Capítulo 18

523 43 15
                                    


Na segunda semana de março, o clima estava perfeito para um passeio ao ar livre, com o céu claro e azulado. Jessica olhava pela janela um pouco resignada, gostaria de estar do lado de fora mas, para seu infortúnio, estava presa no lado de dentro do castelo. Os professores estavam caprichando na quantidade de lições. Na biblioteca, grupos de alunos do sétimo ano lotavam todas as mesas até a hora de fechar. Como se isso não fosse o suficiente, estavam trabalhando na pesquisa sobre lobisomem sempre que tinham um tempinho extra.

A final do Quadribol seria no próximo sábado contra Sonserina, seria um jogo difícil, pois precisavam vencer com pelo menos duzentos pontos de diferença. Tiago estava sedento pelo troféu, afinal era seu último ano jogando pelo time. Antes do jantar, eles se reuniam todos os dias para treinar. Apesar de cansativo, devido ao passo intenso que Tiago exigia, Jessica contava os minutos para pegar a vassoura e deixar um pouco as paredes de pedra para trás.

Na quarta à noite, o grupo de amigos foi expulso da biblioteca na hora de fechar, já estavam acostumados com isso. Grupos do sétimo ano encheram o corredor a caminho de seus dormitórios. Jessica e Sirius caminhavam juntos de mãos dadas.

─ Sabe do que me dei conta? ─ Sirius disse a caminho da torre da Grifinória. ─ Você nunca me contou o que o Professor Slughorn queria aquele dia.

Jessica temia que ele trouxesse esse assunto à tona, ela não tinha esquecido de contar, só não queria.

─ Verdade ─ ela disse incerta. ─ Ele queria saber se eu já escolhi minha carreira. Como disse que não, ele sugeriu o Ministério e ofereceu para me indicar para alguns amigos que trabalham lá, para ver se eu consigo um emprego.

─ Uau, que fantástico, não acredito que esqueceu de me contar isso ─ ele exclamou. ─ Eu sei que você vai se dar muito bem, não importa o que decidir fazer, tenho certeza que terá uma fila de pessoas querendo te entrevistar.

─ Obrigada Sirius, está sendo muito generoso. ─ Eles viraram em um corredor deserto, desviando dos grupos de sétimo ano. ─ O que você quer fazer quando sair da escola?

─ Ainda não sei ─ ele deu de ombros. ─ Como você, ainda não consegui decidir. Mas eu sei que quero tirar férias, umas bem longas. Fazer uma viagem ou sei lá. Você toparia algo assim?

─ Acho que sim. ─ A ideia de férias longas era convidativa, mas na verdade, a resposta de Sirius a incomodou um pouco. Se ela conseguisse um emprego no Ministério certamente não teria tempo para tirar férias, muito menos umas longas.

─ Foi só sobre isso que vocês conversaram? ─ Sirius trouxe Jessica à realidade com uma pergunta que gostaria de poder ignorar.

─ Deixa eu fazer uma pergunta agora ─ ela pausou. ─ Você me conta tudo o que faz e deixa de fazer?

─ O que quer saber? ─ ele perguntou confuso.

─ Você me conta tudo? Eu já sei tudo o que preciso saber sobre você? Você tem segredos? Esse tipo de coisa.

Ele não respondeu, e pior, ele ficou tenso. Jessica parou de andar e ficou na frente dele.

─ Não estou tentando começar uma briga ─ ela o tranquilizou. ─ Não quero mentir para você. Naquele dia conversamos sobre outro assunto, um que realmente não gostaria de compartilhar com você, a conversa foi desnecessária, me aborreceu muito e são águas passadas. Você aceita essa informação?

─ Tudo bem ─ ele concordou desconfiado. ─ Mas parece que foi algo que te irritou bastante e quero que você sabia que pode contar comigo para esse tipo de coisa também. Sou bom ouvinte.

─ Eu sei que posso contar com você ─ ela o beijou e depois retomaram a caminhada. ─ Que tipo de segredo você anda escondendo, hein?

Jessica riu lembrando da reação de Sirius quando confrontado com o assunto, ele se juntou a ela na risada.

─ Eu sempre serei honesto com você, mas alguns segredos não são só meus para compartilhar ─ ele contou. Remo veio à mente de Jessica, confirmando que algumas coisas tinham que ficar ocultas. ─ Obrigado por sua honestidade, seria tão fácil dizer que não conversaram sobre mais nada.

Jessica não teve tempo de responder, passos apressados os alcançaram no corredor.

─ Até que enfim encontrei vocês ─ escutaram a voz de Tiago e viraram. Lily estava com ele.

─ Jess, precisamos falar com o Severo ─ Lily disse. ─ Vamos precisar da ajuda dele se quisermos conseguir fazer alguma coisa com aquela pesquisa.

O bom humor de Sirius foi pelos ares, era incrível como o nome do Severo tinha o poder de fazê-lo mudar por completo. Jessica passou o braço na cintura de Sirius o trazendo mais para perto.

─ Eu sei ─ Jessica concordou. ─ Podemos fazer isso amanhã. Nós duas juntas teremos mais chances de convencê-lo.

─ Foi isso que pensei ─ a amiga disse.

─ Mais uma coisa ─ Tiago começou. ─ Na sexta é aniversário do Remo. Que tal uma visita à Hogsmeade?

O humor de Sirius mudou novamente. ─ Por favor, estou precisando disso ─ ele se animou.

─ Como assim? Ficaram malucos? ─ Jessica se indignou, o evento da Casa dos Gritos ainda estava fresco em sua mente. ─ Como pretendem ir até a vila sem serem pegos? Você concordou com isso Lily?

─ Sim ─ ela admitiu. ─ O Tiago garantiu que consegue ir sem ser pego. Eles já fazem isso há anos. Pergunta para o Sirius.

Jessica o olhou e ele desviou o olhar sem jeito. ─ Então, esse é um dos seus segredos? ─ Ela quis saber, levantando as sobrancelhas para dar ênfase.

─ Sim, é isso mesmo ─ ele admitiu.

─ Como conseguem sair do castelo sem serem detectados? ─ Jessica quis saber.

─ Temos nossas maneiras ─ Sirius disse vagamente.

─ Hmm, isso tem cheiro de mais segredos ─ ela brincou e ele riu, mas sem deixar de notar que ele deixou a afirmação vagar.

─ Então, você vem? ─ Tiago pressionou, um pouco afobado demais e Jessica achou isso estranho e nada condizente com o comportamento dele. Buscou a amiga para algum tipo de esclarecimento e a encontrou com olhos brilhosos e implorantes.

─ E o treino de Quadribol? ─ Jessica lembrou. ─ O jogo é na manhã seguinte.

─ Vou cancelar ─ Tiago disse. ─ Nós vamos precisar de uma noite de descanso, assim estaremos renovados no dia seguinte.

─ Tudo bem ─ ela concordou.

─ Você vem então? ─ Lily animou-se.

─ Sim!

Lily pulou no pescoço da amiga em um abraço apertado. ─ Vai ser muito legal.

Os quatro caminharam para os dormitórios, como já era tarde, se despediram no salão comunal e foram dormir. 

Jessica Thompson - Anos dos MarotosOnde histórias criam vida. Descubra agora