Elízia

Audácia dos corvos

O olhar vitorioso de Elízia assustaria qualquer um que ousasse presenciá-lo, rapidamente seu coração se preencheu com a sensação de dever cumprido, ficou hipnotizada pela forma que as chamas dançavam ao som dos estalos da madeira, mesmo que friamente ela se sentiu feliz por dentro, seu pai poderia descansar feliz.

Para sua infelicidade, um estrondo surgiu dos fundos do barraco, Iago com dificuldade conseguiu escapar com o braço ainda em chamas. Frustrada a garota corre para não ser vista, sua chance havia passado, mas não a vontade de vê-lo morto!

15 anos depois...

Um anúncio exposto no centro da cidade se destacava frente aos outros: "Show exclusivo de Dirla, a rainha da voz passa por aqui! ". Curiosos se amontoavam para juntar os panfletos do show, todos estavam intrigados com a novidade na cidade, certamente o teatro iria vender todos seus ingressos. De volta à cidade Elízia percebe o movimento agitado em volta dos cartazes e pegou atenta um dos panfletos distribuído e rapidamente desaparece na multidão.

Além dela haviam outros olhares admirados, as mãos finas de Lino escorreram por toda a extensão dos panfletos que foram lançados ao chão, admirava com detalhes as palavras e imagens contidas naquele pedaço de papel. Seu fascínio pela arte musical era facilmente percebido, por onde ia carregava consigo seu pequeno violão branco, continha alguns riscos acidentais, porém era muito preservado, pertenceu a seu avô Augusto.

Por um período Lino ficou por lá na esperança de encontrar com a artista mencionada nos cartazes e panfletos, seu sonho poderia ser realizado com seu apoio. Quando se perdia em seus pensamentos e devaneios seu pai chega até ele e o chama. O garoto não ensaiou meias palavras e já disse sua vontade.

_ Papai quero assistir ao show da Dirla, quem sabe ela não goste de mim e deixe que eu participe de sua banda!

Sorrindo o pai passa a mão sobre a cabeça do filho e observa o panfleto.

_ Show de Dirla, a rainha da voz! Te prometo que iremos.

O menino apressou o pai, estava ansioso para chegar em casa e treinar algumas notas e acordes novos, queria impressionar ao máximo Dirla para que ela notasse seu talento.

Dirla desfilava em um enorme carro a convite do prefeito, após trocar algumas palavras ele a convida para visitar a escola de música da cidade, ela se sente lisonjeada por tal atitude vinda de uma autoridade tão importante e aceita, jamais havia sido tão reconhecida assim.

Ao visitar a escola seu rosto fino e delicado se destacava frente as outras pessoas presentes lá, sua voz calma trazia conforto aos ouvintes presentes, após perceber a boa recepção que teve a moça resolve passar seus dias na cidade frequentando a escola. Lino todos os dias treinava seus estudos na escola, quando estava com seu violão era seu momento de lazer, ao vislumbrar uma sombra esguia a sua frente, ele volta seu olhar em direção a porta e percebe que Dirla estava ali. Rapidamente seus batimentos começaram a acelerar, sentia palpitações e suas pernas não o obedecia, estavam trêmulas, mesmo com o rosto pálido e com o nervosismo aparente ele vai em direção a linda moça de cabelos curtos e negros.

A aparência do garoto chama a atenção da cantora, seu pânico ao estar em frente a ela era percebido por todos. Lentamente ela abaixa até que seus olhos estivessem na mesma altura que os do garoto, seus olhos claros quase brilhavam ao perceber que estava diante de um admirador. Uma coragem súbita surge no peito do garoto, então reuniu o resto de palavras que lhe restava e direcionou a ela sem desviar o olhar.

_ Eu quero ir ao seu show e vou um dia tocar na sua banda!

Dirla ficou surpresa com a inocência da criança e ao mesmo tempo com sua audácia, soltou um sorriso, sorriso esse que intimidou o garoto, não sabia ao certo se ela sorria por alegria ou por abuso, ao tocar o rosto do menino ela percebe que seu rosto começa a corar aos poucos, suas bochechas ficaram coradas e cada vez mais avermelhadas.