Capítulo 3

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O salão estava lotado, cheio de figurões e outros políticos. Louisa e seu pai estavam a todo vapor cumprimentando pessoas e posando para fotos, das quais consegui me esquivar com êxito. Seguranças da Anvil estavam parados em lugares estratégicos, todos com escutas e altamente atentos.

O discurso de Stan começou e eu preferi ficar mais afastada ao invés de sentar em uma das mesas lotadas de pessoas que eu tinha visto desde que era criança. Alguns deles me cumprimentaram como oi e abraços, mas eu sentia que era tudo seguido pelo protocolo. Não havia verdade neles.

Eu estava de pé, perto de uma das saídas, ouvindo o discurso e quase ficando cega com os flashes das câmeras que tiravam fotos do Senador.

- As regulamentações que estou propondo não são para tirar certas armas de todas as pessoas, mas para tirar todas armas de certas pessoas - Stan continuou falando, mas eu não estava mais prestando atenção. Meus olhos estavam acompanhando o homem de terno que se movia como um gato por entre as pessoas.

Ele andou pelo salão livremente, mas sempre estrategicamente. Essa foi a primeira coisa que notei nele nessa noite - tirando a impecabilidade de seu terno caro e seu belo rosto. Ele não se moveu, ele rondou. Cada passo era calculado para a segurança, cada saudação analisada. Eu não sabia se era perigoso ou atraente. Talvez os dois. Com certeza os dois.

Segurei seu olhar quando ele me olhou, incapaz de desviar. Ele era uma bela visão, puta merda. Billy não combinava com ele - apesar de ser seu nome social, pelo visto - mas William lhe caia como uma luva. Fino e elegante, assim como ele.

Ele encarou isso como uma abertura e veio até mim. Meu estômago deu uma cambalhota nervosa e eu me xinguei por estar me sentindo como uma garotinha de quinze anos quando ele parou ao meu lado, próximo o bastante para que seu braço escovasse contra o meu quando ele ajeitou o nó impecável de sua gravata.

Tentei prestar atenção no discurso, mas ele estava bem ali ao meu lado, maravilhoso e perfeito, exalando um perfume divino. Eu não acreditava nesse negócio de atração fatal ou destinos cruzados, mas essa tensão na barriga que eu estava sentindo quando ele ficava perto de mim me desconcertou. Possivelmente pela minha falta de sexo.

- Confesso que dado ao tamanho dessa cidade, passei a acreditar no destino depois de hoje - sua voz rouca e aveludada tomou conta de mim sem nenhuma resistência, o que me fez perceber que eu gostava de ouvi-la. Que merda, Ivy.

- Eu costumo chamar esse tipo de coincidência de azar.

Os lábios dele esboçaram uma leve centelha de humor, mas, à parte isso, o seu rosto era perfeitamente sério.

- Uma ex-integrante da CIA com porte de arma permitido sendo parte da família de um Senador anti-armas? Que ironia - comentou roucamente, seus olhos varrendo o salão.

Eu ri pelo nariz, sabendo que ele deve ter se esforçado para saber dessa informação e mesmo sendo bizarro alguém perguntando sobre mim por aí, eu não liguei, afinal quase todos daqui sabiam disso.

- Você me investigou - constatei o óbvio. Ele riu e ajeitou a escuta em seu ouvido.

- Foi a informação que consegui nessa meia hora - ele jogou um olhar brincalhão, mas como sempre com aquela coisa a mais - Se eu não analisasse quem entra e sai daqui, não estaria fazendo meu trabalho.

Eu dei os ombros.

- É justo - concordei e a voz de Stan no microfone aumentou e algumas pessoas vibraram com o que ele disse - Se tivesse feito o serviço direito, saberia que meu porte não é pelo meu trabalho na CIA. Uma chefe de finanças não precisa atirar em ninguém - eu pisquei para ele, que sorriu, olhando para o chão, mas logo voltando para mim.

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