70 | Acertos decisivos.

3K 293 88
                                    

Connor Rivers •

Olhando para a escuridão que assombra o quarto, percebo que nos sentimos sozinhos porque costumamos deixar um pedaço da gente em todos que amamos. É errado? Não! É humano. Nós humanos nascemos da costela de um outro alguém, e daí deu-se início a essa sequência.

— Raquel?

Ela me olha por cima do ombro, abraçada ao próprio corpo, cabelos soltos, batendo em suas costas. Parece abatida por uma noite mal dormida.

— Oi, Connor.

Engulo em seco.

Culpa.

A culpa nos consome. Sempre fui o errado na minha história, entrando na vida das pessoas e causando um furacão, e então saindo, ou melhor, fugindo. Mas não dessa vez. Eu não farei isso com ela, com alguém que esteve comigo e me fez sorrir quando tudo o que eu mais queria era desabar.

— Ainda está acordada? É tarde. — digo. Ela me olha, e sorri, disfarçando a tristeza que lhe consome.

Raquel não fica triste, sempre sorrindo, espalhando alegria. É o tipo de mulher que contagia até o mais ranzinza.

— Estive pensando... — inicia. — Lembra quando te perguntei sobre teu passado? Amigos, família.... namoradas.... Nunca me respondeu.

Não me movo. Permaneço estático no lugar, o relógio marcando seus 24 horas e eu estagnado no solo. 1 minuto é capaz de mudar 23:59min do seu dia.

— Porque não é algo do qual me orgulho a falar. — rebato. — Falei pra você que não fui uma pessoa boa. Como presenciou ontem, machuquei as pessoas que eu amava, as fiz acreditar que eu estaria sempre aqui e quando tudo se complicou eu fui embora. Fugir foi a maneira mais fácil de não ter que encarar os olhares decepcionados.

— E valeu a pena? — Raquel aproxima-se com o semblante inexpressivo. — Valeu a pena ir embora e deixá-los?

— Por que está me fazendo essas perguntas, Raquel? — questiono, confuso.

Ela sorri tristemente.

— Você ainda ama muito ela, não é?

É a lei da vida: se vacila com a pessoa certa, a errada te ensina como dói. Raquel me ensinará isso, me mostrará as consequências de escolhas erradas (Não que voltar para Ame seja uma decisão errada). Pra falar a verdade, foi a mais sensata que fiz. Eu faria quantas vezes pudesse mesmo que cada uma delas me tornasse alguém ruim.

Não respondo. Eu quero dizer algo, talvez a verdade, está na ponta da língua, entreabro os lábios na menção de responder mas a culpa... a culpa é uma praga que nos persegue e nos mantém refém.

Caminha até mim e toca em uns fios dos meus cabelos, persiste a me encarar por um tempo, pensativa, presa em suas lembranças.

— Sendo honesta comigo mesma, eu nunca te tive de verdade. Insistindo em vim aqui, no lugar onde nasceu e viveu a maior parte da tua vida, achei que iria te completar. — Raquel desce os dedos até a palma da minha mão. — Acabei te perdendo. Eu já deveria saber que esse dia chegaria... Eu deveria ter aceitado quando disse que não poderia se casar comigo, porque nunca me amaria. Você disse tantas vezes que não poderia me amar... O erro foi meu em não acreditar.

Às vezes, quando se trata das pessoas que ama, não há refúgio. Há apenas dor. Raquel aprendeu isso essa noite, assim como eu.

— Você sabe. — concluo.

— Não sou idiota, Connor. Palavras mentem, olhos não. Vi a forma como se olharam desde a primeira vez, esse tipo de amor não morre, pensei por um momento que poderia competir e conviver com o fato de que ela é passado e eu o futuro. Mas todas vez... sempre que precisou, foi ela quem te trouxe paz. — Raquel engole em seco. — Eu sou nova demais pra sofrer por amor. E tem uns que não vale tanto esforço.

Como Não Te Amar? Onde histórias criam vida. Descubra agora