Capítulo 5

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Lembro desse dia como se fosse ontem, foi o dia seguinte da transa com Zoe, ela ainda não me destratava, parecia que estávamos juntas, talvez até de mais. Claro que não liguei para Jason, ele estava me procurando ou fazendo sei lá o que.
Estávamos prontos para as férias, o ano letivo começava em setembro. E íamos antes para deixar as coisas em ordem, ver com quem ia dividir o quarto, essas coisas.
Era uma manhã fria, acordei as 5 horas da manhã e como não pensava em outra coisa além de Zoe, fui correr. Enquanto me alongava no campo, Cristina chegou por trás de mim.
-Bom dia Grey. -sorriu.
- Não é legal, assustar as pessoas. -dei um sorriso.
- Que foi, achou que era Zoe? -perguntou.
-Talvez... -respondi.
- Vocês estão juntas? -perguntou Cristina séria.
- Vamos só correr.
E sai percorrendo o campo, ela veio atrás de mim.
- O que foi? Cansou de comer todo mundo Cris? -perguntei.
-Bell... -começou.
-Que foi? -perguntei parando. – Eu só fui mais uma não é mesmo? -ela me encarou. -Não signifiquei nada para você?
-Bella, por favor.
- POR FAVOR. -gritei- Como você consegue mentir para mim? Esqueci que era só sexo, e quando decido ficar com outra pessoa, você age assim, estou fazendo igual a você.
- Sou eu que estou mentindo? -perguntou.
- Não estou com Zoe, e nem com Jason, não fico com ele já faz...
- O que? Sua última transa com Zoe? -perguntou.
- Cristina, você nunca se importou lembra? Quando comecei a ficar com ela! Você não ligou, você não ligou quando disse que estava confusa e disse que podia pegar quem quisesse.
- Você queria o que? -perguntou Cristina. – O que você queria que eu falasse? Que eu estou apaixonada por você?
- Se é o que você sente, me diz -pedi.
-Eu amo você Bella e nunca vai ter outra menina como você na minha vida. Mas desde que ficou com Zoe, não sei se é isso o que você quer. Se é a mim...
Estava confusa, girava tudo ao meu redor. Foda-se a menina de cabelos ruivos. Então cheguei perto dela, segurei em sua cintura e a puxei, e a beijei. O beijo foi devagar e era intenso. E acabou com um sorriso.
-Você pode esperar? -perguntei.
- Esperar? Sim, Bella.
-Prometo que vou ser menos confusa. -falei.
- Ai não seria você.
Voltamos a correr e logo depois entrei no time de futebol. Cristina como atacante, e como sempre eu era zagueira. O jogo correu bem, com algumas faltas e chances para os dois times, que marcou 3x1, sim, ela era muito boa. O jogo acabou e ainda estava no campo, treinando o meu chute com a goleira, Cristina se juntou a nós, se posicionamos de frente para o gol, tocava para ela e ela chutava, a goleira defendeu. Cristina tocou para mim, e fiz gol, ela sorriu e bateu palmas.
-Ótimo Grey.
Passamos uns 40 minutos assim, até que vi o tempo ficar nublado, o sol entre as nuvens. Típico do Oregon. Naquela sexta, haveria uma palestra sobre as mudanças feitas na faculdades, sobre grupos de apoio, e tudo mais.
Cristina me pediu para ficar, ia se iniciar o outro jogo (ela precisava treinar tanto as titulares, como as reservas, então esse jogo era com as reservas). Antes do jogo começar, fui até a cantina ao lado da piscina e comprei um sanduíche e um suco. Sei que para jogar, preciso comer.
“Alimentada” pensei. OK, vamos jogar. Voltei ao campo e dividiu-se o time, como sempre fiquei no mesmo time que Cristina, ela sorria para mim, sempre que podia. Aos 35 minutos do 1° tempo, marcaram pênalti ao nosso favor. Corri até o outro lado do campo.
- A falta é sua Grey. -mandou Cristina.
- Cris, deixa outra pessoa.
- Falei com o time quando você se ausentou que íamos alternar quem vai bater a falta, e é você. -Falou Cristina, o resto das meninas concordou.
- OK, sendo assim.
A juíza ia apitar, me posicionei para cobrar o pênalti, quando ela apitou, chutei com o pé direito para o gol. E EU MARQUEI???
SIM, eu marquei. As meninas me abraçaram, e Cristina me deu um selinho, dei um tapa na sua mão, e ela riu. Sorri, e observei que alguém na arquibancada, ao meio de alguns aplausos, estava Zoe. Prendi a respiração, droga, droga, droga. Ela me encarava e olhava de cara feia, droga, o que a Cristina fez? 
O jogo recomeçou e o final do 1° tempo foi tranquilo, saí do campo e Zoe me aguardava, com sua cara fechada.
-Bom dia. -falei.
-Bom dia, sério? -perguntei.
-O que foi? -devolvi a pergunta.
-Eu vi o beijo Isabella, você acha que sou idiota? -Zoe me encarou. – E foi você que beijou.
- Você sabia desde do começo da Cristina. Você terminou com a idiota da Bonnie e eu terminei com o Jason, ele quer voltar e eu disse que não, agora com a Cristina...
-Claro, você pode agarrar ela a hora que você quiser. -falou.
-Você sabia desde do começo, sobre ela. Pelo amor de Deus, eu estava com Cristina desde que o Jason começou a fazer aquelas coisas. -revirei os olhos.
-Eu sei. Você a ama? -perguntou. Ela tirou seu maço do bolso, e acendeu seu cigarro. Ela fazia isso quando estava nervosa, e parecia que deixei ela muito nervosa. Ela vestia seu uniforme de vôlei, como ela ia jogar daquele jeito? Na verdade, nem eu sabia como ela se aguentava do jeito que ela fumava tanto.
-Não sei, me deixa pensar.
- Pensar no que? -Zoe levantou a sombrancelhas.
- Zoe, olha só, eu amo você, ok? Talvez eu nunca amei alguém assim, isso acaba comigo, me falta o ar. Mas você precisa saber que não posso magoar outras pessoas desse jeito. Me importo com Cistina, e ela estava comigo, quando você estava lá com a Bonnie, fingindo que eu não existia.
Ela me olhou com um olhar triste. Droga, fui longe de mais. Mas ela precisava saber, se ela se incomodava tanto com quem eu beijo, ela não deveria ter feito as coisas que fez.
-E você estava com Jason. E não está feliz.
- Com ela estou. Você não queria estar comigo lembra? Mas com ela é diferente.
- Porquê?
- Porque eu sempre te amei Zoe, você sabe disso, e preferiu fazer aquelas coisas. Esfregar sempre que estava com ela, e o que eu podia fazer? Você a escolheu. Isso mesmo, você me deixou sem escolha. Mas preferi ser sua amiga. E você fingiu que eu não existia, eu sou seu plano B, C, D? Você escolheu ficar com quem quer fosse. E tive que lidar com isso.
Zoe abaixou o olhar. As meninas já estavam no campo, para começar o 2° tempo. Quando olhei para ela, ela estava com lágrimas nos olhos.
-Preciso ir. -Dei as costas  e segui para o campo, Cistina me olhava, então sorri. Ela sorriu de volta. Me partia o coração ver Zoe chorando, mas era a  verdade, ela podia estar com quem ela quisesse, mas eu queria que ela me escolhesse. E eu passei a ser uma opção.
Tentei tirar esses pensamentos da cabeça. O jogo começou, o time oposto estava indo para cima com tudo, mas mesmo assim conseguimos marcar outros gol. Os minutos se arrastavam, com elas vindo para cima, aos 45 minutos do 2° tempo, havia um escanteio há favor delas, uma das jogadoras bateu com o pé direito, e consegui tirar com a cabeça. Elas estavam tentando novamente, mas a juíza apitou. Fim de jogo, 2x0
Sai do campo, de mãos dadas com Cristina, fomos ao vestiário e nos trocamos, quando voltamos as meninas reservas estavam treinando, claro que a capitã tinha que ir lá auxiliar. Cristina me deu um beijo na testa e foi se juntar a elas. Na grade estava Zoe, ela estava com um olhar perdido, seus olhos inchados, ela apagou o cigarro quando me viu. O cabelo estava caindo pelas suas costas. Ela me olhou assim que me aproximei dela, e abriu os braços.
Dei um abraço apertado nela, ela me pediu para acompanha-la até a quadra, mas precisava desembolar a minha cabeça primeiro. Deixei ela na quadra e me virei para ir bora.
-Grey. -chamou Zoe.
- O que foi? -perguntei.
-Eu sempre amei você e só não fiquei com você antes, porque nunca fui suficiente. -E desapareceu de vista. 
                             ***
O que estou fazendo? Essa é a pergunta certa. Olivia era uma mulher incrível, e gostava de mim e Cristina, bem seu jeito de ser. Acho que não falei dela o suficiente, então vamos lá. Ela era incrível jogando, é impressionante, mesmo com meu sedentarismo, jogava bem, mas ela, nossa. Não tem  para ninguém com ela no campo. Sorrio ao me lembrar disso, ela era uma mulher forte.
Lembro várias vezes de pessoas comentando nas costas dela o quanto ela era bonita, só que ela era negra. Sim, que estúpido. As pessoas falavam que ela era bonita de mais para ser negra, que o lugar de onde ela vinha tinha drogas, e tudo mais. Sorte que ela nunca se abalou por passar por esses problemas, pelo contrário. Se tornava mais forte ainda. Por mais que recebesse olhares de ódio por ser negra, ainda sofria com mais ódio por ter a pele que ela tem. Em todos os momentos que estávamos juntas, falava o quanto ela era linda, para ela se sentir bem com o próprio corpo.
Disso entendo, se sentir bem com próprio corpo, se sentir bem na própria pele. Esse era o complicado, se sentir bem, com uma pessoa do seu lado dizendo o quanto você era estúpida, adiciona isso mais uma mente que gritava o tempo todo o quanto você era insuficiente. Cristina sabia o quanto me sentia assim, e falava o quanto eu era linda, que precisava me amar, e tudo mais.
Ela me conhecia ou achava que conhecia. Mas ela nunca parou de ser ela mesma, nem quando ela entrava na loja e ninguém a atendia, ninguém achava que ela tinha dinheiro, e saia com um dos tênis ou chuteiras mais caros da loja.
Nada disso a afetava, nem as meninas que ela comia e não ligava no dia seguinte. Pelo o que aparentava ela só precisava de mim. Me dava o que quisesse, mesmo em um dia chuvoso, quando queria tomar sorvete, ou comer alguma coisa. Lá vinha ela com o sorvete ou com qualquer coisa que queria. Não media esforços para me agradar. Ela precisava de mim, ela dizia.
E eu? Precisava de mim mesma, mas nunca enxerguei isso.
   

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