58 | Formatura.

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Você pode limpar suas impressões digitais dos móveis, objetos, mas nunca das pessoas que tocaram. Não se enganem; estar invisível não significa que não está ali. Elas estão. Impressões são como sentimentos, você pode se enganar ao tentar fingir que não se importa e que não está vendo, mas não adianta, elas sempre te acompanham aonde quer que vá e aonde toca. É entrar num ciclo vicioso tentar mentir pra si mesmo ao dizer que não.

Finalmente a noite de formatura havia chego. Foi no inverno, na estação mais fria, na noite mais densa que concretizei um futuro. É engraçado, não? Passamos tanto tempo planejando algo, correndo atrás para que esse ''sonho" se realize e então, basta uma pessoa, um alguém e tudo muda. Seus planos se tornam entediantes se essa pessoa não estiver incluída nele. É uma droga que nosso coração dependa de alguém.

— Como estou? — Sofia perguntou ao meu lado.

Usava um longo vestido rosa bebê tomara-que-caia estilo sereia. O belíssimo colar em volta do seu pescoço com pequenas pedras reluzentes lhe dava um charme. Os cabelos loiros presos em uma trança espinha dorsal.

— Está muito bonita. Você é bonita. — elogiei, sincera. Ela sorriu de frente para o espelho e deu um giro rápido.

— Nem consigo acreditar que hoje deixaremos o ensino médio para trás... — comentou, alisando sua barriga lisinha. Suspirou. — Já conversou com Connor sobre Moscou?

— Não quero falar sobre isso hoje... Tá bom?

Sofia virou-se para mim. O sorriso contagiante em seus lábios poderia facilmente me deixar emocionada. Ainda nem havia ido embora e já sentia saudades dela. Veio até mim e segurou minhas mãos.

— Você também está muito bonita. — elogiou. — Azul te cai bem.

Acho que eu estava bonita. Usava um vestido de alças finas azul cobalto, meus cabelos presos num coque bem feito, uma maquiagem leve apenas para esconder as marcas de expressões, e um batom nude. Nada exagerado.

— É melhor irmos! Não quero chegar atrasada e perder a chance de receber meu diploma. — brinquei entre risos. Sofia rolou os olhos e assentiu.

— Nem se eu quisesse correria o risco de perder. Sr. Belmiro já deixou claro que me quer bem longe da escola. — murmurou, brincalhona. — Ele exigiu que eu me torne uma autora famosa.

Franzi o cenho em curiosidade.

— Falando nisso... Como anda minha biografia? — perguntei em meio a um sorriso empolgante. Acho que essa foi a primeira vez que realmente soei interessada nesse assunto.

— Está ficando ótimo, Ame! Às vezes fico lendo e relendo e nem acredito que são minhas palavras escritas ali, e muito menos que me permitiu entrar no seu mundo e ainda registrá-lo num papel. Nunca vou ter como te agradecer por isso. — Sofia tocou em meu rosto com ambas as mãos. — Não deixe que nada estrague essa noite. Hoje é seu dia. Sua formatura.

— Acha que estou errada por ter brigado com ele? Eu o amo, Sofia, só que esse amor não parece ser suficiente.

Deu de ombros.

— Podemos amar o dobro, o triplo, mas não podemos amar pela outra pessoa. Algumas vezes o amor é uma droga.

— E se eu tivesse escolhido o Scott? Teria sido mais fácil?

Instantaneamente Sofia esboçou uma careta.

— Não me leve a mal, o Scott é legal, por algum tempo vi vocês dois como um casal. Mas, ele não te deixa viva, entende? Connor, apesar de ser um cretino, te faz sentir coisas, te faz sentir viva. E é disso que precisa. De alguém que te mantém viva. — sorriu gentilmente. — Você está assustada, significa que você está se arriscando. É normal.

Como Não Te Amar? Onde histórias criam vida. Descubra agora