Capítulo 2 -Ben-

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Acordo com uma puta dor de cabeça. Coloco minha mão no rosto e sinto meu olho esquerdo inchado. Tenho dificuldade de abrir os olhos, me levanto devagar e vejo um copo de água com um remédio para dor de cabeça e um bilhete ao lado. Pego e leio:

-''Te trouxe para casa. Você deve estar de ressaca, tome o remédio e beba a água. P.S:Dante"

Pego o comprimido e engulo com a água, sinto meu estômago estremecer. Vou na frente do espelho:

-Puta que pariu! -Meu olho está roxo em um tom meio esverdeado. Meu nariz vermelho, com sangue seco que escorre até um corte pequeno na boca, mas que ainda dói muito.

-Boca... -Não me recordo de quase nada da noite passada, lembro de chegar na festa com Dante... Dante! Lembro dele me arrastando pra dentro do carro e alguns flashbacks entrando no meu quarto. Mais nada, minha cabeça lateja quando tento me recordar. Deixo pra lá e levanto, tiro minha roupa que está com cheiro de cerveja e cigarro, vou direto para o banheiro. A água está agradavelmente morna, passo a mão em minhas costelas e sinto uma dor insuportável.

Coloco a roupa de todo sábado, uma calça jeans larga, moletão dos Buffalos, o tênis que não lavo desde que comprei e pra completar, minha touca que cobre metade de meu cabelo ruivo semi-molhado. Saindo do quarto vejo meu pai dormindo no sofá, apesar de ser 11 da manhã. Ele deve ter chegado bem depois de mim, como é de costume. Provável que acorde 2 horas da tarde, coma alguma besteira e vá para um bar de sua coleção. Minha mãe está no quarto trancada no escuro, como sempre.

Abro a geladeira e pego a caixa de leite quase no fim, dou um gole e meu estômago embrulha. Sinto que vou vomitar, mas é apenas a ressaca mandando um recado: "Não beba. Beber mata". Já estou farto deste recado, mas como um menino rebelde, nunca obedeço.

Está nublado e frio lá fora, apesar de ser julho, o mês mais quente de Bristol. Abro a porta e sinto o vento entrar em todos os poros de meu corpo, me fazendo arrepiar. Respiro fundo e tento distinguir o aroma de uma comida que parece estar deliciosa. Me lembro de quando tinha cinco anos e observava minha mãe preparar o almoço na beira do fogão, com o cabelo ruivo em um coque despenteado, ela costumava sorrir. Meu pai sempre sentava na ponta da mesa, lia o jornal e jogava xadrez comigo, ao mesmo tempo. Ele costumava ser um pai. Nós costumávamos ser uma família.

Minha bike está na garagem, mas decido ir andando. Estou entre os 433 mil seres humanos que habitam essa cidade que fica no sudoeste da Inglaterra, ou seja, "interior". Nasci, cresci e continuo em Bristol até os dias atuais, apesar de não ver a hora de terminar o ensino médio e sumir. Não importa para onde vou e nem com quem. Só quero ir. Eu, minha guitarra e a ex caminhonete do meu pai que estou concertando desde o ano passado, em breve seremos apenas nós.

-Dante. -Me lembro de Dante. Não sei o que ele quer da vida. Provavelmente vai terminar o ensino médio, passar em uma universidade famosa e cara. Vai se formar em algo que dê dinheiro, será bem sucedido e terá sua imagem estampada em uma revista de classe alta. Vai ser algo, vai ser alguém. E eu continuarei sendo apenas mais um dos 433 mil, porém em outro lugar do mundo. Tenho vontade de levar Dante comigo, mas não sei como ele reagiria com o novo. Talvez não seja uma boa ideia, afinal ele nunca iria aceitar sumir do mapa com um Zé Ninguém igual eu.

Conheço Dante desde a sétima série, quando o encontrei trancado dentro de um armário. Eu estava na oitava e era o estilo próprio de um vagabundo que não sabe nem o que está fazendo da vida. Dante era um nerd estranho, daqueles que usam óculos e cabelo com gel. Parei de frequentar a escola e tive que repetir a série, se não fosse aquele nerd iria estar na oitava até hoje. Desde então ele me atura e eu aturo ele. Dante é a única pessoa em quem confio. Continuo sendo um vagabundo que não sabe o que quer da vida e ele um nerd menos estranho...

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⏰ Última atualização: Jan 22, 2019 ⏰

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