Capítulo 01 - É, Lore, bem vinda a São Paulo.

803 26 1
                                    

— LORE! — ouvi minha mãe gritando lá da sala.

Suspirei e levantei-me da almofada que ficava na beira da janela, olhei para o meu novo quarto que estava completamente lotado de caixas. Tínhamos acabado de nos mudar para São Paulo e era a primeira vez que eu morava em uma cidade tão grande. Só viemos para cá porque meu avô faleceu. Eu? Eu estou ótima, claro que fiquei triste pela noticia mas, fala sério, eu nunca o vi até o seu enterro.

Eu estava viajando em meus pensamentos quando esbarrei em uma dascaixas, tropecei em meus próprios pés e, por pouco, não acabei no chão. É, Lore, bem vinda a São Paulo. Me levantei rapidamente, quase derrubando uma pilha de caixas, e caminhei até a sala, dando de cara com a minha mãe e o meu pai tentando levantar um sofá extremamente colorido e peludo para o meio do cômodo.

— Me chamou mãe? — perguntei, fazendo-a deixar sua parte do sofá cair.

— Yara! — resmungou meu pai, deixando sua parte cair também e se sentando no chão, tentou recuperar suas forças, era engraçado de se ver, admito.

— Pare de resmungar, Antônio! E chamei você sim, meu anjo. — ela disse me puxando até um canto. — Procure por uma padaria e compre alguns pães, já que não tem nada aqui em casa, está bem? — me entregou uma nota de vinte reais e voltou a ajudar o papai.

Bom, vocês conheceram os meus pais e eles são meio que diferentes de pais normais, ele são hippies (ou pelo menos tentam) e têm ideias absurdas! Minha mãe já quis fazer um jantar ao ar livre e não poderíamos usar nossas roupas, ela disse  que “tem que ser ao natural, como você veio ao mundo”! Obviamente, não fizemos esse jantar porque eu e meu irmão concordarmos que tudo isso seria um absurdo. E, por falar no meu irmão (podem chama-lo de diabinho, eu não ligo e só estarão falando a verdade)…

— Lore! Lore! Lore! Lore! — ele repetia dezenas de vezes enquanto puxava a manga da minha camiseta.

— Que foi, peste? — o olhei e ele estava correndo em volta de uma das mesas de vidros que os rapazes da mudança tinham acabado de trazer.

— GUILHERME VOCÊ VAI QUEBRAR A MESA! — minha mãe gritou enquanto procurava uma posição boa para o sofá. — Antônio, controle seu filho!

— Você fala como se ele fosse só meu. — meu pai riu enquanto piscava para minha mãe, era um relacionamento estranho.

Decidi deixar essa loucura para lá e desci pelo elevador do prédio, que era enorme. Saí pelo portão e fui andando pelas ruas e olhando para o céu, eu sempre gostei de olhá-lo e procurar formatos engraçado em nuvens. Meus pais encontraram um lugar que, mesmo sendo no meio da cidade, não tinha toda aquela movimentação. Quando o corretor nos vendeu o apartamento ele gostava de repetir que era um bairro familiar e que a tranquilidade era cortesia da casa. 

Caminhei mais alguns minutos até achar uma padaria, uma moça simpática me atendeu e comprei alguns pães que estavam com um cheiro ótimo e, segundo ela, haviam acabado de sair do forno. Decidi voltar por um caminho diferente, já que estava ali, pelo menos queria conhecer um pouco da vizinhança. Virei algumas esquinas até encontrar um parque, algumas crianças corriam e subiam nos brinquedos, sorri involuntariamente com a cena. Aproximei-me e sentei em um dos bancos coloridos e avistei, ao longe, alguns carros seguindo lentamente um ao outro, mas demorei um pouco para notar do que se tratava. Um enterro. Continuei a observar enquanto eles se aproximavam, o primeiro carrotrazia um caixão branco cercado por flores de diversas cores. Vi, com minha visão periférica, quando uma menina sentou de braços cruzados ao meu lado e parecia observar o mesmo que eu.

— Que flores horríveis… — ela comentou em tom de desgosto e negou levemente com a cabeça. 

Tombei a cabeça para o lado, mas não a encarei.

SpiritsOnde histórias criam vida. Descubra agora