Capítulo I -Luckas

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"Os livros são uma boa forma de se esconder das pessoas. E os diários são formas inocentes de conversarmos com nós mesmos. -- Mesmero H.L. Anjens"

"Aonde eu coloquei o meu diário? Será mesmo que ele sumiu no amontoado de roupas do meu quarto?"

Tudo estava jogado no chão como um grande oceano: Cheio de águas revoltas de roupas e ilhas feitas de livros espalhados pelo chão, onde tudo se fundia em um grande paraíso desorganizado. Mas organizado para mim, claro. Só as vezes que algumas coisas se perdiam com certa facilidade, e meu diário era uma destas coisas. Provavelmente está com Malhado.

- Malhado, onde está você? - perguntei revirando as roupas perto da escrivaninha. Logo, escuto um miado familiar. E malhado estava atrás de mim deitado na cama, o coitadinho estava com uma blusa em sua cabeça onde dava para ver apenas por uma abertura o seu olho curioso. - Malhado, você viu o meu diário?

Ele se balançou fazendo com que a blusa deslizasse delicadamente pelo os seus pelos malhados em preto e branco, pulou na estante e em seguida me olhou com os seus olhos verdes penetrantes. Como se já soubesse do que eu estava falando, pois todos os dias era uma luta para encontrar o caderno. Quando me virei para continuar procurando, Malhado começou uma série de miados que me deixou um tanto aborrecido.

-Está com fome, Malhado?- ele estava em cima da estante. Uma ponta verde destacando-se em suas patas, e lá estava o meu diário.

Acariciei os pelos da cabeça de Malhado como agradecimento.

- Obrigado, amigão.

Malhado retribuiu com outro miado, e voltou para a cama cheia de roupas, e se aconchegando entre as blusas de frio. Encarando-me com aquelas órbitas verdes.

- O dia hoje foi tenso, Malhado. Tenho muito o que relatar aqui.

"Olá, pouco amado diário de loucuras.

Hoje, estou melhor das crises de ansiedade, mas acho que minha vida está a mesma coisa desde que comecei a tomar esses remédios. O médico disse que posso ter algumas alucinações ou sono excessivo ao toma-los. Mas sei que é um preço equivalente para quem tem crises de ansiedade e pânico como eu.

Ainda hoje, eu queria conhecer uma pessoa, porém não tive coragem de falar com ela. Sei que por mais que minha mente e meus conceitos digam o que devo começar namorar alguma menina, meu corpo diz que devo ficar com o porteiro da faculdade.

Tudo indica que sou gay, mas o que posso dizer? Meu corpo sempre escolhe por mim, até quando se trata de passar mal. No caminho de volta avistei um casal que se beijava na rua, e pensei como será a sensação daquilo. Me pergunto se terei autoestima para fazer aquilo algum dia.

O melhor para mim é ficar quieto no meu cantinho. Já tenho problemas suficientes em minha vida, e se duvida, pergunte ao Malhado ele sabe dela todinha. Não preciso esconder nada dele. Nem de você, meu diário.

Acho que é melhor eu colocar as coisas no lugar. Amanhã vou arrumar o meu quarto para começar alguma mudança de verdade. Uma iniciativa nova."

Fechei o diário.

Fui dormir pensando quando minha vida iria para a frente, sabendo que ia demorar muito para os meus olhos seguirem para cima da minha imaginação, onde as neblinas das minhas feridas psicológicas, apenas me faziam dormir tão profundamente que o dia amanhecia com velocidade, invés de causar sofrimento.

Os raios de Sol me incomodavam, contudo era o despertador do estômago do Malhado que me fez levantar da cama . A fome do Malhado normalmente me forçava a acordar e colocar comida para ele.

A Armadilha do Anjo (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora