Capítulo 2

26 2 0
                                    

Uma profusão de entusiasmo arrebatou-me instantaneamente. Ao lado de fora, a manhã ostentava sua mais deslumbrante aparência, convocando-me a desfrutar de suas dádivas com uma pretensiosa urgência. Corro com a maior velocidade que consigo em direção à pequena janela de meu quarto. Meus debilitados joelhos reclamam levemente de minha movimentação exagerada, ao crepitarem paulatinamente como lascas de madeira ao sucumbirem às brasas. Respiro profundamente o ar que deliciosamente percorre as minhas narinas. Experimento com regozijo a sensação lancinante que os raios solares causam sobre minha pele, ao vislumbrar euforicamente o movimento das grandes palmeiras coloniais que rodeiam a propriedade.

Ainda com a carta em mãos, volto-me à escrivaninha de mogno no canto inferior à porta de entrada de meu simples aposento. Sem perceber, dou um sorrisinho de canto de boca, ao abrir relutantemente a segunda gaveta. Vasculho seu interior, afastando do caminho livros literários e de receitas de fim de ano, um carretel de linha esverdeada, lapiseiras com pontas esferográficas, uma pequena lanterna em formato de chaveiro e uma almofada recheada de alfinetes com pontas coloridas, quando enfim encontro o que tanto procurava.

Meus batimentos cardíacos estavam enlouquecidos, e tive receio que o marcapasso que os controlava não estivesse funcionando. O envelope velho e amarelado continuava no mesmo lugar. Abro-o pela centésima vez na última semana com a ansiedade que experimentei na primeira vez em que o vi. Cinco décadas mais ou menos atrás. A gargantilha de bronze com um pingente em formato de tulipa repousava em seu interior timidamente comportada. Infelizmente poucas eram as ocasiões em que tivesse motivos para usa-la. Mas ela se mantinha firmemente inalterada, resistindo as intempéries causadas pelo tempo, o que eu não poderia lamentavelmente referenciar-me.

Comtodo cuidado do mundo desdobro um finíssimo pedaço de papel encardido, como seao mais tênue toque pudesse se desfazer em frangalhos. As curtas e singelas palavrasescritas em uma caligrafia não tão habilidosa, restauram as minhas forças subitamente e me fornecem a confiança necessária para viver o reencontro que esperei por todos estes anos.

Uma Segunda Chance  ao Primeiro AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora