22 ¶ Tentar

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Acordei com o ar fresco adentrando pelas janelas. As cortinas floridas (que Daniel fez questão de colocar) rodopiavam pelo ar. Enfim a estação mais esperada - por mim - tinha chegado, dando começo ao inicio de inverno. A estação mais prazerosa do ano e os ventos gélidos  - que antes invadiam o quarto - davam espaço para a brisa amena e a fragrância das flores. Era outono. A estação mudou, e não somente ela. O ano em breve terminaria, os meses se arrastaram, passaram rápido para as pessoas, menos para mim. Os dias eram sempre como meses intermináveis.

Naquela manhã sentia que o dia precisava ser diferente dos outros. Eu tinha que tentar. Sofia tinha razão, eu não poderia desistir. A vida, as pessoas, Connor, eles também se sentiam presos na bolha deles. Encarei meu reflexo no espelho antes de descer para tomar café; respirei fundo e disse: Não desista.

Desci para a cozinha quando - de repente - ouvi uma voz cantarolando. Meus pés se moveram automaticamente pelo corredor até chegar na entrada da cozinha. Surpreendi-me por encontrar Daniel vasculhando um dos armários da parede. Estava de costas para mim, sem camisa, usando apenas uma calça moletom preta enquanto cantarolava uma das músicas que tanto era apaixonado.

—... se pudiera yo controlar el tiempo y volver atrás, cambiaría todo lo que te hice mal...

Daniel possuía uma voz irritantemente boa. Nossa... como ele cantava bem. Lembro que quando éramos crianças, costumava cantar para mim antes de dormir. O aguardava todas as noites, esperava ansiosamente pela música da noite. Infelizmente entrou na adolescência e conheceu garotas. Isso mudou tudo.

— Você está em casa. — constatei o óbvio.

Se virou para mim, abrindo um largo sorrindo ao me ver. Gostava do sorriso dele, me lembrava muito nosso pai.

— Sim, eu estou. O caso em que eu estava trabalhando encerrou ontem, e adivinha só?

Eu não precisava adivinhar. O sorriso vitorioso que esboçava era a resposta. Rolei os olhos. Por que Daniel tinha que ser tão perfeito?

Você ganhou.

Daniel fechou a geladeira e veio até mim com uma caixa branca com um laço rosa em volta.

— Acho que sim... Pelo menos foi o que o juiz determinou quando deu a sentença final. Isso é pra você. — disse ao empurrar a caixa branca para mim. — Katie mandou te entregar.

— Katie? Ela veio aqui? Quando? — fiz as perguntas, sem pausas.

Desde o jantar não havíamos mais nos encontrado. Sabia sobre seus encontros as escondidas com Daniel, mesmo que se esforçassem muito para esconder. Talvez por isso ela tenha dado um tempo e não tenha ido me visitar, ou tentou me ligar. Daniel sorriu ansiosamente enquanto me esperava abrir a caixa. Mas não o fiz.

— Não vai abrir?

Encolhi os ombros. Eu queria abrir.

— Se ela quer me presentear que pelo menos faça isso pessoalmente, e não mande os namoradinhos fazerem por ela. — falei automaticamente, e quando terminei percebi que Daniel me encarava surpreso.

— Então sabe que estamos juntos?

— Sei que estão saindo. Não sou idiota, Daniel. Esqueceu quem despistava as pobres coitadas que você iludia por aí pela vida? — Daniel sorria desacreditado, então continuei o alfinetando: — Você ficou com a beleza e eu a esperteza.

— Srta. Esperta, abra logo essa caixa que estou morrendo de curiosidade pra saber o que tem aí dentro. — falou, e eu neguei. — Ah, Ame! Se quer saber o por quê ela não te entregou pessoalmente foi porque eu pedi.

Como Não Te Amar? Onde histórias criam vida. Descubra agora