Melina

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Gisele era governanta da minha família a tanto tempo quanto eu era capaz me lembrar, com certeza devia ter trocado mais fraudas minhas do que minha mãe, já que a própria só era capaz de zelar por sua estética.
Inclusive ela era a responsável por me inserir no mundo dá leitura o qual me tornei apaixonada. No meu aniversário de oito anos me deu presente o livro que tirou a graça de todos os outros presentes que ganhei aquele dia. Por onde quer que procurassem eram capazes de encontrar Melina Rabello entretida com seu exemplar de Le Petit Prince. Minha mãe sempre responsabilizou Gisele por eu ter me tornado o que ela classificava como "CDF de primeira linha", não que eu fosse anti-social, eu era até bem conhecida, e como não? A filha do diretor não poderia passar despercebida. Eu tinha meia dúzia de pessoas que me consideravam amiga e apenas metade disso realmente me tratava como uma, talvez, ser filha do diretor não significava ser um imã de amizades. 
Desci os degraus de dois em dois, e rapidamente fui em direção a cozinha, e nada menos que Alice Vilela Rabello estava tomando seu café como sempre forte sem açúcar, como gostava de frisar.
  -Bom dia, Mamãe!- Disse em vão tentando chamar a atenção dá minha mãe que estava com os olhos fixos  folhando uma de suas milhares de revistas de moda do século passado.
-Olhe, querida, como eu estava deslumbrante nessa capa...-Disse levantando a revista na frente de seus olhos com um sorriso que ia de orelha a orelha- Eu ainda seria muito famosa se ainda tivesse esse corpo, tudo porquê...- Minha mãe se calou, sempre fazendo questão de lembrar que largou as passarelas por minha causa, quando soube que estava grávida, minha mãe nunca se perdoou por isso.
-Bom dia, Mel. -Disse Gisele abrindo a geladeira e retirando de lá um potinho que colocou a minha frente.
-Bom dia, Gisele. Não vai me dizer que é...- Eu disse retirando a tampa, e hmmm, Gisele sempre melhorando meu dia em cem por cento- Obrigada, obrigada, obrigada! Eu amo bolo de cenoura- disse abraçando Gisele.
-Eu sei, né! Agora vá. Seu pai está te esperando.- Disse fazendo sinal com as mãos para que eu saísse logo.
Suspirando me virei em direção a porta.
-Não vai dar um beijo de despedida na sua mãe?-Interrogou minha mãe franzindo as sobrancelhas.
- Claro, mamãe. Se o papai não me matar, nos vemos mais tarde.
-Ah, Melina! Que jeito de falar. Até parece que seu pai é um monstro que castiga pobres meninas indefesas que acordam tarde!- riu minha mãe
-Claro que não! É muito pior, ele é apenas o senhor diretor Charles Castro Rabello- Minha mãe e Gisele prenderam o riso, mas era óbvio que tinham achado graça.
-Seu pai até que está de bom humor hoje...
-Oh-Oh... Então vai sobrar pra mim...-Minha mãe riu, então com certeza iria sobrar pra mim.

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-Desculpa, desculpa. Eu prometo...- já abri a porta do carro dizendo
-Tudo bem filha, só não fique mais lendo até tarde, para não se atrasar.- Disse dando partida no carro.
-Então, ahn, sem castigo?
-Sem castigo!- Suspirei de alívio- Só que... -Eu não disse que sobraria pra mim...

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