Capítulo 1

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Hell's Kitchen.

Belo nome de merda para uma cidade de merda. E aqui estava eu de novo, tentando recomeçar onde tudo terminou.

Meu pai morreu a seis anos e meu irmão a um. Minha mãe, bem... eu era só uma garotinha quando isso aconteceu. Ela era Médica Militar e morreu durante um ataque enquanto salvava a vida de um soldado.

Meu pai era Comandante e morreu durante um ataque no Afeganistão. Ele e minha mãe nunca foram pais presentes, passavam mais tempo na guerra do que comigo e com meu irmão. Não que eu não tenha sentido a morte deles, isso foi um baque na minha infância e adolescência, mesmo que eu me fingisse de forte. Acho que eu guardava uma mágoa dentro de mim pela ausência deles e isso criava uma casca ao meu redor, não permitindo que eu sentisse. Mas nenhuma morte se comparou a morte de David - essa foi a comprovação que eu estava sozinha.

Meu irmão trabalhava para a inteligência da CIA e morreu fazendo uma coisa estúpida - achando que poderia fazer a coisa certa no meio da podridão que é o governo. Eles o mataram e pintaram uma imagem de traidor e terrorista, alguém que estava tentando vender segredos dos Estados Unidos para os inimigos, mas ele não fez nada disso. David só queria expor a verdade e os verdadeiros bandidos, mas morreu antes de conseguir.

David era o tipo de cara que você daria a vida se o conhecesse; um homem de bem, com princípios que o mataram. Agora ele era só uma lápide no cemitério.

Mentiria se dissesse que não queria vingança, eu queria. Fui embora por isso, porque se ficasse ia mexer nessa colméia e acabar morta do mesmo jeito. Eu não tinha provas, indícios ou qualquer coisa para provar o que falava, tudo que eu tinha era a convicção que meu irmão não era um bandido e que ele irritou pessoas poderosas e foi morto.

Eu, diferente de meus pais, decidi por não seguir a carreira militar. Eu também trabalhava na CIA, mas não matando ou investigando criminosos. Eu trabalhava na parte financeira e meses depois que meu irmão morreu, fui afastada por não estar apta e emocionalmente instável.

Logo depois fui demitida - algo que eu já esperava, afinal quem quer a irmã de um terrorista trabalhando na CIA? Juntei minha frustração e tristeza pela morte do meu irmão e fui em uma viagem sem rumo para a Europa, fiquei lá por um ano até que decidi voltar. Eu não sabia bem porque tinha voltado, mas aqui estava eu, sentada em frente ao túmulo do meu irmão depois de ter deixado minhas coisas no meu antigo apartamento.

Não importava quanto tempo eu estivesse longe, a saudade era esmagadora. Sempre que eu fechava os olhos lembrava dos dele, azuis e sorridentes enquanto fazia uma piada ruim e sem graça, mas que fazia todos rirem por ser ele quem contava.

- Seu idiota... porque teve que fazer isso? Porque teve que bancar o herói? - eu murmurei depois de secar uma lágrima. Eu preferia culpar ele do que a mim por não tê-lo impedido.

O vento frio soprou contra meu rosto, adormecendo minha pele e trazendo folhas secas para meu cabelo. Coloquei a mão sobre a lápide fria, desejando poder abraçá-lo mais uma vez. Tracei o nome escrito nela com o dedo. David Liberman.

- Eu te amo, David. Espero que um dia essa dor passe - depositei as flores no chão e sequei o rosto antes de levantar. Deixei flores no túmulo de meus pais, sentido a mesma dor de sempre.

Eu estava de volta.

___

Duas batidas na porta foi o que precisei dar para ouvir uma bagunça dentro da casa do meu irmão. Eu sorri fraco, lembrando de quando ele estava vivo e eu passava dias aqui com todos eles.

Justo e SujoOnde histórias criam vida. Descubra agora