De volta para casa

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Um grande trenó vermelho-cereja em meio ao cobertor de neve, com nove renas mágicas à frente, contadas mais de uma vez, nos aguardava. Nenhuma era igual à outra, mas uma delas, a maior e que ficava a frente de todas as outras, como uma espécie de líder.

- Qual o nome daquela rena? - apontei com a cabeça, praticamente incapaz de descruzar os braços, para ser atingida por mais uma corrente de ar gelado.

- Rodolfo! - respondeu com a voz embargada em alegria, sem motivo aparente. - É um excelente guia.

Ele fez um carinho amistoso em cada uma delas e subiu no trenó. Antes de sentar-me ao seu lado, eu queria fazer uma coisa. O olhei, tomando cuidado para que me fizesse entender, e Papai Noel assentiu, com o sorriso um tanto escondido por trás da barba. Ele estava sempre sorrindo; aquilo não era nenhuma novidade.

Me aproximei de Rodolfo de forma cautelosa, a fim de não assustá-lo, e estiquei a mão em direção à figura altiva do animal, que baixou um pouco a cabeça, para receber o carinho. Era certamente a rena mais bem cuidada do mundo, assim como suas oito companheiras. Seus chifres eram os mais longos e ele tinha o porte maior, como a de um verdadeiro líder, o nariz reluzia uma luz avermelhada, e o pelo, gelado por conta de um tempo frio que não parecia incomodá-lo, era tão macio que parecia desfazer-se em minhas mãos. Antes de me juntar ao Papai Noel, fiz um rápido carinho em todas as outras.

- Coloque o cinto e segure-se firme. - recomendou, enquanto puxava as rédeas.

Andar de trenó se assemelhava a uma viagem de avião, porém era uma experiência muito mais medonha, por assim dizer. Eu tentava não me lembrar que não havia um teto sobre mim ou alguma segurança real. E, além de ser aberto, vale constatar que estava sendo levado por renas que voavam por meio de alguma magia bizarra, já que nenhuma ali tinha asas, e para piorar, nas curvas o trenó se inclinava um pouco para o lado. Como o Papai Noel conseguia levar um saco de presentes ali dentro sem que nenhuma tragédia acontecesse, estava longe da minha compreensão.

O vento batia com total força contra nós, fazendo meus olhos padecerem para continuarem abertos. Por mais que estivessem lacrimejando, me proibi de fechá-los, querendo captar cada momento, para poder ter uma boa história para recordar, futuramente.

Durante a viagem ele foi me contando como trabalhavam diariamente, mesmo estando longe do natal, fabricando brinquedos e preparando tudo para aquela data tão importante, falou sobre a vida no Polo Norte, e também disse o nome das nove renas: Rodolfo, Corredora, Dançarina, Empinadora, Cometa, Cupido, Trovão e Relâmpago, e suas respectivas missões.

*

O dia já estava amanhecendo, o que me dizia que eu estava há mais ou menos seis horas longe de casa, confiando que um tal pozinho mágico protegia meu sobrinho. Já dava para ver meu prédio, uma vez que estávamos diminuindo a altura vagamente. Aquele era o ponto onde a magia acabaria e a realidade me daria "Boas-vindas" novamente.

O grande trenó vermelho pousou na área mais espaçosa da rua deserta àquela hora - o que era um tanto estranho -; os guizos mais silenciosos dessa vez. Afinal, o Papai Noel não deve ser visto antes da hora. É a expectativa que torna tudo mais especial, e não podíamos acabar com ela.

- Eu vou me lembrar desse dia? - perguntei antes de descer.

- Se você acreditar nele...

Então seria isso. Se em algum momento duvidasse daquilo, minha mente daria um jeito de banalizar tudo até que se transformasse em um mero sonho, criativo até demais, devido a uma noite de extremo cansaço.

- Acredite na magia do Natal, Camila. - aconselhou de forma paternal. - Não tente entendê-la, ou explicá-la. Apenas creia!

Balancei a cabeça em afirmativa, parecendo uma criança em sua forma mais ingênua e encantada, desejando que toda a magia fosse real. Eu queria.

Me joguei nos braços dele no abraço mais apertado que já sei em alguém, realizando o sonho da infância, quando eu ainda não duvidava, e ele retribuiu da mesma forma. Era como um escudo protetor, onde eu queria ficar para sempre, mesmo sabendo que não era possível.

- Feliz Natal, Papai Noel. - consegui dizer, e foi essa a gota d'água que tornou o meu dia mais completo. Eu precisava falar aquilo a ele.

Quase podia vê-lo sorrindo enquanto passava a mão por minha cabeça, em um afago carinhoso.

- Feliz Natal, criança. - disse, e sorri também, mesmo com o rosto escondido. - Tenha fé.

Não sei ao certo como começou, mas o sono foi mais forte que eu, e a última coisa que ouvi foi um Ho ho ho seguido pelos guizos do trenó, ao longe.



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⏰ Last updated: Dec 22, 2017 ⏰

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Assistente EspecialWhere stories live. Discover now