O Segundo Dia

23 3 1
                                    

   Ao amanhecer retornei ao Hospital ajudando a transportar quites de primeiros socorros, remédios, comida, armas e munição que tínhamos encontrado em meio aos inimigos mortos. Era pouco para bancar a terrível demanda, pois a comida tinha acabado e a água já estava na reserva. Na verdade havia muita água, mas as metralhadoras dos Navios inimigos não nos deixavam chegar ao Rio Pardo para busca-la; muitos tentaram, mas deram suas vidas por uma garrafa, ou até mesmo uma gota de água.

Terminando a distribuição dos suprimentos fui à procura de Larissa e a encontrei entre as enfermeiras que cuidavam de nossos feridos.

Passamos um tempo nos olhando de longe, vi um brilho em seus olhos seguido de um grande sorriso. Corremos um em direção ao outro e então ela se jogou em meus braços e disse:

- Graças a Deus que você está vivo... Confesso que já estava perdendo as esperanças!

Depois deu um soco em meu peito e prosseguiu:

- Seu idiota! Nunca mais me assuste dessa forma.

- Eu te amo.

E então novamente nos beijamos. Foi maravilhoso sentir novamente o doce mel de seus lábios depois de tudo que eu tinha passado na frente de batalha. Todos nos olhavam, pois parecia que não víamos o que estava acontecendo ao nosso redor, mas nós não nos importamos e continuamos nos beijado como se fosse o nosso ultimo beijo.

Nosso beijo estava perfeito, até o momento em que foi novamente interrompido pelo som da sirene que tocou avisando que aviões se aproximavam.

- Vamos para o abrigo antiaéreo.

- Mas e estas pessoas?

- Que Deus às proteja... Vamos!

Segurei em sua mão e corremos para o abrigo.

Aos chegarmos vimos que estava quase cheio, mas ainda nos coube e assim que entramos a porta de aço de sessenta centímetros de espessura foi rapidamente fechada.

Logo se iniciou o bombardeio, a terra começou a tremer com a força das bombas. De dentro nós ouvíamos os gritos das pessoas que estavam do lado de fora, ouvimos o som das explosões. Areia caia da parte de cima de nosso abrigo, parecia que a qualquer momento iria desabar.

Larissa me abraçou e juntos fechamos os olhos assim e esperamos o bombardeio cessar. Eu me sentia mais seguro em seus braços, me sentia mais calmo e não tinha mais medo, mesmo sabendo que a qualquer momento o abrigo poderia cair sobre nós.

Ao cessar o bombardeio saímos o mais rápido possível. Abri rapidamente a porta e vi o inferno que estava do lado de fora.

Olhei para minha frente e vi que o hospital em que estávamos havia desabado e suas ruínas estavam em chamas. Olhei para minha esquerda e vi vários corpos espalhados pelo chão, várias casas estavam destruídas e as que restaram estavam em ruínas.
Olhei para minha direita e vi que tudo estava em chamas, aliás, a cidade inteira incendiou-se com o bombardeio, quase todos morreram com a rajada de bombas que caíram dos aviões inimigos. Algumas pessoas ainda conseguiram entrar nas trincheiras ou em qual quer tipo de buraco na tentativa de sobreviver, mas foram soterradas.

Já não se podia mais ver o Sol, as nuvens, não se podia ver o céu, pois estava tomado pela fumaça que saia das chamas que queimavam nossa querida e amada cidade. Parecia estar tudo acabado...

Olhei para minhas mãos e vi que estavam sujas de sangue, olhei também para Larissa e vi seu lindo rosto que estava sujo e cansado, não tinha mais brilho em seu olhar e nem sorriso em seus lábios, havia apenas medo.

Então naquele exato momento senti um calor ferver em meu coração e se espalhar por todo o corpo. Me revoltei com a covardia que a Shuri estava fazendo na minha pequena cidade. E naquele momento olhei para os outros soldados e disse:

RIO PARDO Uma história de amor Onde histórias criam vida. Descubra agora