67 | Atmosfera pesada.

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E o menino nunca mais chorou, e nunca mais se esqueceu do que aprendeu: que amar é destruir, e ser amado é ser destruído. — The mortal instruments.

O quão fundo podemos ir por alguém?

Ruídos. Ouço ruídos estranhos. A janela do quarto está aberta, e lembro-me perfeitamente de tê-la trancado antes de ir tomar banho. Rumo até ela, sendo atingida por ventos gélidos que invadem o quarto silencioso. O céu limpo agora se encontra turbulento, nuvens carregadas anunciam uma tempestade à caminho.

Um calafrio percorre minha espinha, a presença imponente da figura masculina sentada na beira da cama clama por minha atenção. Ombros baixos, cabelos desalinhados, testa franzida, e os olhos... Essas íris... já tropecei e caí em seu abismo. Me machuquei feio.

— Como entrou?

Uma pergunta um tanto estúpida se levar em conta a porta entreaberta do quarto. Se bem que a janela também está aberta.

— Sofia.

— É claro. O que veio fazer aqui, Connor? — pergunto-lhe, indiferente.

Levanta, caminha até mim e eu - por instintos - recuo um passo. O cômodo se torna asfixiante, a respiração pesada, e o coração batendo a mil por hora; se possível.

Ah... maldita saudade que me torna fraca perante esse ser. O tempo foi ainda mais gentil, a beleza exótica, traiçoeira. Denomina tudo com apenas um olhar.

— Conversar.

Sorrio, fria.

— Já conversamos. — o corto. — Precisa ir embora.

Não quero que ele vá. A verdade é que eu quero abraçá-lo, beijá-lo e sentir nossos corpos se fundindo, tornando-se um só, como da última vez em que estivemos na cama. Quero poder ter a certeza de que tudo acabará bem e que esse medo que vem me consumindo irá finalmente terminar e eu poderei dormir em paz, e ao seu lado. Ter química com uma pessoa é pior do que gostar dela, porque não importa o quanto a odeie, quando ela chegar perto, você esquecerá de tudo isso.

Um sorriso singelo se alastra em seus lábios.

O sorriso que me assombrou por muito tempo. Cada manhã, tarde e noite. Posso dizer, ou igualar, suas feições à um trem desgovernado. Qualquer vacilo poderá causar um estrago, um acidente catastrófico que levará ao fim a vida de alguém; nesse caso, minha vida.

— Tinha me esquecido de como é difícil ter uma conversa sensata com você.

Curvo os lábios num sorriso cínico.

— Nunca fomos o sinônimo de tranquilidade. Estávamos mais para... um desastre nuclear. — desdenho.

— Mas por outro lado, as pazes que tínhamos logo após cada briga, compensava. Oh! Como compensava.

— Connor! — o repreendo, arrancando uma alta gargalhada. Não nego ter sentido falta do som da sua risada, do eco que ela emite. É uma melodia sofisticada. Rústica.

— Ainda fica tão linda corada. Há coisas que não mudam. — murmura, singelo. — Senti muito sua falta, Ame. Não houve um dia se quer em que eu não pensasse em você. E acredite, eu tentei não pensar.

Connor sempre foi a tempestade em dia de sol. Poderia estar um lindo dia, aquele sol brilhante e caloroso, o ar fresco e convidativo, era ele chegar pro tempo mudar e o sol desaparecer.

"Não sorria quando estiver com vontade de chorar"

Aconselhou Dr.ª Julia na última vez em que nos falamos na semana passada. Liguei para ela num ato desesperado, confusa e assustada com meu reencontro com Connor, acabei recorrendo a ela. Seu conselho fez com que eu deixasse de camuflar e sentisse tudo - mesmo que doesse.

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