Escutar

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Seus olhos negros brilhavam na luz fraca do corredor, posso ver o quão exausta ela está por sua respiração pesada.

Uma gota de suor escorre da extremidade de sua testa até pingar em sua camiseta preta desbotada, ela é tão linda que eu poderia observa-la durante toda a tarde.

-É...peço desculpas pelo meu pai, ele não sabe o que diz...bebe muito sabe?-Ela diz encarando o chão.

-Tudo bem, sei exatamente como é isso, convivi a vida toda entre viciados.

Uma pausa silenciosa.

-Quantos anos você tem?-pergunto.

-20, e você 26 né?

-Isso.

Ela é tão jovem, me pergunto se é correto sentir atração por ela.

Ficamos alguns segundos se encarando até meu celular tocar.

-Um minutinho -Digo.

-Claro-Ela sorri envergonhada.

Olhei e vi que era Brendon, meu amigo e sócio da minha marca.

-Oi?

-Elle, como está?

-Bem, exausta fisicamente e emocionalmente mas bem.

-Te disse pra não ir.

-Você não manda em mim.

Ele ri.

-Eu sei, mas enfim os organizadores estão pedindo pra você participar do desfile Benoist.

-Já disse que não vou...

Ele me interrompe.

-Eles disseram que é crucial sua participação.

-Depois conversamos,ok?

-Sim senhora, me ligue ainda hoje...

-Certo.

Desligo

Um cheiro de bebida toma conta do corredor.

Natalie se aproxima com um prato de comida na mão e o cigarro na outra.

-Não te vi comendo nada e resolvi te trazer algo...

-Não precisa mãe, ja comi antes de vir.

Eu menti e ela percebeu.

-Por favor, você não é mais modelo, pode comer á vontade.

Sorrio

-Obrigada mãe.

Esse é um dos poucos momentos em que ela está calma mesmo alcoolizada.
Normalmente ela fica agressiva e impulsiva.

Fui criada apenas pela minha mãe sem saber quem é meu pai.
Natalie Benoist era stripper, é uma das únicas coisas que eu sei sobre seu passado, ela não gosta de falar sobre isso e o único registro é uma foto dela aos 17 anos em Paris, ela nunca me disse o que fazia aquele dia e eu nunca perguntei.
Naquela fotografia está registrada a mulher mais bonita que eu já vi na vida, parecia tão feliz e saúdavel que nem de longe lembra esse trapo humano que eu chamo de mãe.

-Jade vá lavar a louça.

Minha mãe ordena antes de voltar pelo corredor.

Jade respira fundo e a segue.

-Espera- digo- eu te ajudo.

-Não precisa...

-Não estou te perguntando se precisa, estou avisando que vou ajudar.

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