take me with you | capítulo único

112 14 12
                                    

I hear your heart beat to the beat of the drums

Sextas-feiras eram incríveis. Não apenas por serem o último dia da semana em que é preciso acordar cedo e aguentar horas sentado em uma cadeira dura, às vezes quebrada, ouvindo professores falarem sobre coisas que vão ser completamente esquecidas em dentro de uma semana, enquanto se está rodeado por pessoas que não podiam se importar menos com a sua existência e com as quais você também não se importa muito. Sextas-feiras eram o dia em que eu podia passar a tarde inteira sem me preocupar com nada, apenas com o som das baquetas atingindo o tambor.

E hoje é uma sexta-feira. E em cinco minutos toca o sinal para que todos possamos finalmente sair.

Eu ouvia meu pé batendo ansiosa e involuntariamente contra o chão, provavelmente perturbando alguém sentado perto de mim.

Olhei para o lado, Luke estava digitando alguma coisa no seu celular, provavelmente conversando com alguma garota da qual ele vai se esquecer em um mês. Michael estava com a cabeça apoiada no ombro dele, quase dormindo.

Se ele fosse dessa sala, talvez eu não ficasse tão ansioso toda sexta. Mas faltavam apenas quatro minutos para que eu pudesse vê-lo.

Comecei a guardar o meu material lentamente. Talvez, se a última aula do dia não fosse geografia, a espera não parecesse tão interminável.

Faltava agora menos de um minuto para eu poder ouvir a voz dele. Quinze minutos andando até a sua casa onde eu poderia abraça-lo e beija-lo sem me preocupar com olhares que julgam ou famílias conservadoras

O sinal tocou e eu fui um dos primeiros a sair da sala. Eu tinha que encontrá-lo na frente da escola.

Quando eu localizei seus cachos castanhos esperando por mim na calçada pude sentir meus lábios se abrirem em um sorriso.

Eu estou tão apaixonado que chega a ser patético.

— Oi — eu disse parando ao seu lado.

— Oi Cal — ele sorriu, eu amava as covinhas que apareciam sempre que ele fazia o gesto.

Nós andamos lado a lado durante o percurso até sua casa. Eu odiava que os pais dele, e os meus também, tivessem amigos por toda a cidade pequena. Eu odiava não poder abraça-lo em público com medo de nossos pais nos expulsarem de casa. Eu odiava não ter certeza de como meus pais reagiriam, e mesmo assim, sempre esperar pelo pior.

Mas eu ainda o amava. E amava o som da sua voz, sua risada. Eu amava como ele franzia o rosto por causa do sol forte. Eu amava quando ele passava as mãos no cabelo para afasta-lo do rosto. Eu amava Ashton por completo.

— Ash, já parou pra pensar que esse é último ano no colegial?

— Sim — ele sorriu — nós vamos precisar encontrar uma desculpa que não seja estudar pra podermos nos trancar no meu quarto.

Eu ri, mesmo sabendo que iríamos para a faculdade e que, se tudo desse certo e nós dois conseguíssemos entrar na que queríamos, não seria mais necessário inventar desculpas.

Nós paramos em frente a sua casa enquanto ele pegava suas chaves. No momento em que ele conseguiu destrancar a porta, subimos correndo para o seu quarto.

Ele mal teve tempo de fechar a porta atrás de nós e eu tinha meus braços em volta de seu pescoço.

— Saudades — eu disse deixando um beijo na curva de seu pescoço enquanto ele ria.

Os seus braços envolviam a minha cintura, eu me sentia seguro ali com ele.

— Calum?

Olhei para cima, seus olhos claros me encaravam e eu sentia que eles enxergavam tudo. Que me enxergavam por inteiro,explorando até o fundo da minha alma. E então eu sentia os lábios dele nos meus e ele estava me explorando de forma diferente agora.

As mãos dele passeavam pelas minhas costas e os nossos lábios não estavam mais juntos, sua respiração se juntando com a minha nos poucos centímetros entre os nossos rostos.

— Toca pra mim? — pedi enrolando um dos seus cachos nos dedos.

A força com que ele me envolvia com seus braços aumentou levemente.

— Eu não quero te soltar — ele suspirou, seu peito subindo e descendo contra o meu.

— Por favor? — insisti. —  Só uma música.

Ele se aproximou mais ainda, selando nossos lábios brevemente.

— Eu odeio o seu rosto adorável — ele diz passando uma mão na maçã do meu rosto. — Você tem muita facilidade pra me controlar com ele.

Eu ri alto enquanto ele me soltava e andava até a bateria posicionada perto da parede oposta a cama. Eu me sentei de pernas cruzadas no final do colchão, apenas esperando ele começar.

Observei enquanto meu namorado se preparava para tocar, brincando com as baquetas entre seus dedos. Com um movimento rápido, ele atingiu o tambor e o primeiro som foi emitido.

Fechei meus olhos me concentrando na música que ele tocava.

Eu conseguia visualizar os movimentos que ele fazia, cada posição do tronco, os braços se movendo rapidamente para criar música.

Cada som produzido quando as baquetas entravam em contato com os tambores ecoava na minha mente. O contraste do som dos tambores e pratos parecia integrar o ar e preencher o quarto.

Abri os olhos em algum momento durante a música, Ashton era incrivelmente lindo tocando bateria.

Toda a sua concentração estava direcionada ao instrumento, o cabelo grudado na testa com uma camada fina de suor. Era a melhor visão que eu havia tido a semana inteira.

A música chegou ao final, Ashton guardou suas baquetas e se levantou, afastando os cachos castanhos do rosto enquanto vinha em minha direção. Ele sorria, e eu sorria de volta.

— Você é incrível — eu disse enquanto ele se sentava ao meu lado na cama.

Ele me respondeu com um beijo calmo e, quando finalmente nos separamos, me puxou para ficarmos deitados lado a lado no colchão.

— Como foi o seu dia? — Ele perguntou brincando com a minha mão, ela chegava a ser pequena perto da dele.

— Eu odeio geografia. Odeio mesmo, e eu tenho certeza de que ela me odeia também — reclamei.

Ele riu, eu adorava quando ele fazia isso.

Eu não sei quanto tempo ficamos assim, deitados em silêncio, era bom apenas sentir que ele estava ali comigo, o calor que seu corpo irradiava tão próximo ao meu. Em algum momento Ashton me puxou para mais perto e passou seus braços em volta de mim.

— Um dia eu vou sair daqui — Ashton disse.

— Aonde você vai? — Perguntei.

Minha cabeça estava apoiada no peito dele e ele passeava com a mão pelo meu cabelo.

Eu podia ouvir cada batida do seu coração, eu podia imaginar o sangue fluindo por seu corpo como música que ele fazia fluir de sua bateria. Os movimentos de sistole e diástole como os que ele fazia para fazer as baquetas atingirem os tambores certos na hora certa.

Ashton era bom em fazer música, ainda que a mesma fosse involuntária, algo que seu corpo fazia para mantê-lo vivo e quando essa música parasse, ele pararia também.

E quando essa música parasse, seria como se o mundo tivesse sido desprovido do mais belo som.

— Para qualquer lugar longe daqui, onde ninguém me conhece e eu posso ser eu mesmo — ele sorriu, era um sorriso triste e algo dentro de mim queria gritar que ele merecia toda a felicidade do mundo. — Eu só vou voltar para cá nos feriados, e quando eu convidar a minha família pro meu casamento e eles se recusarem a aceitar que eu não sou hétero, eu vou fingir que fiquei surpreso e seguir com a minha vida.

Por alguns segundos, foi possível que qualquer um que estivesse no corredor do outro lado da porta nos ouvisse rindo.

— Me leve com você — eu disse, quase sussurrando. Eu busquei sua mão e entrelacei nossos dedos antes de olhar para cima, meus olhos encontrando os dele — por favor.

take me with you || cashtonOnde histórias criam vida. Descubra agora