Corro o mais rápido que posso e entro em casa. Para a minha surpresa, minha mãe está sentada no meu quarto, toda arrumada e mexendo em sua bolsa de grife.
"Oi filha. O espelho do seu quarto é maior." Diz se explicando por estar ali. "Estou de saída com umas amigas, volto mais tarde." Ela me dá um beijo na bochecha e sai. Simplesmente sai. Sem notar meu rosto inchado ou se preocupar com o por que de eu estar ali naquele horário, já que tenho aula. Acho que nem os dias que tenho aula integral ela sabe.
Começo a me despir para tomar um banho mas ouço barulhos vindos do andar de baixo.
Minha mãe saiu.
Meu irmão está na escola.
Eu estou ferrada aqui com alguém.Ainda de biquíni me enrolo na toalha e pego meu celular, não tenho a menor ideia de quem ligar quando parece haver alguém subindo a escada.
Merda.
A porta do meu quarto se abre e a pessoa que eu nunca imaginaria ali, aparece.
"O que você está fazendo aqui? Como entrou?" Pergunto com raiva. "Quer jogar mais alguma coisa na minha cara? Está na minha casa, por isso vá embora." Furacão Kiara explode.
"A sua mãe estava na porta e me deixou entrar. Desculpa pelo que te falei. Eu não... Não quis dizer aquilo." Minha mãe deixou um desconhecido para ela simplesmente entrar na casa com sua filha sozinha?
"Olha... Como você mesmo disse no carro, eu tenho que estudar." Com ele ainda na porta, retiro um short e uma camiseta de dentro do armário.
"Já disse que não queria dizer aquilo, me deixou com raiva."
"Eu te deixei com raiva? Sério?" Paro por um momento para me acalmar antes que decida xingar a mãe dele. "Vou tomar um banho e espero que não esteja mais aqui quando sair." Entro no banheiro sem lhe deixar espaço para falar alguma coisa e fico mais de vinte minutos ali, sentada no chão do box enquanto a água gelada batia no meu rosto. Saio de lá vestida e com a toalha no topo da cabeça mas quase voltei para dentro quando o vi na minha cama.
"O que ainda está fazendo aqui?" Bufo em um misto de irritação e tristeza.
"Quero falar com você." Ele está sentado na beira da cama, com os cotovelos apoiados nos joelhos.
Respiro uma, duas, três, quatro, infinitas vezes para manter o pouco de calma que me resta.
"Ok." Sento na cadeira do computador na intenção de manter uma distância segura entre nós e fico me movimentando com a ponta do pé, sem dar muita atenção a ele e no que vai dizer a seguir.
"Eu fiquei puto por causa da ligação que recebi e por que você quis ir embora e acabei falando merda." Paro de rodopiar para olhar a rua pela janela meio aberta do quarto.
"Quis ir embora justamente por que você ficou estranho quando atendeu o celular. Mas não te dá o direito de ser idiota comigo." Respondo seca e sem tirar os olhos da bendita janela.
"Porra. Eu sei disso." Ele se abaixa na minha frente e põe a mão na cadeira, a milímetros da minha perna, para apoiar-se. "Olha para mim." Fico o mais séria que consigo e o encaro. "Eu só fiquei estressado e descontei em você. Desculpa." Relaxo os ombros e penso no que falar.
"Por que ficou bravo com a ligação?"
"Você faz mais perguntas do que consigo responder." Ele ri mas a minha expressão não muda e ele volta a ficar sério. "Gustavo ficou me falando merda por que não fui à escola e tínhamos combinado de sair com um pessoal quando acabasse as aulas de hoje."
"Você está meia hora atrasado." Aponto para o relógio do lado da minha cama e em seguida ligo o notbook, pois sei que não conseguiria ficar muito tempo olhando diretamente a ele.
"Eu não vou mais ir." Dou de ombros e abro a guia do youtube para por uma música qualquer (gosto de estudar ouvindo música).
"Que pena." A primeira música que vejo na home é 'dusk till dawn' e não perco tempo em colocá-la para tocar. Essa é possivelmente a minha favorita do momento.
"Para com isso." Ele aperta a barra de espaço pausando a música e gira a cadeira de modo que fiquemos frente a frente para me abraçar. "Desculpa. De novo." O meu corpo nunca se encaixou tão bem em um abraço como no dele, era confortável e fazia eu me sentir bem.
"Cara, está tudo bem. Você pode sair, eu não vou ficar fazendo um drama em cima disso." Por mais que tenha falado merda, ele já pediu desculpas e eu não faço o tipo que guarda rancor, é muita função para mim.
"Vai estudar o que agora?" Ele senta no pé da cadeira e aponta para os meus cadernos espalhados na minha mesa.
"Física."
"Posso ficar aqui? Não é minha matéria favorita." Aceno com a cabeça, pensando na dificuldade que seria enfiar óptica geométrica na cabeça dele.
As horas seguintes se passaram rapidamente e quando dei por mim já tinha escurecido.
"Chega. É mais conteúdo do que eu consigo absorver por dia." Ele reclama e joga o livro longe. Isso porque jogamos mais conversa fora do que estudamos.
"Ainda estou na metade, mas tudo bem. Acho que com sorte, consegue um sete na próxima prova." Faço uma pausa e ouço minha barriga roncar."Estou com fome." Reclamo e ele ri da minha pequena mudança brusca de assunto.
"Drive-thru de novo ou pizza?" Com a preguiça que estou, provavelmente não saio mais da minha casa nem carregada por isso pedimos pizza.
"Por que mudou de escola no meio do semestre? Aquilo sobre as drogas era verdade?"
"Era. Um carinha lá foi preso e os pais começaram a reclamar, mas eu mudei só para acompanhar a galera mesmo."
"Última pergunta. Juro. Por que não mora com seus pais? Se não quiser responder tudo bem."
"Não é nada demais. Eles viajam muito e não queriam que eu ficasse sozinho. Era isso ou ir morar com algum parente."
"Chegou." Aviso ao ver o entregador pela janela. Calço os chinelos e procuro dinheiro na minha gaveta, mas quando dou por mim estou sozinha no quarto.
"Considere isto como pagamento da sua aula particular." Ele diz quando o encontro no andar de baixo. Pego refrigerante na cozinha e nos sentamos no chão da sala enquanto coloco alguma coisa na tv.
O episódio da série se passa com ele fazendo comentários ridículos sobre como é estranho um vilão se defender com um taco de basebol envolto por arame farpado. Comemos uma pizza de 6 pedaços inteira e acabamos com o refrigerante.
Já passava das oito horas quando a minha mãe chegou, nos deu 'oi' e subiu ao seu quarto alegando que já havia jantado e que poderíamos pedir uma pizza caso estivéssemos com fome. Sabe de naaaaada.
"Acho que já vou." Ele agradece e se levanta. O acompanho até a porta sem saber o que fazer, lembrando da primeira vez que me despedi dele. "Valeu por me ajudar." O abraço e o cheiro dele enche as minhas narinas.
"Não foi nada." Alguns segundos se passaram com ele ali, até que me entrega seu celular.
"Ainda não tenho o seu número." Rio e adiciono meu número em sua lista telefônica. Entrego o celular e ele me puxa para beijá-lo. "Boa noite."
Quando fecho a porta, após ele ter entrado no carro para ir embora, começo a rir sem ter a menor ideia do que está acontecendo.
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Gente, fiz algumas mudanças no capítulo 02 (agradeço se puderem o ler novamente) porque eu falei algumas características físicas do Guilherme que tive que mudar porque não consigo imaginar outra pessoa que não seja Harry Styles. Mas ai fica a critério de vocês, imaginem quem quiser no lugar.
Ps: apesar do Guilherme ser o Harry, ele não tem tantas tatuagens assim, só a que eu descrevi mesmo.