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A caneta preta de ponta fina deslizava sobre o papel de cor amarelada, fazendo traços ora firmes e precisos, ora leves delicados, como fios de ouro. BaekHyun sentia-se em paz àquela hora da manhã, onde o movimento na cafeteria pacata "Le Cerisier" estava mais monótono e calmo que nunca, afinal era uma segunda fria nublada onde os primeiros pingos de chuva anunciavam uma leve chuva costumeira da manhã. Os pedestres na calçada, mesmo centrados em seus passos cabisbaixos, atentavam para o céu ameaçador, alguns verificando em suas bolsas se estavam com o guarda-chuva.

BaekHyun gostava de observar as atitudes daqueles desconhecidos entre um traço e outro em seu papel, gostava de tentar adivinhar o que se passava na mente daquelas pessoas, na maioria com feições infelizes. De fato, desde o seu acidente e todos aqueles meses torturantes em uma cama de hospital que levaram-no para seu estado mental atual, o garoto adquiriu o tal costume de adivinhar o pensamento alheio. Não que fosse um costume bisbilhoteiro ou algo do gênero, mas talvez ele queria ter uma visão do que seria ter uma mente normal, sem ter que anotar em seu caderno de desenhos cada passo que dava e cada coisa importante que fazia, até mesmo os rostos que conhecia por coincidência.

Não estava sendo fácil. De fato, nunca foi, mas agora o inferno estava pior do que nunca.

BaekHyun sempre fora o tipo de pessoa que escondia seus sentimentos e seus pensamentos, com medo da reação das pessoas. Ele de certa forma não se importava com a opinião alheia, óbvio. Mas sabia que era diferente, seu modo de pensar era diferente e seu agir igualmente, e mesmo não demonstrando em rodas de amigos quem realmente era, as pessoas ao seu redor ainda olhavam-no. Ele sabia que não era tão feio, poderia até ser magrelo e ter pernas e braços finos, mas sabia que tinha um rosto apresentável; e depois de refletir tanto, juntando esses fatores, ele começou a se questionar sobre o porquê das pessoas sempre quererem distância dele.

"Será que sou tão inconveniente assim?", ele se questionava.
Porém, depois de tanto tempo se questionando, ele desistiu. Resolveu que deveria deixar assim, e que os verdadeiros amigos apareceriam e o amariam do que jeitinho que ele era.
Ele era magricela, caladão, tímido e envergonhado?
Era.
Mas ele sabia que tinha algo mais. E em um certo dia (que ele considera um dos piores de sua vida), ele foi agredido dentro do vestiário masculino de sua escola por outros garotos, que gritavam ofensas como "viadinho" enquanto espancavam sua barriga e costelas, junto com murros e tapas no rosto.

Então era isso. Finalmente tinham descoberto sobre a sexualidade do garoto.
E o preço que teve que pagar por querer continuar assim foi alto. Na época, o garoto se culpava por ser gay, tinha nojo de si mesmo e repudiava qualquer sentimento que sentia quando presumia que estava sentindo atração por outro garoto.
Mas atualmente ele tinha a plena consciência que esta era sua escolha, e que ele deveria sentir orgulho de ter passado por tudo aquilo para chegar até onde chegou.

Porém as consequências foram muito além do que esperava. Muito, mas muito além.

Mas isso é uma história que não será contada agora. Vocês verão.

– Yah, BaekHyun! Venha me ajudar aqui, por favor!

A voz de seu melhor amigo KyungSoo ressoava dos fundos da cafeteria, fazendo BaekHyun despertar de seus pensamentos e largar a caneta que deslizava lentamente no papel. Levantou-se apressadamente e foi até o pequeno escritório de seu amigo, vendo um KyungSoo atrapalhado no meio de boletos, papéis e recibos.

– Aigoo, que bagunça! O que aconteceu aqui? – Baek olhou confuso para todos aqueles papéis.

– BaekHyun, eu preciso que você produza um novo slogan para a loja, e uma nova publicidade também! – disse KyungSoo, dando ênfase – Temo que essa cafeteria possa ir à falência se não trouxermos mais clientes, aí eu e você ficamos desempregados.

|Draw Him| pcyeol&bbhyunOnde histórias criam vida. Descubra agora