CAPÍTULO 2

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Socorro!

Escuro. Um baque. Um grito estridente. Mais estrondos. Um gemido abafado. Outro baque. O grito novamente...

Toda vez que fecho meus olhos, lembranças das quais prefiro me esquecer invadem minha mente. Faz um longo tempo desde que tive uma boa noite de sono sem gritos e sons de um passado sinistro me assombrando. Ao ver que não conseguiria dormir, levantei-me e enchi um copo de uísque na cozinha. Às vezes, tinha medo de me perder na bebedeira, mas também era o único meio que conseguia achar para amenizar um pouco o sabor amargo em minha vida, para tentar esquecer o passado...

Bebi tudo num único gole e enchi o copo novamente, olhando ao redor. Aquela era a casa do lago que vinha sendo passada pelas gerações de minha família, um lugar onde costumava passar as férias e feriados quando era criança, mas que agora era o meu... lar? Podia chamar algum lugar de lar? Não. Aquele local era apenas o teto sobre minha cabeça, onde ficava para pesquisar e planejar minhas caçadas e onde tentava dormir. Mas quase sempre voltava a momentos como esse: utilizando-me de bebidas para tentar adormecer por pelo menos algumas poucas horas.

Com o copo ainda em mãos, andei praticamente me arrastando até a entrada do porão. Como quase todas as casas no Canadá, essa também tinha duas entradas, uma pela parte de dentro e outra do lado de fora da construção. Entrei pela porta da cozinha e acendi a luz, descendo logo em seguida.

Ainda bem que não recebia visitas em casa. Como explicaria as paredes do porão cobertas por um arsenal das coisas mais estranhas que alguém pudesse imaginar? Ninguém usaria bestas, estacas de madeira e facões para caçar simples animais. E o que pensariam do mural que havia a um canto do aposento, coberto de fotos presas por tachinhas e com vários papéis de anotações pendurados abaixo de cada uma delas? Tomar-me-iam por um lunático, fanático, serial killer ou todas essas alternativas?

Bem, poderia ser qualquer uma delas, mas creio que não chegariam à verdade. Será que acreditariam se lhes dissesse: "Sou Peter Graham e sou um caçador de vampiros"? É... Louquinho de pedra esse Peter, pensariam.

Pois acreditem ou não, essas criaturas malditas existem. São tão reais quanto qualquer pessoa. Elas existem, estão entre nós, e eu odeio todas elas. Quero vê-las mortas, torturadas, dizimadas. Estou aqui apenas para isso agora. Aniquilá-las uma por uma, se necessário.

Caminhei (tomando mais um gole de uísque ao fazê-lo) na direção do mural com as fotografias, peguei um marcador vermelho no balcão ao lado e tracei dois riscos diagonais opostos de lado a lado em uma foto, formando um "X" sobre o rosto do homem nela. Merda, até que você era bonito, pensei. O homem de mais ou menos 30 anos que eu matara na noite anterior me encarava de volta pelo retrato. Não, espera... Homem, não. A criatura, o maldito sugador de sangue que usava seu charme para seduzir suas vítimas sempre na mesma boate. O monstro fingia estar interessado em algum outro rapaz, conversavam por um tempo, depois saíam para algum lugar mais reservado e só então ele atacava, sugando todo o sangue de sua presa. Os corpos eram encontrados somente horas depois, totalmente drenados, e a polícia não conseguia encontrar pistas que pudessem levar ao assassino. É claro que não. Os malditos sabiam como não deixar rastros. Havia boatos de que um serial killer estivesse na cidade e que talvez ele não estivesse agindo sozinho.

Isso são apenas boatos. Eu sabia da verdade, pois enxergava o que ninguém quer enxergar; aquilo que a mente humana esconde e tenta buscar uma explicação lógica dentro dos padrões da sociedade, dentro da racionalidade.

Pousei o marcador vermelho no balcão novamente e observei algumas das outras fotos no mural. Seis delas estavam riscadas, mas ainda havia muitas outras, como uma árvore genealógica. Aqueles nas fotos eram as minhas caças, alguns deles pertenciam ao mesmo bando, outros estavam por si sós. Eu investigava os assassinatos do suposto assassino em série da cidade e acabava encontrando-os.

No topo da árvore havia um papel em branco, sem nome, sem rosto... Abaixo dele continuavam as outras caças, as que eu já tinha identificado e algumas que já sabia onde encontrar e qual era seu Modus Operandi, como a do vampiro da noite anterior. Era assim que funcionava. Eu os procurava, encontrava, planejava e matava-os à surdina.

Dei um último gole no uísque que segurava, voltei à cozinha, coloquei o copo na pia e me apoiei com as mãos sobre ela, deixando a cabeça cair sobre meu peito e soltando um longo suspiro, tentando impedir que mais memórias tomassem minha mente, mas era como tentar segurar fumaça com as mãos. Toda vez que me acalmo mentalmente e começo a relaxar para dormir, elas vêm como se fossem um diabinho me cutucando com o tridente e não me deixam adormecer, e já não sabia mais o que fazer para impedir isso a não ser me dedicar 100% à caça...


Modo de agir.

Graham - O Continente LemúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora