Horror

Assassino dos Dentes

   Vitor está com dez anos, é uma criança educada, comportada e muito inteligente. Sente muita falta de sua mãe, que foi assassinada, quando Vitor tinha quatro anos, por um maníaco, que dizem foi preso. Vitor mora com seu pai, em uma casa barata não muito grande, porém o suficiente para duas pessoas.

   O garoto odiava filmes de terror sobre assombrações e seres sobre naturais, não tinha medo disso. Ele realmente gostava dos filmes de maníacos e psicopatas, principalmente os baseados em fatos reais, esses sim o amedrontavam e o deixava assolado, por ser uma coisa tão próxima à ele frente ao fato de sua mãe ter partido assim.

   A escola primária onde Vitor estudava era para ele uma tortura, a não serem os seus amigos Marcos e Carlos, com quem ele trocava idéias sobre os piores assassinos da história, isso os interessava. Eles iam de Ted Bundy á Jeffrey Dahmer. Tinham diversas revistas sobre o assunto, se isso fosse algum tipo de disciplina na escola provavelmente fechariam todos os bimestres com total.

   Todos os dias após a aula, Vitor se despedia de seus amigos e ia para casa, onde acessava fóruns sobre os assuntos que lhe cativava. E após o almoço colocava algum filme na TV á cabo e assistia até pegar no sono. Mas um dia isso foi diferente. Ele ligou a TV e viu que estava passando o filme IT – A coisa de Stephen King. De todos os maníacos esse era um que Vitor gostava muito de estudar, lia fanfics sobre ele e tinha um pôster do palhaço na porta de seu guarda roupas. O filme foi eletrizante como sempre, Vitor não pegou no sono, se quer piscou. Mas logo quando o filme se encerrou começou o jornal. 

   O menino deixou a televisão ligada enquanto buscava seus materiais, para ver se havia alguma lição de casa por fazer, quando o jornal anunciou um assassino que provavelmente apavorou todos da cidade.

   Assassino do dente como é chamado. Já havia matado três pessoas nos arredores da cidade e tinha esse apelido por matar as pessoas e arrancar-lhes alguns dentes, talvez algum fetiche bizarro. Vitor não teve duvida largou tudo o que estava segurando e foi direto para o sofá, onde assistiu avidamente cada detalhe sobre o homem. Segundo o jornal as pessoas tinham sinais de agressão sexual e eram mortas a facadas, provavelmente a mesma faca que ajudava a arrancar a raiz dos dentes a gengiva. O jornal dava também o endereço de um site com mais informações do Assassino do dente.

   Logo, no computador da casa que estava ligado, se abriram duas pop-ups de conversa, uma de Marcos e outra de Carlos, ambos perguntando se Vitor tinha visto a reportagem. Um assassino a solta na cidade dos garotos.

   Vitor parou por um instante e se lembrou de cinco anos atrás, como foi difícil para seu pai contar para o filho que sua mãe havia sido morta e o pior estava tão deformada que o caixão não pode ser velado aberto. Isto lhe arrepiou a espinha. Ele iniciou uma chamada na webcam com seus amigos que logo foi aceita e então ele disse:

- Amigos, dessa vez está acontecendo muito próximo da gente. Acho que devíamos parar de estudá-los por um tempo e nos preocupar com a nossa segurança.

  Carlos completou dizendo que seria melhor não ficarem sozinhos em casa, por isso os garotos combinaram de ficarem todos os dias depois da aula na casa de Carlos até que os pais tenham chegado dos respectivos empregos, e então iria embora, cada um pra sua casa.

   Passaram-se algumas semanas e o assassino ainda não havia sido encontrado. Vitor tinha acompanhado algumas partes do caso do "assassino do dente" e estava estranhamente amedrontado. Até que certo dia, Vitor foi direto para casa, nem passou na casa de Carlos onde tinha combinado de ficar, chegou em casa ligou a televisão e viu passar no jornal da tarde a reportagem que mais amedrontou Vitor, e a reportagem dizia:

          "Uma mulher de 32 anos foi assassinada na noite de ontem, acredita-se ser mais uma caso do assassino dos dentes, pois a mulher além de estar com os membros quebrados, também estava sem os caninos e os olhos, constata-se que a agressão se deu antes da morte da moça, pois estava com marcas de luta."

   Isso abalou Vitor profundamente, pois sua mãe morreu de forma bem parecida ao que havia ocorrido com a moça assassinada naquela madrugada. Sua mãe também tinha 32, estava com os ossos deslocados e tinha um buraco no lugar dos olhos. Vitor chorou bastante até seu pai chegar do consultório onde trabalhava. Abraçou o seu pai e lhe contou o ocorrido.

- Mas meu filho, quantas vezes já lhe disse para não ficar assistindo estas coisas ruins na tevê?- perguntou seu pai retoricamente.

   Na hora de dormir, Vitor estava com muito medo, e pediu seu pai que ficasse com ele até que ele pegasse no sono. Seu pai ficou, sentou-se ao pé da cama e acariciou seu filho.

   Aproveitando que estava ali, fez uma oração:

-Pai, proteja meu filho querido, que nada de ruim possa lhe acontecer. Que sua noite seja maravilhosa e que tenhas bons sonhos.

   Ao final da oração, Vitor já tinha apagado. Seu pai lhe deu um beijo de boa noite e foi para seu quarto. De madrugada, Vitor acordou, ouvia barulhos vindos do quarto de seu pai. Ele se lembrava de ter escutado barulhos no quarto dos pais há cinco anos e tinha ignorado, e assim sua mãe morreu. Correu para o quarto de seu pai e abriu a porta com violência, só havia seu pai no quarto, que no susto que levou com o brusco abrir da porta deixou cair uma caixa no chão. Caído da caixa tinha uma mascara preta, uma faca enferrujada e manchada, alicates cirúrgicos, duas bolas escuras como carne podre, e um punhado de dentes caninos. Vitor arregalou os olhos e ficou paralisado...

   No dia seguinte, Marcos e Carlos assistiram na tevê uma reportagem pavorosa:  

         "Morreu na madrugada de ontem um garoto de dez anos, o pequeno foi brutalmente massacrado sofreu lesões em diversas partes do corpo. Seus dentes foram arrancados, provavelmente mais um caso do "Assassino dos dentes". O pai do garoto Augusto Pereira está horrorizado com tamanha brutalidade e crueldade, e com lagrimas nos olhos faz um apelo: Eu só quero que a justiça seja feita."