Capítulo I

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Harry havia chegado cansado de seu trabalho, desejando apenas completar sua rotina de cada noite. Um bom banho, um vinil tocando suave pela sala enquanto a agulha decifrava as ondas do plástico e uma boa xícara de café com os muffins que estavam cheirando tão bem em sua bolsa. Suspirou enquanto esperava o elevador subir andar por andar, olhando o reflexo contra a superfície espelhada e se assustando com a forma que os cabelos longos estavam bagunçados e emaranhados. Talvez fosse hora de corta-los. Quando o elevador finalmente chegou ao décimo segundo andar saltou para o corredor, caminhando a passos largos sentindo a urgência daquele espaço que chamava de seu e que transbordava sua individualidade. Antes mesmo que pudesse inserir a chave contra a fechadura notou um bilhete colado à sua porta, erguendo uma sobrancelha ao desdobrar o papel e notar a caligrafia cuidadosa e bonita ali.

"Caro vizinho

Desculpe te perturbar, mas não sei mais o que fazer e esta é a minha última ideia para ser acolhido por essa cidade tão selvagem.

Já estou em Londres a 4 meses e não fiz nenhum amigo, ninguém minimamente com quem eu possa conversar ou interagir. Me sinto solitário, estou com medo dessa cidade que cada vez mais me consome e não posso contar com a minha família.

Se tiver um tempo e estiver entediado o suficiente para fazer companhia para mim gostaria de tomar um chá? Basta bater em minha porta.

Atenciosamente

Louis, apt 1203"

Olhou o bilhete com curiosidade e suspirou tentando controlar sua confusão ou mesmo sua apatia com o desconhecido. Aquilo era estranho e poderia ser muito bem uma armadilha, um tarado, uma piada de mal gosto ou qualquer outra coisa que a impessoalidade das grandes cidades alimentava em seus moradores. Mas pensando pelo outro ponto Harry nem ao menos sabia o nome dos seus vizinhos, mesmo que morasse a anos no mesmo local e encontrasse ocasionalmente o casal do cachorro barulhento, a criança ranhenta ou a loira mal-humorada nos elevadores, aquilo não era um real conhecimento. Harry não tinha nem ao menos ideia de quem dividia a parede consigo, quem vivia a alguns centímetros de cimento de distância. Talvez fosse uma boa conhecê-lo, ao menos saber quem era o tal Louis. Louis-o-depressivo. Seria maldade chama-lo assim? Abriu sua própria porta e jogou sua mochila contra o canto do ambiente parcialmente iluminado, observando entristecido sua sala, tendo que suprimir o desejo egoísta de ignorar a nota e apreciar seu espaço. Apenas negou a cabeça, prendendo o cabelo em um coque simples e separando os muffins que havia comprado para um jantar nem tão saudável. Se iria visitar alguém que pelo menos levasse algo para causar uma boa impressão. Em um último suspiro Styles fechou a porta antes que desistisse daquilo, se focando na ideia de que aquilo não o custaria nada e ainda faria uma boa ação diária.

A passos calmos foi ao apartamento do lado, observando a mesma porta escura com números pintados em branco que padronizada o corredor, dando algumas batidas suaves e esperando até ouvir algum barulho ali dentro. Uma chave sendo virada contra o sistema de fechadura, algo caindo no chão gerando um barulho seco e um pequeno palavrão sendo proferido baixo. Harry deixou a porta ser aberta e surpreendendo quando um garoto jovem e de olhos azulados o encarando surpreso. Será que tudo aquilo era uma brincadeira sem graça?

- Louis? - Chamou incerto, vendo o garoto concordar tímido e continuar a observá-lo - Sou o Harry, seu vizinho do 1202. Você me deixou um bilhete - Mostrou o papel que segurava em seus dedos, recebendo novamente um aceno de cabeça.

- Você veio para tomar chá? - A voz era baixa, porém levemente rouca. Aquilo estava ficando bem esquisito na visão de Harry e o maior se perguntava se o garoto tinha usado algum tipo de droga que o deixasse mais lento ou aéreo.

Tea TimeWhere stories live. Discover now