Rebuilt- A História de um Sonho

Altos e Baixos

Apesar da notícia particularmente maravilhosa sobre a Coréia, a questão em si não era tão simples quanto parecia. Estar no Brasil, estar aqui no Rio de Janeiro, estar aqui significa estar com as coisas mais importantes da minha vida. Não é apenas a escola e a meninas que estão " em jogo" mas tudo. Aqui eu tenho o grupo - que foi a melhor coisa que me aconteceu. Tenho as meninas, a escola, tenho alguns bicos fixos para ganhar dinheiro, tenho principalmente o meu pai. Eu não posso simplesmente largar tudo assim. Tá, nós vamos para a Coréia e depois o que? Eu tento a qualquer custo fazer amizades, aprender de uma vez por todas Coreano e tentar me encaixar para depois tentar achar pessoas que compartilham o mesmo sonho que eu? Se estar no país que eu mais admiro é estar longe da minha felicidade, eu de fato desisto desse país. Sei que lá posso conseguir coisas boas, mas... lá não tem um Rebuilt, não tem uma Momo, uma Lisa, e uma Jennie, lá não tem o meu pai- se aqui já não tenho direito, imagina lá. Eu sempre desejei ir para a Coréia, na verdade meu sonho é viajar pelo mundo, sonhar em ser cantora só ajudou nessa ideia. Fazer tour e conhecer pessoas de outras raças e culturas ouvindo e se identificando com a minha música, me dava o melhor dos sentimentos: igualdade e compreensão.

Pensei no quanto eu e minhas amigas tínhamos batalhado para chegar aqui - Sei que aqui não é um lugar tão " Nossa, meu Deus elas são famosas woah" e tudo mais, mas aqui é onde Nós chegamos, e não tínhamos ganhado de mão beijada. Na Coréia não temos um estúdio onde pagamos a metade do preço para gravar as demos, na Coréia não tinha bicos fixos, na Coréia não temos amigos que nos ajudam com a nossa música, não temos família lá, não somos nem maiores de idade e então com isso seria Adeus, bye bye tentativa de cantar em bares ou lugares assim, fora que se formos na rua encontramos vários grupos na rua dançando e cantando. A disputa seria pior, mas também pensar que lá poderia ter uma chance - Mesmo que 0,01%. Teríamos a chance de fazer mais audições, as escolas são boas, e nossa maior influência está nesse país. Acho que pela primeira vez na minha vida não sei definir o que é melhor. 

—Então é isso? Vamos para Coréia e deixamos todo mundo aqui? Deixamos uma vida aqui? O que? Vai terminar com seu namorado também?

— _________, ele vai conosco. E não é bem assi....

—Não é bem assim? Mãe! A senhora vai me levar para um país onde eu não tenho nada! Um país onde eu não conquistei nada! Um país onde não conhece o meus esforço! Um país onde não tenho absolutamente nada! Está tudo aqui mãe! Tudo, tudo o que eu tenho está exatamente aqui, nesse lugar, nessa cidade!  Eu passei por lutas para chegar aqui e me acostumar a tudo! Eu tive que vencer a merda daquela depressão! E sabe como eu fiz isso?! –disse me sentindo em parte inconformada e em parte, completamente cheia de raiva, eu estava explodindo– Foi encontrando elas! E sabe o que elas significam? Elas significam a música! A minha música, a única coisa que me salvou de um monte de merdas, a unica que me tirou do fundo do poço quando você não estava aqui! Você não estava aqui por que você estava na merda de outro país! Estava com a titi....– por um momento eu consegui conectar tudo. Pude finalmente entender..

Tudo começou em fevereiro de 2013, quando papai foi embora, mamãe não podia fazer mais nada, já fazia anos e ela não tinha mudado. Não tinha se recuperado. Ele tinha nos deixado sem nada. Sem casa, sem comida, nada mesmo. Não sabíamos no início para onde ele foi, ou se sequer tinha ido a algum lugar, algumas pessoas diziam ter visto ele mas a gente não acreditava, eu não acreditava. Se estivesse mesmo aqui, ele teria vindo me ver, não? 

Mamãe não se interessava mais, ela fazia as coisas delas mas não falava mais comigo, e quando falava era apenas ameaças e agressões verbais. Eu só suspirava, ficava quieta e aguentava. Fazia de tudo para me distrair, eu via tv e programas de comédia para aliviar a tensão mas se eu mergulhasse, era mais e mais ameaçadas