Prólogo

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— Me tirem daqui — Ela batia na porta e gritava de dentro do quarto

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— Me tirem daqui — Ela batia na porta e gritava de dentro do quarto. —, eu estou morrendo!

E dentro do meu coração ferido eu não sabia como tínhamos chegado a esse ponto, ela era uma das pessoas que eu mais amava, estava ali dentro, presa, e eu sentada do lado de fora, perto da porta, chorando, por mais que me doesse o coração, eu sabia que era necessário e fundamental para ela melhorar.

Senti uma mão passando pelo meu rosto, e levantando um pouco o meu queixo, e vi aqueles olhos castanhos esverdeados me olhando, se misturavam às lágrimas que tinha em seus olhos:

— Ela vai sair dessa! — Ela assegurou tentando me confortar.

Naquele momento, eu me assustei quando ouvi o som dela se jogando na porta e um grito quase desesperado:

— Eu te odeio! — gritou, notei a exaustão em sua voz rouca de gritar. — Eu pensei que você me amava e iria cuidar de mim — disse e fez uma pausa, socou a porta me assustando novamente —, por favor, me tira daqui.

Naquele momento meu coração se rasgou, eu sabia que não poderia deixá-la ali trancada, me levantei bruscamente e fiquei de frente à porta, olhei para a chave ainda ali, quando eu iria abrir a porta mais uma vez senti a mão da dona dos olhos castanhos me segurando pelo braço.

— Tem certeza que quer abrir a porta? — indagou olhando em meus olhos.

— Tenho, ela não é um animal. Está me ferindo vê-la desse jeito. — disse soluçando, eu não conseguia me controlar.

— A gente fez isso para o bem dela, e você mais do que ninguém sabe disso. — disse tentando me conter.

— Por favor! — Meu tom era quase uma súplica.

Abrimos a porta e ela caiu aos meus pés implorando. Ela estava suja, suada, longe de ser a menina que eu conheci, seus olhos eram fundos, sua pele parecia de alguém doente, a magreza era muito mais evidente, podia-se ver os ossos revertidos de pele.

— Por favor, se você me ama, me deixa sair.

— Para quê, para você se drogar mais? Para você voltar para a rua?

Eu estava realmente triste e revoltada, com aquela situação.

— Eu não vou fazer isso, eu juro, eu paro a qualquer hora você sabe! — Cada palavra que emitia evidenciava o tremor em sua voz.

As mãos tremiam; aquelas mãos que estavam longe de ser de alguém que um dia eu conheci. Mãos magras, unhas sujas e com alguns espasmos.

— Você já falou isso centenas de vezes. — Uma voz atrás de mim, me lembrava de que eu não estava sozinha.

— Vocês estão cometendo um crime! — Ela gritou dramatizando novamente, a magreza dela não a impedia de ter força. — Eu estou presa aqui há dias. — Ela gritava enquanto derrubava algumas coisas que estavam no quarto, o som era muito alto dos gritos com o barulho dos objetos sendo arremessados ao chão.

Eu sabia que aquilo poderia ser um crime, mas eu queria o bem dela mais que tudo. Foi quando eu senti o meu corpo sendo jogado para o chão, como eu disse, ela estava magra, mas ainda era forte, ela não enxergava mais nada além da droga.

Ela saiu correndo pela porta aberta, e eu fui acudida pela dona daqueles olhos, que não me largava um minuto sequer, a gente estava nisso juntas, foi quando eu falei:

— Você não pode deixá-la ir!

— Não podemos fazer nada agora, depois que você se recuperar vamos atrás dela.

— E se não a encontrarmos? — falei.

— Nós sempre a encontramos, porque você nunca desiste.

— Mas agora é diferente, ela está grávida. — falei totalmente preocupada e com o nó de choro ressentido na minha garganta.

Por mais que eu chorasse, esse nó não se desfazia, meu rosto doía, como se eu não conseguisse botar toda aquela angústia para fora. A sensação de impotência ajudava a imensa resistência daquele maldito nó em minha garganta.

— Eu sei, e a gente vai encontrá-la e vai ficar tudo bem.

Nós nos abraçamos, pois sabíamos que precisaríamos de força para entrar mais uma vez nessa jornada de encontrá-la no meio desse Rio de Janeiro. 

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