"Ouço zumbidos que parecem ser apitos ou alarmes... sinto dor de cabeça... aos poucos tento abrir meus olhos mas eles não me obedecem. Não estou conseguindo reconhecer o lugar onde estou, tento me lembrar de alguma coisa recente, lembro-me vagamente da conversa com Rata
Zana na cafeteria. Não consigo me levantar... estou sem forças... meu corpo não responde aos meus comandos... estou entrando em pânico... O que está acontecendo comigo?"
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Doutor! Doutor!
Despertei e ouvi alguém me chamar. Abri meus olhos e vi um rosto conhecido. – Bernardo o que está acontecendo?
— Doutor, que bom que você está de volta! Estava com medo achando que não iria mais conversar com você. Vamos logo, você tem que sair daqui rápido.
Tentando me recobrar do susto, sem entender o que estava acontecendo e para onde estávamos indo, levantei-me e apoiei-me no Bernardo. E assim fomos caminhando pelas ruas da cidade.
Bernardo é um amigo de infância, sempre esteve ao meu lado em todos os momentos especiais e difíceis de minha vida. Bernardo é do tipo que gosta de ajudar as pessoas, supercompanheiro, sempre pronto e disposto a desenvolver novos caminhos em sua vida.
— Já estamos chegando, doutor!
Ao longe avistamos uma casa feita de madeira, com pintura desbotada na cor verde claro, atravessamos um longo terreno com pedrinhas britas, no qual o mato já estava tomando conta. Bernardo toca a campainha, e em seguida ouvem-se passos vindos em direção à porta, que ao abrir range suplicando por um pouco de óleo.
— Amelie? Você por aqui? O que está acontecendo?
Fiquei mais espantado ainda, o que Amelie estaria fazendo naquela casa? Por que Bernardo me levou até lá, ou melhor, o que aconteceu comigo?
Amelie estava toda vestida de bege, usava uma maquiagem leve que a deixava muito jovial e amável. Em seu pescoço, um colar vermelho com pedrinhas naturais de cor turquesa, deixando-a ainda mais sensual e linda. Desde que a conheço, ela se demonstrou carinhosa e preocupada com os demais.
— Olá Nomia, entre logo, já vamos explicar tudinho o que está acontecendo. – Amelie falou olhando para mim, em seguida desviou os olhos para Bernardo. – Por que demoraram tanto?
— As ruas estavam cheias, ficamos aguardando esvaziar para chegar em segurança. – respondeu Bernardo.
A essa altura, eu ainda não estava compreendendo nada e comecei a ficar desesperado por uma resposta.
— Amelie, o que aconteceu, por que estou aqui? Preciso voltar ao consultório.
— Calma, calma doutor, sente-se aqui, tome um copo de leite gelado. – falou suavemente Amelie.
— Doutor, qual é a última coisa que você se lembra? – perguntou Bernardo.
— Bem, eu estava na Cafeteria Doce Mingau conversando com um policial, melhor, era um detetive, senhor Rata Zana. – Estava me esforçando em buscar por lembranças.
— Nomia, eu estava na floricultura quando você entrou na cafeteria, inclusive estranhei ver você por lá aquelas horas. Duas horas depois, enquanto eu estava preparando um buquê de flores, ouvi uma conversa entre os que estavam aguardando seus pedidos, que me chocou muito. Eles estavam falando que você havia assassinado um paciente, que você dizia coisas estranhas para seus pacientes e eles obedeciam e muitas vezes acabavam se machucando, ficavam doentes, e tantas coisas mais! Eu estava a ponto de ir lá e falar que era tudo mentira. Foi então que ouvi um deles falando que estavam todos se reunindo para prender e dar um fim em você!
"Nesse momento sai correndo da floricultura e fui até a cafeteira ver se você ainda estava lá. Ao chegar eu não o encontrei, perguntei para a atendente se você havia saído, ela me informou que sim, pelos fundos. Então corri pela porta dos fundos, caminhei um pouco pelas ruas, e lá mais adiante visualizei você caído e desacordado. Liguei para Bernardo para me ajudar e colocamos você escondido e desacordado num quartinho nos fundos da floricultura. Bernardo ficou cuidando de você enquanto eu vim arrumar a casa para te receber".
Enquanto Amelie explicava o acontecido, eu estava me sentindo mais calmo, porém muitas coisas se passavam em minha mente, tornando-me mais inquieto do que antes.
— Não é possível que estejam falando isso de mim! Baseados no que estão me chamando de assassino? Pessoal, preciso ir urgente lá no consultório, pois preciso consultar mais informações sobre esse detetive Rata Zana! Ele comentou que já havia sido meu paciente, portanto devo ter alguma anotação sobre ele, principalmente sobre o que o está motivando a armar tudo isso. – falei desesperado, levantando-me para ir em direção à porta.
Bernardo se pôs em minha frente, não permitindo minha passagem.
— Doutor! Você precisa descansar um pouco e não pode ir sozinho lá. Eu irei junto, assim que se recompuser! – exclamou Bernardo.
— Eu também irei. – falou Amelie.
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No divã do doutor Nomia
Fantasy"No divã do doutor Nomia" é uma fábula simples que nos remete a refletir sobre o nosso papel nesse mundo e o quanto estamos abertos a aceitar a mudança em nossas vidas. Doutor Nomia é um psicanalista já experiente e o único em sua comunidade, ele...