Chuvas de Verão

Férias

     Logo na entrada Carla se sente ameaçada, a festa começou a 10 minutos e Sandra já está descabelada e com um hálito horrível de álcool. Ao entrar todos a olham, parece até que estavam apenas esperando por ela, Carla tem vontade de ir embora, mas como acabou de chegar pensa: "seria muito estranho eu entrar e sair", então, depois de alguns minutos, ela toma coragem e chega em um grupo de pessoas:

— Oi... Onde vocês pegaram os copos?

     Ela até tenta puxar assunto, mas a pergunta foi realmente muito idiota, então uma garota apenas aponta para mesa que está ao seu lado, ela vai até os copos, mas não quer pegar nenhum já que todos estão cheios de cerveja.

     A festa está horrível para Carla, ela não conversa com ninguém nem tem nada para beber, isso está a aborrecendo, então decide tomar um copo de cerveja, ela se levanta e vai até a mesa, ainda que relutante, pega um copo e toma um gole "não é tão ruim" pensa enquanto termina de enfiar o liquido garganta abaixo. Seu organismo, que nunca tinha experimentado álcool, ainda é fraco e apenas alguns minutos depois ela já não consegue mais se manter em pé sem cambalear; ela toma mais alguns copos e se senta no sofá...

     Quando ela recobra a consciência e olha para o relógio não consegue ver as horas direito, então vai indo embora por achar que já está atrasada. No meio do caminho ela tenta ver as horas de novo, demora um pouco, mas consegue notar que já são 11 horas da noite, sua mãe ia passar ali em alguns minutos, mas o carro que para e buzina para ela não o de sua mãe, é o do seu pai.

      No hospital, Roberto fica abraçado à sua filha como se ele já esperasse o pior acontecer. Depois de horas esperando sua esposa sair da cirurgia, um médico vai até a sala de espera e fala:

— Senhor Roberto sua mulher vai sobreviver, mas ficará com sequelas e terá de fazer extensos tratamentos para recuperar alguns dos seus movimentos.

Sem falar nada Roberto começa a chorar, todos ao seu redor o observam com pena, mas não há nada que possam fazer.

31 de dezembro de 2014 – 11° dia de Verão

     Uma semana depois do acidente Carla está com muitos problemas, não foi fazer sua prova de espanhol e terá que ir outro dia para faze-la e, como as férias já começaram, vai precisar esperar até o próximo ano, mas o principal para Carla é que a última conversa com a mãe antes do acidente foi uma briga. Seu pai tirou uma semana de folga para ficar com a filha e, ao perceber a tristeza no olhar de Carla, tenta a animar:

— Vai ficar tudo bem, a gente nunca sabe com quem e quando essas coisas acontecem.

Mesmo assim Carla não consegue para de relembrar a sua última conversa com sua mãe.

     Jana está em coma induzido pois os médicos precisam fazer uma série exames e assim também é mais fácil de mantê-la viva, Roberto passa todas as noites em uma cadeira ao lado do seu leito, Carla vem durante o dia para visitar sua mãe e fica com ela por um tempo.

     Com o chegar das férias e tudo o que aconteceu, Carla precisa mais do que nunca de uma amiga, mesmo achando que não, ela nem tentou entrar em contato com a Amanda, pois não quer ter que explicar para mais alguém tudo o que aconteceu, mal sabe ela que quase todos já sabem, e se ela soubesse disso não teria tanto medo de falar com as pessoas depois do acidente, na verdade se sentiria na obrigação de falar, por que ia evitar muitas especulações horríveis sobre o que e por que aconteceu algo tão terrível com sua mãe. Amanda até sente vontade de falar com sua amiga, mas tem medo de que Carla ainda esteja chateada com ela ou apenas não queira conversar com ninguém, então evita pensar nisso por enquanto.

     Sem muito o que fazer, Carla estuda o máximo possível, ela vai para o terceiro ano do colegial e precisa estudar, mas esse não é o principal motivo pelo qual está estudando o tempo todo, ela está tentando manter a cabeça ocupada com outras coisas para não pensar nos seus problemas. O tempo que seu pai tirou para ficar em casa já acabou e o hospital é muito longe para ir a pé, então ela só vai à noite com seu pai, mas isso é muito cansativo, Carla não tem dormido bem e nem sente vontade de comer, seu pai até pergunta se está tudo bem, mas ela acha que não é nada e por isso não precisa falar para seu pai que já tem muitos problemas.

19 de janeiro – 30° dia de Verão

     Já faz bastante tempo que o acidente ocorreu e Jana já está em casa, mas ela ainda não pode trabalhar e nem fazer algumas coisas, depois que sua mãe saiu do hospital Carla cuidou dela todo o tempo, as duas já eram "melhores amigas", mas, no mesmo tanto que Carla se aproximou da mãe, ela se afastou das outras pessoas, não saiu nenhuma vez durante as férias e nem se quer conversou por mensagem, mas isso ia mudar, as aulas voltariam dali 10 dias e um dia antes da volta as aulas ela tinha que ir fazer sua prova de espanhol, então com tudo isso ela decidiu que precisa voltar a falar com Amanda, para isso ela envia uma mensagem:

— Oi, desculpa ter ficado um tempo sem falar com você, é que com tudo isso que aconteceu eu estava muito ocupada para falar com as pessoas, e ainda tive que ficar com minha mãe as férias inteiras, mas logo vamos ter que voltar a ir à escola e eu vou ter mais tempo para ficar com você.

Carla manda a mensagem e fica esperando a resposta, mas ela não vem.

     Nove dias depois Carla vai fazer sua prova de espanhol, ela estudou tanto que não tem nenhum problema para faze-la. Na escola encontra com a mãe da Amanda, então decide perguntar:

— Oi dona Ana, você pode falar para Amanda me mandar uma mensagem?

— Oi Carla, falo sim, mas a Amanda não te contou? A gente vai se mudar, o Fernando, meu marido, conseguiu um emprego em outra cidade e a gente vai para lá, inclusive eu estou aqui para fazer a transferência da Amanda.