Vinte e oito.

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Harry puxa os cabelos e em seguida ri alto, não um sorriso, ele não está feliz, ele dá uma risada nervosa, uma risada de quem está rindo para não mandar se foder.

- Harry?

- NÃO FALA COMIGO. - Ele grita e se vira para mim. - Não abre a merda dessa boca para falar comigo. 

- Não grita, por favor, Hope está dormindo. 

- Não grita? - Ele ri outra vez. - A coisa mais simples que eu quero fazer é gritar, como você pôde fazer isso comigo? Como você conseguiu ser vagabunda a esse nível?  

- Harry..

- Cala a porra dessa boca! Cala essa porque eu estou tentando não te dizer  tudo o que eu tenho pra dizer, então cala a boca.

- Você precisa entender que foi preciso, ela precisava de uma chance, Harry, Hope precisa ter a chance de viver e eu não podia tirar isso dela, eu não estou dizendo que você faria mal a ela, mas você sabe como as coisas eram, principalmente naquela época, eu precisei fazer isso... Por ela. - Minhas lágrimas caem com uma força absurda.

- Para, para de tentar explicar essa merda, para de tentar justificar porque nada vai justificar você ter tirado minha filha de mim, ter me tirado o direito de ser pai é uma coisa que você nunca vai justificar. - Ele solta uma risada. - O mais engraçado é você ser tão cínica, você é sempre a garotinha indefesa que alguém tenta machucar, é sempre a pessoa mais frágil do mundo, eu sou sempre o errado, eu sou o que não pode se controlar, o insensível que grita e faz besteiras, mas você é a perfeita, você fez até mesmo minha mãe acreditar nesse seu papo, mas no fundo você é uma vadia, não passa de uma vadia que tirou de mim o direito de ser pai. 

- Eu não te tirei esse direito..

- Não tirou? Vá tomar na porra do seu cu que não tirou. Quanto tempo eu perdi? Eu perdi as ultrassons, perdi o dia em que você descobriu o sexo, eu perdi os nascimento... Os primeiros passos, as primeiras palavras, eu nunca vou saber qual é a sensação de ter sido chamado de pai pela primeira, nunca vou saber porque você colocou outro homem em meu lugar. Ele é perfeito, não é? Ele é tudo que o maldito Harry nunca vai ser, vocês são patéticos. - Ele para de falar por um tempo e eu percebo que ele está chorando.

- Você não pode imaginar o quanto doeu, doeu a cada dia, eu me sentia tão mal, era terrível. Eu queria que você soubesse, queria que estivesse lá, queria compartilhar casa momento com você, mas eu não podia... Não podia por ela, para que ela tivesse uma chance. Eu precisava dar um chance a minha filha. - Enxugo minhas lágrimas. - Eu não estou te culpando...

- Não está me culpando? E o que é suposto eu ser nessa história toda? A minha filha vai crescer e você vai dizer o que pra ela? Minha filha! Eu tenho uma filha e você escondeu isso de mim.

- Harry.... - Eu faço esforço para levantar e sinto uma dor na cirurgia, mas mesmo assim eu fico em pé.

- Eu ainda te perguntei, você não tem noção do que eu senti quando encontrei vocês duas, eu sabia no fundo que ela era minha, mas você mais uma vez tirou isso de mim, tirou quando disse que ela não era minha filha.

- Só me escuta.... Me deixa tentar te explicar.

- Você não vai explicar nada. - Ele caminha em minha direção e eu permaneço intacta. - Você não vai explicar nada. - Ele chora compulsivamente e aperta meu braço direito. - Você não vai explicar nada. - A sua mão que estava livre segura meu rosto com força, mas eu não me mexo, Harry nunca me machucou, ele não vai me machucar, não é? - Você vai se arrepender de ter feito isso, eu vou me certificar de que você sinta cada grama de dor que eu estou sentindo nesse maldito momento. - Ele fica calado e só nossas respirações são ouvidas. - EU TE ODEIO, EU TENHO NOJO DE VOCÊ, NOJO! - Ele grita. O barulho da porta abrindo é ouvido e alguém entra no quarto.

- Chega, sai de perto dela, Harry. Você não pode ficar assim. - Anne.

- Vai defender a sua protegida? Ela é a bonequinha e eu sou o monstro, não é? - Ele ri e seu aperto só fica mais forte em mim.

- Para, Harry, não tem necessidade disso. - Liam.

- Olha quem chegou! O show está pronto, a família perfeita e o cara que quase acabou com o conto de fadas.

- Solte ela, Harry. - Liam agarra Harry e Anne se aproxima, mas Harry não me solta. - Solte. - Liam pede mais um vez, mas ele não solta.

Em algum momento, Liam puxa Harry e o cotovelo de Harry acerta em cheio minha cirurgia, um grito agudo escapa pela minha garganta e Anne me segura, enquanto Liam afasta Harry.

- Você está bem? - Anne me segura, eu balanço a cabeça, apesar de a dor estar terrível eu não quero criar uma cena, não quero ser a bonequinha que Harry disse.

- Eu nunca mais quero te ver, nunca mais olha na minha cara dia vadia imunda. - É a última coisa que Harry diz antes de Liam o puxar para fora do quarto.

Isso foi bem pior do que eu imaginei.

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