Capítulo 01 - Nebulosa

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Chegava a noite, as sombras se alastravam por todo o mundo enquanto o sol sumia de seu reino, mas elas não sobreviviam para contar história, o incandescer de uma gigante estrela vermelha pairava sobre os céus, iluminando a tudo e todos; sabíamos o que ela significava: Era finalmente a chegada do novo Eroj; e nós estávamos preparados! Todos corriam de suas casas, tavernas, esconderijos, todos atrás de um único objetivo: Encontrar a criança enviada para nos salvar e se tornar o pai do nosso próximo herói.

A estrela dançava pelos céus, como se procurasse o garoto juntamente a nós, seus rastros, daquele vermelho fluorescente, manchavam o azul do espaço em cima de nossas cabeças e guiava-nos em fim ao nosso destino. No entanto, não seria tão fácil assim para alguém encontrá-lo, muitas coisas iludiam nossos olhos e nos bloqueavam de nosso caminho.

Era de costume que, no dia do nascimento de nosso salvador, muitos pais, cuja tivessem filhos indesejados, os pintassem de vermelho e os largassem no chão na esperança de que fossem confundidos com um Eroj e adotados por algum azarado (Ou talvez sortudo?), que estava em sua busca pelo mesmo. Mas é claro, um humano pintado não poderia ser confundido por muito tempo como um Eroj, pois, como sabemos, o vermelho de um de nossos heróis representa o sangue que ele irá derramar pelo bem de seu povo e por isso é incomparável! Ou, pelo menos, era para ser incomparável.

Enquanto todos buscavam pela criança tão especial, um homem apenas se destacava entre eles, não um rei ou um guerreiro, mas sim um mero ancião julgado ser louco por muitos. Este havia vivido quase toda sua vida no alto das montanhas, desprendido dos costumes do mundo, na verdade, já havia passado tanto tempo isolado que esquecera até mesmo sua língua natal, nem mesmo sabia mais o que eram as lendas do tal Eroj que corriam pela boca do povo, ele simplesmente desceu de suas montanhas para entender sobre o que era toda essa bagunça.

Em sua busca por uma explicação nesta noite quente e aconchegante ele é interrompido por um som de certa maneira familiar, ou até mesmo nostálgico, um choro de um bebê, o ancião não pensou duas vezes antes de o seguir, para ele foi como um instinto natural descobrir os enfermos que a pobre criança provavelmente estava a passar. Mas, para sua surpresa ele encontrou algo diferente do que esperava.

Era sim um pequeno bebê, mas o desafortunado parecia extremamente doente, sua pele era de um vermelho pálido, talvez por suas febres, também haviam pequenos inchaços em sua cabeça que provavelmente vinham de picadas de insetos que se assemelhavam a chifres e até mesmo os cabelos dele haviam se descolorido e se tornado brancos. "Pobre coitado, só os deuses sabem o que ele pode ter passado aqui sozinho" o ancião pensava enquanto pegava o pequenino ser em seus braços o cobrindo com alguns mantos que o velho vestia.

Quando eles se olharam nos olhos pela primeira vez, ambos sabiam que se amavam

O suposto louco das montanhas gargalhava sem mesmo saber o porquê, e a criança ria de volta, era como se não estivesse em prantos literalmente minutos atrás, o velho pousava seu dedo sobre a testa do garoto e num baixo tom dizia, quase que para si mesmo:

- Jorel... Este será seu nome. – O velho parecia surpreso consigo, para quem não lembrava de sua própria língua uma frase assim foi muito mais fácil de se dizer do que o esperado, como se fosse algo que falasse por ele, isso só adicionava a sua gargalhada que lentamente dissipava seu som pelos bosques juntamente ao vermelho dos céus que começava a apagar enquanto ele subia em caminho as montanhas mais uma vez.

E enquanto Jorel dormia calmo nos braços do homem, o povo acordava em desespero pela noite em que o Eroj não foi encontrado.

EROJ - O último heróiWhere stories live. Discover now