Capítulo 1 - Decepção

490 18 0
                                    

Tá vendo essa garota louca dançando na sala semi-vazia? Pois é, essa sou eu feliz! Mas não liguem, vocês ainda vão ver muito desses surtos.

Mas vamos para o que interessa: Meu nome é Ana Araújo, tenho 24 anos e acabei de me mudar. Depois de morar com minha família a vida toda, decidi que era hora de ser independente. Ok, isso e uma grande desilusão me trouxeram aqui.

6 meses antes


Marcos era meu melhor amigo desde que eu me lembro. Nos conhecemos ainda no jardim de infância, quando a louca da Júlia Linhares me derrubou do balanço e ele foi me ajudar. Crescemos juntos e Marcos sempre me dizia que eu era a irmã que ele não tinha. Sempre me senti protegida ao lado dele, as vezes até demais. Ninguém podia se aproximar muito e ele logo vinha todo valentão 'defender minha honra'. Mas nos últimos anos alguma coisa mudou. Não sei se foi porque todos achavam que tinha algo entre a gente ou se foi real, mas comecei a ver Marcos com outros olhos. E foi quando contei pra abri o jogo que descobri ele sentia o mesmo.

Júlia (a louca do parquinho virou minha melhor amiga depois do incidente) tentou me convencer que era bobagem, coisa de convivência, mas resolvi arriscar. Começamos a sair, mas era muito estranho, já conhecia tudo dele (até demais). No começo era tudo lindo, flores e poesia, mas descobri que Marcos não era tão bom assim. As mentiras começaram. Um dia ia jogar com os amigos, no outro consertar algo na casa de uma tia. Enfim, sempre dava uma desculpa para não passar o dia comigo.

Certo dia ele disse que ia com os pais visitar uns parentes e iria ficar o fim de semana fora. Combinei com a Jú de ir para um barzinho na cidade vizinha, ver gente diferente e, segundo a louca, paquerar um pouco "porque ninguém é de ferro".

O lugar que ela escolheu era bem legal. Uma entrada bem aberta, com mesas espalhadas pelo deck, iluminação fraca e bem aconchegante.

Sentamos logo perto da entrada "para olhar o fluxo".


- Ni, hoje não saio daqui solteira – Júlia disse ao 'varrer' o lugar com os olhos – Tem tanto gato aqui que não sei qual escolho.


Não aguentei e ri do comentário. A Jú era linda, com cerca de 1,60m, magra e com cabelos loiros na altura da cintura, capturava o olhar de todos os homens do local. Trocava de namorado com a mesma frequência que troco a marca dos meus shampoos e toda vez que eu fazia a comparação, ela dizia que era pelo mesmo motivo: depois que acostuma, parece não fazer mais efeito.

Antes de sair de casa mandei uma mensagem pro Marcos avisando que ia pra uma Noite de Meninas com a Jú, mas não recebi resposta. Depois me lembrei que na cidade da tia dele era difícil encontrar sinal de celular.

Logo de cara pedi uma caipirinha, mas deixei claro que ia pegar leve porque precisava aproveitar o fim de semana pra estudar um pouco. A Jú, como sempre já começou com a tequila, depois foi para os drinks mais leves.


- Relaxa Ni, amanhã ainda é sábado e não tô afim de ficar de ressaca sozinha. Ah, esqueci de avisar, vou ficar na sua casa hoje, meus pais saíram e meu irmão tá com a namorada em casa. – falou colocando o dedo na garganta.


- Ai credo, não sei como o Joca aguenta aquela menina – falei lembrando da namorada dele. Menina mais sem sal.  – Ele é um cara tão legal, até aguenta a gente em dias de TPM!!


- Você e essa sua língua preta menina, qualquer dia vai engasgar com seu veneno.


-  Eeeeu??? Imagina, não falo nem metade do que penso.


- Eu é que não quero ler seus pensamentos! Em todo caso, espera um pouco que já volto. Vou até o banheiro e aproveito pra passar perto da mesa daqueles gatos. Vi que um deles não para de olhar pra você.


- Pra mim não, é pra você que ele olha... Sou comprometida e muito feliz. – era o que pensava.


Júlia olhou pra mim e revirou os olhos. – Olhar não é pecado docinho! – e saiu.

Dez minutos depois e essa menina não voltava. Estava quase mandando uma mensagem perguntando se podia ir embora, quando uma Júlia furiosa caminhava em minha direção. Seu rosto estava vermelho acendeu todas as sirenes na minha cabeça: isso não ia acabar bem.


- Pega sua bolsa Ni, esse lugar já foi bem frequentado.


- O que foi mulher, parece que brigou com alguém?!


- Não briguei... ainda. Vamos embora. – falou deixando umas notas embaixo da taça, pegando minha bolsa e puxando meu braço.


Sem entender direito olhei na direção em que ela veio e quase não acreditei. Descendo as escadas, estava Marcos, abraçado com uma ruiva que falava algo em seu ouvido e passava a mão pelo seu peito.

Foi quando meu mundo caiu. Aquele amigo de infância, que nos últimos meses dizia que me amava e queria ficar velhinho ao meu lado, estava me traindo descaradamente. Julia ainda segurava meu braço, mas não puxava mais, só me apoiava, porque a qualquer momento eu poderia cair.

Às Voltas com o DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora