Estou um pouco atrasado hoje, acho que deveria ter ido dormir mais cedo a noite passada, mas esse caso não saiu da minha cabeça, passei a noite em claro tentando decifrar os motivos e possíveis origens para tais situações.
Enfim, cheguei ao consultório, ainda bem que dona Ranha já havia chegado e deixado tudo em ordem para mais um longo dia de trabalho. Dona Ranha, minha secretária, está comigo há muito tempo, ela é uma profissional muito organizada e comprometida com suas atribuições, mantendo sempre a clínica impecável e organiza minha agenda de forma muito competente.
Ela foi uma de minhas primeiras pacientes, caso difícil devido a minha pouca bagagem profissional naquela época. Fácil de identificar o quanto ela tem mudado após tantos anos, porém com muitas dificuldades em saber o tamanho dos conflitos encontrados nesse caminho da mudança. Atualmente é mais comum encontrá-la vestida de forma mais descontraída. Hoje ela está vestindo um blazer cinza escuro, camisa preta com colarinho branco, saia justa de cor preta e um lindo par de brincos com minúsculos pontos vermelhos que lembra uma flor.
Por um período eu me questionava como uma mulher formada, viúva, mãe de centenas de fi-lhos, não conseguia fazer algo simples como usar uma peça de roupa que não fosse preta. No início dos tempos, dona Ranha sofria de ansiedade, vi-via metendo os pés pelas mãos, mas no decorrer do tratamento, ela foi se autodescobrindo, possibilitando as coisas acontecerem em seu devido tempo, isso a tornou mais segura e capaz de ter o controle de suas ações e, devido a essa característica, foi contratada para trabalhar comigo.
- Bom dia, doutor Nomia! Pelo visto o senhor acordou atrasado novamente, quer que eu leve uma xícara de leite? - dona Ranha me cumprimentou de forma educada e como sempre querendo me agradar.
- Bom dia, dona Ranha! Sim, mais uma vez estou em cima da hora. Quem sabe amanhã eu chego mais cedo! Deixa o leite para o fim dessa sessão, obrigado.
- Deixarei pronto! Aliás tenho alguns recados para o doutor, nenhum urgente, posso te passar no intervalo.
- Ok. Obrigado. Peça para o paciente entrar, por favor.
Venho chegando atrasado no consultório há muito tempo, correndo como um louco, parece que não estou conseguindo mais ter controle do meu tempo e dos meus afazeres. Recordo-me que, no início de minha carreira, eu chegava bem cedo para organizar o consultório, repassar leitura das conversas anteriores dos pacientes do dia. Naquela época, havia poucos pacientes, hoje mal consigo dar uma lida rápida a respeito do paciente do horário seguinte.
- Dona Ranha, antes que eu me esqueça, a senhora poderia ligar para Pascoalina e ver se ela está bem? Caso não esteja, diga que é importante que ela venha aqui para conversarmos, tente encaixá-la na minha agenda, por favor.
Pascoalina é uma das minhas clientes mais recentes, ela chegou ainda grávida. Ela sabia que estava gerando mais de um filho. Estava com muita ansiedade em relação ao futuro de seus bebês, insegura com o sustento deles e com a condição em que estava passando no momento em sua vida, pois estava desempregada e havia sido abandonada pelo pai de seus filhos.
Já nas primeiras sessões, ela revelou a mim alguns dos pensamentos negativos que estavam assombrando sua mente, estava ouvindo vozes internas dizendo-lhe que não seria capaz de ser uma boa mãe e para não ter esses filhos. Segundo ela, essa voz estava atormentando-a dia e noite e já não estava mais aguentando controlar.
Durante algumas sessões, conversamos muito sobre a maternidade, as forças que uma mãe carrega ao ter um filho. Falamos sobre os meios de vencer os pensamentos negativos e nos sentir mais seguros em relação à vida.
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No divã do doutor Nomia
Fantasi"No divã do doutor Nomia" é uma fábula simples que nos remete a refletir sobre o nosso papel nesse mundo e o quanto estamos abertos a aceitar a mudança em nossas vidas. Doutor Nomia é um psicanalista já experiente e o único em sua comunidade, ele...