Amigos que se beijam

Halloween pt 1

  Eu não vejo Matthew tem quase um mês. Confesso que às vezes sinto falta dele, que às vezes eu choro no meu quarto e que às vezes eu tenho vontade de ligar pra ele pra perguntar se ele está bem.
Mas aí eu lembro de tudo, lembro de ter pego ele e Sara na cama no mesmo dia em que tivemos a briga só que um pouco mais cedo. Eu tinha ido à casa dele como fazia sempre, seus pais sabiam do nosso namoro, não aprovavam, mas também não contestavam.
Então eu fui diretamente para o seu quarto, notei pelo caminho que tinha roupas jogadas pelo chão e vodka derramada. Então eu bati na porta, ninguém abriu ou se manifestou. Então eu entrei no quarto e vi.
Vi Sara e Matthew dormindo juntos e pelados ! Havia uma caixa de pizza em frente a TV e uma garrafa de cerveja também.
-Desgraçado.-Sussurro com os olhos marejados e bato a porta do quarto quando saio.
Eu voltei para casa tentando controlar as lágrimas que queriam sair. Não era só o coração que doía naquele dia, mas sim o corpo inteiro. Era como levar um tiro diversas vezes e mesmo assim se manter de pé. Amar dói.
Eu não liguei para ninguém naquele dia, apenas fiquei deitado na cama olhando pela janela uma árvore grande que tinha em frente a minha casa. Era tão injusto Matthew fazer aquilo logo comigo, uma pessoa tão legal, amorosa, atenciosa...
Eu sou uma pessoa boa demais, deve ser por isso que coisas ruins acontecem comigo quase que sempre.
Depois disso eu prometi não me apegar à mais ninguém, daria um tempo dessa coisa, precisava focar mais em mim e me formar pra ir pra uma boa faculdade. Garotos são todos iguais.
Uma semana depois eu conheci Toby enquanto levava Stella, a cadela da vizinha, pra passear no bosque aqui perto. Ele ajudou a encontrar Stella que havia se soltado da coleira e fugido. Nós viramos amigos que sempre iam ao bosque. Até que transamos.
Eu não queria que tivéssemos transado pois eu sabia o clima estranho que iria ficar depois e eu não estava afim de me machucar de novo. Mas Toby havia pensado em tudo.
-Podemos ser amigos com benefícios.-Ele disse com um sorriso no rosto.
-E se não der certo ?
-A gente para.
-Tudo bem.-Eu disse.
E depois desse diálogo nós transamos pela primeira vez.
Agora eu e ele somos bons amigos que se pegam de vez em quando. Olívia diz que isso nunca dá certo, é só eu ver todos os filmes que já fizeram sobre isso.
-No filme o casal era hétero.-Eu disse pra ela.-Gays hoje em dia só querem sexo.
-Não quer dizer que só por ser gay que a pessoa não tem sentimentos.-Ela protestou.
-Falo por experiência própria.-Respondi.
Agora eu estou andando com Toby pelo centro da cidade em busca de uma fantasia para a festa de Halloween que ele vai hoje à noite.
-Amigo eu preciso achar uma blusa preta se não eu tô fudido.
-Isso vai ser fácil, é Halloween.-Respondo.
-Espero.
Andamos por todas as lojas e não conseguimos encontrar uma blusa totalmente preta. Estávamos sem sorte hoje.
-Eu vou dá meu jeito.-Ele diz.-Preciso ir nessa festa, preciso pegar alguém.
Aquilo me incomodou um pouco, mas eu não liguei. Voltamos a andar e paramos numa loja de Cd's.
-Acho que vou comprar um Cd com o dinheiro que sobrou.-Ele diz.
-Você não tem spotify ?-Pergunto.
-Eu gosto de colecionar.
Recebo uma mensagem.

Quer ir ao cinema hoje ?-Victor
Pode ser :)-Eu

Victor era um colega que conheci por um aplicativo. Se o Toby vai beijar eu também vou ! Nada de se apegar, é, nada de se apegar.
-Você podia ir comigo hoje.-Toby volta a se aproximar de mim.
-Não dá, vou sair.
-Pra onde ? Deixei ?
Rimos.
-Vou ao cinema com um amigo.-Respondo.
-Uii, aproveita então.-Saímos da loja, ele nem sentiu ciúmes.
Mas quem se importa não é ?
Pegamos o ônibus que nos levava pra casa e fomos o caminho todo em silêncio. Podia ver pelo canto olho Toby olhar fotos de garotos no Snapchat. Muito galinha.
Descemos na última parada e ele me puxa para um abraço.
-Obrigado por ter me acompanhado hoje, você foi o único que quis vir comigo até o Centro.
-Por nada, amigos servem pra isso.
-Você consegue ser a pessoa mais fofa do mundo mesmo não falando quase nada sabia ?
Rimos.
-Obrigado então.-Respondo.
-Bom, agora eu vou arrumar as coisas e mais tarde ir pra festa, beijos.
Ele me dá um beijo na bochecha e corre em direção ao outro lado da rua. Fico alí parado por um tempo e sinto um vazio quando ele se vai. Eu gosto de estar com ele, gosto da companhia dele.
Isso não era um bom sinal.
Avisto Olívia no café que tem perto de minha casa e me sento em sua mesa.
-Estava com o Toby né ?
-Sim, e você ? Tá sozinha ?
-Uhum.
-Nossa, que deprimente.
-Realmente.-Ela bebe seu café.-Vai fazer o que hoje ?
-Acho que vou no cinema daqui a pouco com um amigo meu.
-Toby ?
-Não, pelo amor...
-Ainda bem.
-Ai Livs, pare de ser pessimista.-Digo.
-Eu sou realista, isso nunca vai dar certo e outra, não me chame de Livs.
Bufo. Olívia estava certa em certo ponto. Amizade colorida talvez não fosse dar certo, talvez nunca fosse surgir dalí um sentimento -não que eu queira- mas talvez não surja.
-Eu não ligo se não der certo, já te disse que não quero me apegar à ninguém, e se surgir virá dele não de mim.
Ela dá de ombro e eu me levanto da mesa.
-Preciso ir me arrumar, vejo você amanhã Livs.
-Porra Sam !-Ela exclama.
-Amo você amiga.-Digo e sigo pra casa.
Sara está sentada na minha cadeira de balanço que fica na varanda, levo um choque quando a vejo e então me coração acelera de ódio. Subo as escadinhas e sigo em direção a porta na esperança dela não falar comigo e ir embora chorar feito uma vadia louca na merda do seu quarto de vadia louca.
Mas ela me chama.
-Sam...
-Não fale comigo, vá pra sua casa.-Digo.
-Eu preciso que você me perdoe...
Tiro a mão da maçaneta e me viro pra ela. Cerro os cílios e solto uma gargalhada, a minha vontade era de chorar, mas não a fiz.
Era incrível como as pessoas conseguiam ser tão ridículas.
-Claro que eu perdôo você por ter agido feito uma vadia louca e transado com meu ex namorado, claro Sara, agora você pode ir pro céu.-Sarcasmo resolve tudo quando a vontade de voar encima dela me consumia.
-Sam...
-Não Sara.-Digo.-Agora saia da minha varanda e tente não cruzar comigo nas ruas dessa cidade, por favor.
Ela se levanta e vai embora igual uma vadia arrependida. Suspiro e entro em casa.
Mamãe estava na sala vendo um filme de terror qualquer.
-Olá mãe.-Digo.
-Oi filho.
-Vou sair daqui a pouco e você ? Vai ficar em casa ?
-Eu tenho quase cinquenta anos, Sam.
-E ?-Pergunto.
-Olha bem pra minha cara e vê se estou apta para o Halloween.
Rimos.
-Halloween é aquele dia que você pode ser o que quiser, devia aproveitar.
Ela balança a cabeça e volta a ver o filme. Subo pro quarto e meu celular toca. É Toby.

Bom Halloween anjo, se cuida.-Toby
Boa festa !-Eu

Parte de mim estava torcendo pra que ele não fosse à essa festa e a outra tentava reprimir esse sentimento. Merda.
Visto uma blusa preta e uma calça jeans qualquer. Pego um arco com chifres de diabinho e coloco na minha cabeça.
-Não ficou tão ruim.-Digo me olhando no espelho.
Eu até sairia de vampiro, porém iria ficar algo muito repetitivo e cliché.

Você vai mesmo né ?-Victor.
Vou !-Eu

Abro meu Facebook e vejo fotos do Matthew com seus amigos numa festa de Halloween, Sara também está com eles. Vaca.
Era impressionante como ele conseguia seguir em frente tão rápido e eu aqui me despedaçando. Eu realmente não devo ter significado nada pra esse imbecil.
Desço e corro pra porta. Minha mãe me chama.
-Bom Halloween, pegue bastante doces pra mim.-Ela diz.
-Pode deixar.-Respondo com um sorriso forçado.
Fecho a porta e vejo várias crianças passando pela minha calçada com uma sacola com formato de abóbora. Lembro-me de quando eu e Matthew nos vestíamos de assassinos e saímos apavorando as crianças pra conseguir mais doces. Era divertido.
No fim da noite nós transávamos e dizíamos as três palavras um pro outro.
Mas isso acabou.
E eu preciso deixá-lo pra trás.
Desço as escadinhas e ando em direção ao cinema que fica perto do shopping daqui. No caminho vejo várias fantasias criativas, até de "A" de Pretty Little Liars vieram esse ano.
Só falta ser uma trans também. Opa.
Vejo Victor parado na entrada do cinema olhando de um lado pro outro.
-Eu venho diretamente do inferno pra lhe transmitir um recado.-Digo me aproximando dele.-É Halloween e você corre perigo.
Rimos.
-É muito bom te conhecer, você é bem mais bonito pessoalmente.-Diz Victor me abraçando.
Coro.
-Obrigado.-Respondo.-Eu digo o mesmo.

Continua...