CAPÍTULO UM: UMA LIGAÇÃO INESPERADA

68 7 1
                                    



THOMAS

(Um ano antes)

Disco os números do pedaço de papel em minhas mãos, em meu celular que minhas netas chamariam de "que ultrapassado vovô, como consegue sobreviver com essa relíquia?" E espero que Molly atenda. Ela anda tão ocupada depois da faculdade de engenharia mecânica, que mal temos tempo de conversar, para ser exatos, no máximo duas ou três vezes por ano, mas mesmo com a distância, eu realmente adoro aquela garotinha, devo dizer, uma verdadeira mulher agora. Molly tem 24 anos, porém, sempre considerei ela muito madura em comparação com os outros da mesma faixa etária que a mesma. Seus cabelos são castanhos escuros e seus olhos são os mais meigos que já vi na vida, parecem duas joias negras preciosas, sempre cintilando, o que combina bem com sua pele alva como algodão.

-Ei vovô! - Ela me atende, me acordando do devaneio -Você me ligando, em? Fiquei feliz em ter feito isso. Estava comendo aquele queijo que adora e estava pensando justamente em você! - Molly diz animada com sua voz doce, ela tem um efeito mágico, porque fico feliz na mesma hora. Dou uma risadinha antes de falar.

- Oi, Molly, minha querida. Consegui finalmente um tempo sobrando para te ligar- digo com ironia. Um velho de 80 anos não tem muitas coisas para fazer, hum? - Como anda a vida na cidade? - Pergunto com interesse.

-Tudo bem... E a vida na cidade pequena? Ouvi dizer que o festival do ovo foi muito legal, tenho saudades desse tempo - Sinto que a voz da Molly está um pouco estranha, soa até melancólica.

-Sim! Abigail ganhou novamente, ela achou alguns ovos impossíveis. Aquela mocinha tem um dom nato para encontrar coisas.

-Abigail? A filha da Carolina? Ela voltou para a Stardew Valley? - Molly pergunta curiosa.

-Ahan, Abigail voltou no começo da primavera, se formou em administração e veio cuidar dos negócios de Pierre. Você sabe né, desde que a aqueles capitalistas, donos do Jajo Cola, os negócios vão mal a pior. Ela é a esperança deles.

-Jajo Cola? Eles são como praga! Aqui eles têm uma franquia em cada esquina, espero que Abigail possa realmente ajudar eles.... Pierre e Caroline tem um coração de ouro, aquele negócio é a única coisa que eles têm- Molly diz preocupada. Realmente eles só têm aquele negócio, não consigo imaginar o que seria deles.

-Tentei ajudar eles, você sabe, comprando sementes e alguns adubos, mas as vezes acabo não encontrando o que procuro e minha única opção é ir ao concorrente. Mas enfim, sua voz soa um pouco para baixo, tem algo para me contar?

-Humm.... Talvez a vida aqui não fosse como eu imaginei, fico tão cansada e sobrecarregada todos os dias que nem tenho tempo para aproveitar o que a cidade tem a oferecer. De qualquer forma, eu tenho um emprego e acabei de encontrar um apartamento ótimo, talvez daqui uns meses isso melhore - Isso soa esperançosa, mas do que jeito que conheço Molly, ela vai remoer isso sempre.

-Oh querida, experiências novas sempre são estressantes no começo, mas se for para ser, você vai se acostumar- Do outro lado do celular, consigo ouvir uma respiração funda.

- É vovô, espero que sim.

-E James? Soube que estão ficando cada vez mais sérios.

-James? Estamos bem.... Quer dizer, quem quero enganar? Ele anda distante, mas sei lá, talvez seja o trabalho também.

-Talvez querida..., mas você sabe que sempre pode contar comigo né? Na verdade, queria te contar algo que descobri hoje.... - Tento não colocar tanto a minha tensão na voz, durante toda a ligação consegui disfarça tão bem, não posso vacilar agora.

-O que descobriu? - Ela soa preocupada.

-Hum.... Bem, alguns dias atrás tenho ficando meio estranho e acabei indo a Harvey, o médico, fiz alguns exames e saiu o resultado hoje- Molly fica em silêncio escutando. - E estou com câncer de próstata, mas espere, não se preocupe, não é nada sério! - Tento acalma-la antes que diga algo.

-Eu.... Como não é grave? É câncer. Eu preciso ir te ver, quem vai cuidar do senhor? - Ela começa a falar de forma muito preocupada.

-Não precisa se preocupar, minha querida. Conversei com Robin e ela pode cuidar de algumas coisas por enquanto, vai dar tudo certo.

-Vovô.... Eu.... Me desculpe por ser tão ausente, eu prometo que quando pegar minhas férias vou cuidar de você e vamos resolver isso, não vai demorar tanto, apenas duas semanas para fechar aqui.

-Não se preocupe querida, de verdade. Harvey disse que vai ficar tudo bem, o câncer está bem no começo, consigo me recuperar com tratamento -Digo de uma forma que Molly possa ficar mais calma. Não podia contar a verdade, que estou agora em fase terminal, as vezes ser um homem orgulhoso e não cuidar da saúde por ser algo "fresco" pode custar caro, eu deveria ter ouvido a minha falecida esposa, Margô. Como fui tolo, Deus.

-Mas você estava sentido dores, isso não é câncer inicial, vovô - Molly não é tão fácil de ser enganada assim afinal das contas.

-Molly, fique despreocupada, está bem? O que é? Não acha que isso vai derrotar seu forte avô, né? - Digo rindo

-Vovô...- Molly me repreende.

- Está bem, está bem. Mas Molly, preste atenção, o que queria conversar com você mesmo era sobre a fazenda, com esse câncer, acabei pensando em coisas como testamento, e conclui que preciso decidir em quem cuidaria do meu velho rancho. Enfim, quero que cuide da minha terra, só confio em você para essa tarefa. Tão honesta e leal, tenho certeza que daria muito certo aqui. Caso queira um dia mudar para algum lugar, tenho certeza que aqui seria perfeito.

Molly parece pensar por um momento- Eu não sei, eu? Sei que sou mais que capaz de carregar algumas toras de madeira, mas cuidar de uma fazenda? - Molly diz insegura.

-Molly, pelo amor! Você é uma das mulheres mais fortes que eu conheço, você conseguiria cuidar daqui com as mãos nas costas, mas não é agora, claro, mas pense com carinho- digo confortando-a.

-Você tem razão, as vezes esqueço das coisas que posso fazer.... Vou pensar sim.

Ouço Robin abrindo a porta da frente e vejo seus cabelos ruivos caindo em seus olhos quando ela se inclina para me ver da porta. Aceno para ela e aponto para o celular, dando a entender que estou no celular e já falo com ela.

-Molly, querida. Tenho que ir, preciso falar com Robin, te ligo outra hora?

-Claro, vovô. Vou pensar com carinho- ela diz animada- Obrigada por ter ligado, fiquei muito feliz. E também, obrigada por acreditar em mim, sou muito grata, de verdade. Te amo muito, por favor, se cuida.

-Claro que acredito! Eu também te amo muito, se cuide viu? Até outra hora.

-Vou sim, até outra hora, vovô. 

Aquela seria a nossa ultima ligação.

Uma estrela de nêutron entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora