Decisão difícil

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Fico olhando pra carta por alguns minutos enquanto Livs e Sara se entreolhavam. Eu havia contar sobre Toby também, mas acho que elas não sabiam à qual novidade dar mais importância.
-Não pode ir embora antes do baile, sem você não tem sentido.-Diz Sara.-Nós prometemos nos formar juntos, Sam. Não é justo.
Não era justo, mas o problema é que talvez eu não fosse ter uma oportunidade como essa de novo. Eu precisava fazer isso se quisesse ter um futuro.
Só não sabia que seria tão difícil dizer adeus para algo tão importante como este lugar.
-Eu não sei, gente...-Indago.-Sei que planejamos tudo juntos e que prometemos isso, mas eu realmente não sei.
E então só agora me toco de que havia quebrado uma das promessas que fiz: Deixar Toby. Não era justo quebrar mais uma. Mas era o meu futuro que estava em jogo.
No fundo era verdade, as pessoas não tem noção das promessas que fazem no momento em que as fazem, como dizia John Green.
-Sabe Sam...-Livs se pronuncia.-Se for o melhor pra você, vá. Eu amo você e sempre vou querer o seu melhor.
-Não Olívia !-Protesta Sara.-Ele não pode ir agora, tem que haver um jeito.
-O baile é na próxima semana e eu terei que partir amanhã de manhã se quiser essa experiência.-Digo.-O que você sugere ? Que eu vá para Stanford e depois volte só pra dizer adeus de novo ?
-Sim.-Ela responde.
Mas a verdade é que eu também estava cansado de dizer adeus. Meu coração não aguentaria mais uma despedida. Já tinha sido tão difícil se despedir de Toby, o garoto que havia me dado os melhores meses da minha vida...e os piores.
Se fosse necessário eu ir embora agora, eu iria. Eu precisava recomeçar.
-Talvez essa ida à Stanford adiantada seja uma boa pra mim.-Digo.-Não posso ficar no mesmo lugar que Toby por um tempo, preciso recomeçar em outro lugar.
Seguro as lágrimas. Eu não imaginava que seria tão difícil me despedir das pessoas que amo.
-Então você vai ?-Pergunta minha mãe entrando no quarto.
-Desculpa mãe por não poder te dar uma foto do seu filho se formando.-Digo e ela me abraça.
-O que estiver bom pra você estará pra mim, sempre.-Ela me dá um beijo na testa.-Quero que siga seu caminho, é só isso.
Sorrio e vejo Livs e Sara com os olhos marejados.
-Meninas...
-Cara estamos juntos desde o jardim de infância, isso não é justo.-Diz Sara entre soluços.-Eu queria que você ficasse comigo até o fim do colegial.
Então nos abraçamos em trio e ouço Livs chorar pela segunda vez. A primeira foi quando seu pai faleceu. Foi aí que soube o quão importante eu era pra ela.
-Nós vamos manter contato e eu prometo visitar vocês.-Digo limpando as lágrimas de Livs.
-Tem uma frase da série Pretty Little Liars que se encaixa perfeitamente nesse momento.-Diz Livs em meio as lágrimas.-"Sortuda sou eu por ter algo que seja tão difícil de se despedir".
Então eu a abraço com mais força, como se aquele momento fosse ficar eterno nas nossas memórias. Era o nosso abraço.
-Estaremos juntos novamente, Livs.-Digo.
-Não me chama assim, idiota.
Rimos.

...

Passeio de bicileta pelo parque e vejo Toby sentado num banco lendo um livro. Ele nunca lia livros.
Então quando ele me ver, ele entra na frente da bicicleta.
-Olá Toby.-Digo.-Eu estou com um pouco de pressa...
-É verdade que você não vai ficar pro baile ?
Ele parecia assustado e sua expressão era de medo. Medo de ser verdade.
-É sim.-Digo cabisbaixo.
-Sam, você não pode...
-Por que ?-Pergunto.-Toby eu preciso recomeçar em outro lugar, longe de você por um tempo...Preciso te esquecer.
-Meu maior medo era esse, você se afastar.
-Você sabe que precisamos desse tempo.-Rebato.-Eu preciso sarar a minha dor e preciso que você se encontre.
-Eu não quero te perder, você é o único que tenho agora, o único que tem me dado amor...
-Não vai me perder.-O corto.-Eu estarei sempre com você, aquilo não era um adeus.
-Por favor não vá agora.-Ele segura minha mão.-Não é justo eu perder mais alguém por minha culpa.
-Eu preciso ter uma vida.-Respondo.-E você também.
-Você prometeu nunca me abandonar.-Ele rebate com os olhos lacrimejando.
-Precisamos desse tempo afastados, Toby. Por favor entenda.-Digo calmamente.-Você ainda é importante pra mim, não se esqueça disso nunca.
Desço da bicicleta e me sento no banco com ele. Seguro sua mão e percebo sua aflição, seu olhar perdido. A verdade é que Toby era muito sozinho.
-Sabe, às vezes meu coração dói, às vezes eu só queria correr pro braço da Marie e ouvir ela dizer que vai ficar tudo bem.-Ele começa a chorar.-Eu fui uma pessoa tão má com você, você só sabia me dar amor e eu te magoei tanto...
-Não fique se culpando. Pessoas perfeitas não existem, Toby.-Digo.
-Marie era a moça que cuidava de mim, ela era minha segunda mãe até meus 17 anos, mas aí ela se foi e eu me perdi...-Ele fica cabisbaixo.-Até hoje tenho o colar dela guardado na minha gaveta, ela sim me entendia. Sinto falta dela.
-Sua mãe não...
-Não, minha mãe sempre foi muito ocupada.-Ele responde minha pergunta antes que a faça.-Minha família sempre me deu tudo, mas o principal eu nunca tive...Amor.
Eu não conseguia odiar Toby de maneira alguma. Ele não era um monstro como todos acham, ele só foi se fechando para o mundo. Ele não precisava de punição, ele precisava de salvação.
-Daí eu me tornei um Toby frio, que procura felicidade em sexo e que machuca os outros.-Ele completa.-Como foi que me perdi ?
-Pra se encontrar.-Respondo.-Sabe, você não pode ficar se culpando de nada, você precisa se perdoar por todas as coisas ruins que já fez. Você sabe que não é um monstro e sabe que é digno de amor. Todos somos.
-Não tenho coragem.-Ele rebate.
-Ninguém tem.-Respondo.-É como andar de bicicleta pela primeira vez, você não sabe o que vai acontecer ao dar a primeira pedalada, mas mesmo assim vai. Se permita, Toby.
-Obrigado, Sam.-Ele diz por fim.-Por tudo.
-Não precisa agradecer.-Digo.
-Eu quero.
-Tudo bem então.-Levanto o braço em sinal de rendição.
Ele segura minha mão e me olha por um tempo.
-Espero que seja feliz, de verdade.-Ele diz.-Que Stanford seja ótima pra você.
-Será.-Digo.-E espero voltar e vê-lo bem.
Ele suspira.
-Prometa que vai tentar fazer o que falei ? Que vai se perdoar e se permitir ?-Pergunto levantando meu dedo mindinho.
Aprendi na escola que quando fazemos uma promessa do dedinho ela nunca pode ser descumprida. Essa sim era sagrada.
Ele estica seu dedo mindinho e o junta com o meu.
-Prometo.
Depois da nossa conversa Toby foi pra sua casa e eu fiquei mais um tempo no bosque pensando em como minha vida havia virado de cabeça para baixo e no quanto eu havia aprendido com tudo isso. Também penso em Augustus e no quanto aquele garoto tinha mexido comigo.
Tudo bem que eu ainda não tinha superado Toby, mas eu me sentia confuso agora. Gus me fazia bem, eu queria estar perto dele, queria conhecê-lo melhor.
Então eu olho na direção do café e vejo Augustus sentado tomando uma bebida. Eu precisava fazer isso antes de ir embora.
Corro até o outro lado da rua e ele se assusta.
-Gus, precisa me escutar.-Digo arfando.-Eu sei que fui um idiota com você, sei que não mereço seu perdão e sei que brinquei com seus sentimentos.
-Então por que está aqui ?-Ele pergunta meio confuso.
-Pra falar a verdade nem eu sei.-Digo.-Bem...Eu estou indo embora pra Stanford amanhã.
Ele para de beber seu cappuccino e me analisa por um tempo. Ele parecia surpreso.
-Não vai ficar para o seu baile de formatura ?
-Infelizmente não.-Respondo.-E como provavelmente só verei você daqui à 5 anos se ainda estiver aqui...
-Não sei se estarei aqui quando voltar.-Ele me corta.-Eu disse que iria embora dessa cidade.
-Por minha causa ?-Pergunto.-Augustus você não pode...
-Por que ? Me diga um motivo que me prenda nessa cidade ?
Então eu percebi que ele tinha razão. Nada o prendia aqui, nem mesmo eu. E por mais que algo dentro de mim pedisse pra que ele ficasse, por mais que algo dentro de mim me fizesse sentir uma enorme vontade de ficar perto dele...Eu não podia impedí-lo.
Mas eu precisava dizer o que estava passando pela minha cabeça. O problema é que não faria diferença dizer isso agora quando eu estava indo embora da cidade.
-Nada...-Respondo por fim.-Você tem razão, precisa viver sua vida.
Ele assente.
-Espero que Stanford seja bom pra você.-Ele diz.-Agora eu preciso ir, tenho que preparar minha mala.
Me sento no banco e o vejo ir embora. Eu não podia fazer mais nada a não ser ir embora.

Matthew on.
Sam iria embora da cidade, não ficaria para o baile e obviamente não ficaria com Toby ou o primo da Sara. Isso era ótimo. Terminaria sozinho.
Passo em frente sua casa e vejo um carteiro se aproximar enfiando uma carta na caixa de correio.
-Tem alguma para Sam Rivers ?-Pergunto.
Ele me olha por um tempo e depois analisa as cartas que ia colocar na caixa e me entrega uma com um selo. Era de uma universidade aqui perto da cidade.
Se esta carta chegasse até as mãos dele ele ficaria.
-Obrigado.-Respondo e guardo a carta no meu casaco.
Vejo do outro lado da rua Sam conversando com o primo de Sara, precisava sair dalí.
-Tenha um bom dia.-Digo e começo a correr.
O carteiro me chama e eu o ignoro. O que importa é que Sam jamais saberia dessa carta.

Continua...

Amigos que se beijamOnde histórias criam vida. Descubra agora