Capítulo 01 - Matheus

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O mar de pessoas que entrava parecia interminável. Olhava-as todas, quase sem ver, a procura daquela que disse que viria. Umas estavam sérias, outras, risonhas, outras, xtremamente compenetradas, mas ninguém era ela.

Tentei parecer indiferente e perfeitamente centrado.

- Distraído outra vez, Matheus?

É, pelo jeito, não estava conseguindo. Fixei Maribel, tentando parecer casual:

- Eleniris disse que viria. Fico me perguntando se ela teve algum problema...

- Ou esqueceu. - Provocou ela, sarcástica.

- Às vezes, só às vezes, eu te odeio.

- Eu retiraria isso, se fosse você, porque vim aqui justamente com um recado dela.

Ok, indiferença imperturbável, venha cá, não me falhe agora!

- Um recado dela? Por que não disse isso antes?

- Eu ia, mas você estava dizendo que me odiava, então, não quis interromper.

- Mirabel...

- Não é sempre que a gente pode ver um anjo irritado...

- Mirabel...

- Você devia se ver, quando fica assim, sabia?

- O recado, Mirabel?

- Ah, por quê? Você não se importa mesmo...

- Mirabel, tem coisa de uma centena de pessoas esperando você terminar. Você está interrompendo a passagem.

- Não importa! Estou enchendo você, isso é mais importante.

- Mirabel... O recado.

- Leia a minha mente.

- Mirabel, isso é tão desnecessário...

Fechei os olhos e pus as duas mãos nos seus ombros, até que o fluxo de pensamentos passasse dela para mim.

- Só isso?

- Sim.

- E por que você me fez passar por tudo isso para me dar esse recado?

- Porque eu posso!

Disse, saindo do meu alcance, como se eu pudesse fazer qualquer coisa contra ela. Afastou-se, rindo e acenando, a massa de cabelos escuros balançando ritmadamente enquanto quase saltitava para longe.

- Fadas... Elas podem ser impossíveis! - Murmurei para todos e ninguém, em particular.

Respondi perguntas, ouvi preces, anotei pedidos e a noite escorria como um dia inteiro dos piores  da Terra. Até que, por fim, a aurora ameaçou desenrolar-se no horizonte.

Rumei para a praça, desistindo de parecer indiferente. Estava amplamente consciente da distância diminuindo entre mim e ela, das coisas que não lhe diria, das respostas que não daria e de tudo de importante que não conversaríamos.

Sentada no banco de sempre, lá estava. Linda para além da minha imaginação, um sorriso pronto para se abrir, como flor que fosse tocada pela primavera.

Levantou assim que me viu, mal podendo se conter.

A eletricidade entre nós parecia almentar a cada encontro, e isso não era bom. Não considerando que ela tinha um corpo para o qual voltar todos os dias, enquanto eu... Enquanto eu não tinha. Ser transparente e possuir o dom da ubiquidade não parece lá grande coisa quando você está se apaixonando por uma mulher viva, muito bem viva, a propósito, viva até demais.

TEU AZUL NO MEU VERMELHOOnde histórias criam vida. Descubra agora