Capítulo 3 - O músico do telhado

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Música: Creep – Radiohead

But I'm a creep, I'm a weirdo /Mas eu sou uma aberração, um esquisito.

What the hell am I doing here? / Que diabos é que eu estou fazendo aqui?

I don't belong here / Este não é meu lugar

I don't care if it hurts / Não me importa se vai doer

I wanna have control / Quero ter o controle

I want a perfect body / Quero um corpo perfeito

I want a perfect soul / Quero uma alma perfeita

I want you to notice / Quero que você perceba

When I'm not around / Quando não estou por perto

You're so very special / Você é tão especial

I wish I was special / Eu queria ser especial.

 

Acordei ao som de uma música muito triste, um lamento de alguém querendo ser especial. Desliguei a tv, mas percebi que o som entrava pela janela, olhei no relógio e ainda eram 2:15 da manhã. Normalmente ficaria muito brava com o barulho a essa hora, meu sono sempre foi sagrado, mas ele parecia tão triste e de algum modo aquela voz tinha efeito em mim. Voltei a deitar, fechei os olhos e me perdi na canção, nem percebi quando caí no sono.

O dia seguinte começou cedo, levantei pra terminar de arrumar a bagunça e esperar pela Jú. Tenho certeza que daqui a pouco ela aparece por aqui pra 'ajudar'. Durante o banho me lembro do músico da madrugada, de onde ele veio? Como ele é? Será que é um vizinho? Mal desligo o chuveiro e já ouço a campainha.


- Essa doida não perde tempo – pensei.


Enrolei uma toalha no cabelo e saí resmungando.


- Não sei porque, mas tenho a impressão de que você vai acampar aqui.


Mas ao abrir a porta não foi minha amiga que encontrei. Acho que o universo tá brincando com a minha cara. Um deus grego lindo, vestindo uma calça de moletom e camiseta branca, estava parado na minha frente.


- Oi! Desculpa te incomodar logo cedo, mas tem uma tal de Júlia chamando no interfone insistindo que é o apartamento de uma tal de Ni. – falou dando um sorriso megawatt, daqueles que poderiam iluminar uma cidade inteira.


- Ah, desculpa. É minha amiga, é tão distraída que deve ter esquecido o número do apartamento. – Respondi, saindo do meu devaneio e olhando nos olhos.


– A propósito, eu sou Pedro, acho que somos vizinhos. Você mudou ontem né?


Minha nossa senhoras das vizinhas desesperadas!!! Não consigo desgrudar os olhos desse sorriso. Nem percebi que ele tinha a mão estendida.

- Ah sim, mudei ontem. – estendi a mão para ele – E-eu sou Ana, a nova vizinha.

OMG já comecei a gaguejar, sempre faço isso quando fico nervosa.

- Uau! Te deixo sozinha por 12 horas e você já encontra um gato assim?!?! – Levei um susto com a voz da Ju vindo da escada.


- Como você entrou aqui??


- Tinha uma senhora saindo do primeiro andar e me deixou entrar. Mas calma, ela falou que só fez isso porque me viu com você ontem e só pra constar: tá chovendo lá fora. – falou e nem disfarçou a olhada no Pedro.


- Ah! E esse é o Pedro, o vizinho que você acordou.


Pedro já esticou a mão pra cumprimentá-la.


- Desculpa te acordar, mas eu jurava que o apartamento dela era o 21. – falou dando aquele sorrisinho amarelo de quem tá arrependida.  Ah tá! Eu não caio nessa.


- Desculpa Pedro, prometo que ela não vai te incomodar mais. Tenho certeza que ela aprendeu qual é o apartamento certo, não é Júlia. – Se olhar matasse, acho que a Jú não estaria mais por aqui.


- Não tem problemas meninas, não ligo de ser acordado assim, desde que sejam vocês a me acordar.


Eu juro, senti minha temperatura aumentar em mil graus. Meu rosto deve estar parecendo um pimentão e, ai meu deus, ainda tô com a toalha enrolada na cabeça.

Levantei as mãos segurando a toalha. – Eh, preciso resolver essa bagunça aqui, a gente se vê por aí Pedro?


- Claro, até mais. Qualquer coisa podem me chamar, a qualquer hora. – e saiu fechando sua porta.

Às Voltas com o DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora