar se perguntando o que levaria uma garota inteligente como Carla a tirar sua própria vida de uma forma tão fria, para descobrir os motivos de tal ato devemos voltar algum tempo, quando ela tinha apenas 17 anos.
     Tudo começou numa noite quente do dia 24 de dezembro de 2014, era verão e Carla estava voltando para casa depois de ir a uma festa da qual não conseguiu permissão de seus pais para ir, ela tira seu celular do bolso em busca de saber que horas eram, mas o efeito do álcool em seu organismo estava deixando sua visão turva, o que fez ela levar muito mais tempo do que o normal para perceber que já eram 11 horas da noite, ela começa a apertar o passo já que sua mãe já tinha saído do trabalho e ia passar na mesma rua em que ela se encontrava em alguns minutos já que era o único caminho para chegar até sua casa vindo da cidade, mas sua tentativa de evitar uma bronca falha e ela escuta uma buzina ecoando atrás das suas costas, ela fecha os olhos e pensa "me ferrei", porém quando se vira e abre os olhos percebe que o carro não é o utilitário da sua mãe Jana, ela se aproxima para ver por cima dos faróis e percebe que é o Uno do seu pai, a garota anda em direção a porta do passageiro, assim que entra ela pode perceber que Roberto está chorando, a menina curiosa pergunta:
  — O que aconteceu?
E, entre um soluço e outro, ele responde:
  —Sua mãe; ela está no hospital; o carro dela; bateu; em um caminhão!

Chuvas de VerãoOnde histórias criam vida. Descubra agora