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Um Confronto e Um Recomeço
Curiosamente, o tom de Gottfried não era de censura ou raiva.
Ele parecia apenas interessado em saber por que ela parecia empenhada naquela estranha tarefa. Talvez não entendesse para que aquilo servia ou sequer pensasse que ela teria motivos para se levantar contra ele.
Resolveu não dar motivos para que ele desconfiasse.
— Vendo quais delas posso usar, já que são tão bonitas — ela respondeu, ainda insegura, voltando à atividade. — Se alguma delas for de prata de verdade, teremos uma mancha escura. — Forçou um risinho, explicando: — Não queremos que se machuque.
Ele enterrou o rosto em seu pescoço, como se para sentir seu perfume, e inspirou longamente. Então apoiou o queixo em seu ombro.
— Alguma delas é?
— Não — ela respondeu, neutra, e completou, em tom fingido: — Ainda bem.
Depositou a garrafa de água sanitária sobre a pia e a fechou.
— Ótimo. Vou fechar as porrtas e janelas, e aí podemos dormir.
O beijo que ele depositou no lóbulo de sua orelha deixava claro a duplicidade de sentido do "dormir" e ela segurou a respiração por instinto até que ele se afastasse.
Então pegou uma das joias e a colocou no bolso do jeans — embora não soubesse ainda como tinha adormecido com as vestes do hospital e acordado já com as suas na caverna.
Depois voltou ao quarto e guardou as outras onde as tinha encontrado. Sentou na cama e soltou os cabelos, desembaraçando-os com os dedos. Em seguida, tateou em busca da faca apenas para verificar se estava mesmo por perto, percebendo com alívio que estava ao seu alcance.
Foi quando sentiu o peso sobre a cama e as mãos voltando a encontrar sua pele. Mordeu o lábio inferior, para não esboçar reação, e o permitiu se aproximar, ainda se perguntando como o teria perto e distraído o suficiente para levar o plano adiante.
A resposta pulou logo em sua mente, por mais que a odiasse.
Afastou-o apenas para se acomodar melhor na cama. Sentada de frente para ele, apoiou as costas no estrado e, sem palavras, permitiu que ele mordesse seu pescoço. Ao menos a dor durava pouco, já que ele tentava não machucá-la além do necessário.
Antes que a inércia tomasse seus músculos e a impedisse de agir, Sara enfiou a mão esquerda no bolso do jeans e enrolou-a silenciosamente na corrente com manchas negras em vários pontos. Com a direita, fechou os dedos ao redor do cabo da faca e respirou fundo, buscando ao mesmo tempo criar coragem e encontrar o espaço necessário para sua ação.
Não havia tempo a perder, logo percebeu. Se esperasse demais, o momento de agir passaria e ela estaria à mercê da ira de Gottfried ao vê-la com aqueles instrumentos prontos para uso.
Sem pensar duas vezes, colocou a faca sobre o travesseiro ao seu lado para manusear a corrente com as duas mãos. Respirou fundo de novo e se movimentou rápido. Colou a corrente na parte de trás do pescoço do vampiro e deu a volta quando ele se afastou dela, ao mesmo tempo, assustado e furioso.
Os olhos vermelhos a fuzilaram quando ele finalmente entendeu o que estava acontecendo e tentou se livrar do ardor da prata contra sua pele. Sara segurou as duas pontas da corrente com uma das mãos e usou a que estava livre para tentar cravar a faca no peito de Gottfried.
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Noite Vermelha [COMPLETO]
VampiroSara é uma caçadora de seres sobrenaturais juntamente com o irmão mais velho e o melhor amigo e seus esforços são fundamentais para manter as pessoas em segurança. Mas quando uma antiga ameaça desperta, ela descobre que a tarefa mais difícil é salva...