Ele parou sua bike em um muro qualquer, não se importou ao deixa-la em meio as plantas. Ali, sua vida começaria. Seu irmão estava indo embora e tudo o que ele poderia fazer era correr. E então o fez, correu tão rápido que sentia que suas pernas sairiam do seu corpo.
Envolveu-se com o vento mas, dessa vez, não foi dominado pela suave liberdade que ele sempre causara.
Parte de sua alma havia sido arrebatada há três semanas e meia.Não conseguira dormir desde então. Seu cérebro mal conseguia pensar em outra coisa. Ele tinha que sair daquele país, daquele lugar. Seu irmão havia partido. Nunca havia se sentido tão sozinho desde então.
Um vulto arrepiou-lhe o corpo. Um carro entorpecido prendeu seus passos antes que ele retornasse a si. Preso em meio as sorradas lágrimas que tanto lutava para não derramar, foi incapaz de perceber que já estava distante do meio-fio.
Petrificado. Era a palavra o descrevia naquele momento. Desatou-se em lágrimas e não conseguia parar. Não conseguia andar, e nem sabia se queria. Esperava apenas que os carros parassem de desviar e o acertassem. A saudade foi substituída por uma imensa dor que o pequeno rapaz nunca havia sentido antes.
Dor corrosiva. Sem ninguém, custava crer que até ele mesmo estaria ali.
Tudo que tinha se fora. Seus amores, seus planos. Qualquer um que um dia já amara, se encontrava a um raio mínimo de milhares de quilômetros. Fora tudo tão rápido. Esvaieceu de seu pequeno horizonte.Perguntava se valia a pena todo o esforço que estava fazendo. Seus pais, apesar de morarem na mesma casa, pareciam não existir. Ele já não sabia mais o que fazer, havia se perdido em si mesmo.
Todo o amor que sentia por seu irmão havia simplesmente desaparecido. Não conseguia se conectar com ele. Via-se perdido em um mar de pessoas que nunca iria conhecer.Aos poucos retomou seus pensamentos a bicicleta que havia deixado em meio aos arbustos, que reféns abraçaram-na.
Caminhou cabisbaixo de volta, percebendo que fugir seria em vão. Andava agora, no mesmo caminho que minutos antes correra em desespero.
Avistou a sua última companhia e apressou-se para voltar ao seu colo. Decidiu que fugiria. Aquela noite. Aquela seria a partida para seu novo mundo. Sem sufocar, sem passado. Estava de todo modo só, mas acompanhado da única pessoa que precisaria: ele próprio.Pegou sua bicicleta, tirando todas as folhas que vieram com ela. E permitiu-se observar a parede azul a sua frente.
Sabia que pelo caminho que trilharia agora que aquela era sua última lembrança daquele lugar.Contava as moedas em seu bolso, não se importava com as horas, tempo era a última coisa com que teria que se preocupar.
Sentia muito por deixar seus pais sem aviso algum, sentia muito por ser igual a seu irmão. Mas era a única opção que tinha.
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Agradeço à G. Gasparotto, minha melhor fonte de inspiração, por ter me ajudado a escrever essa história.
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Do meu coração de água para o mundo
PoetryApenas trechos de histórias que nunca vou escrever.