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Antônia sempre vai e volta da escola, que é na cidade, por esse caminho. Com as meninas. Não porque quer.

Entre a vila rural e a cidade, tem uma estrada. Na estrada, uma curva grande. De um lado dela, o mato. Do outro, um barranco, não muito íngreme, você desce e ele dá num pasto. Lá embaixo, na hora em que as meninas voltam da aula, é onde sempre fica o menino.

Sempre com o pedaço de pau na mão, Antônia fica pra trás, olhando as coisas, olhando lá pra baixo. As outras duas andam na frente.

- Ele falou que ia me esperar, Catarina. - Fala a Ritinha. - Até fazer dezessete. Aí faltam três meses, e ele beija uma menina da idade que eu tinha, eu tinha quinze quando ele me falou, Catarina. O João não presta.

Ritinha não sabe que a Catarina já ficou com o João também. Antônia viu, quando ela e os meninos estavam matando aula, atrás da quadra da escola. Aí os dois estavam lá. Catarina não a reconheceu, ainda bem. Também não interessam essas bobagens das duas, então Antônia nunca disse nada.

- Cê vai fazer o quê agora? - Catarina pergunta.

- Ele vai me pagar. Quer ver? Antônia. Bate no João pra mim. Que nem você fez com o tarado aqui aquele dia.

Antônia, com o pau apoiado no ombro:

- Não.

- Por que não? Eu falo com meu pai, se você bater. Ele muda o nome dessa curva aqui. Quer ver? Em sua homenagem. Vou falar pra ele mudar pro seu nome.

A Catarina ri:

- Muda pra "Curva do Quebra-Pau".

As duas riem juntas. Ritinha é filha de político. A menina da vila que mais tem as coisas. Todo mundo sempre querendo os brinquedos dela, os lanches, andar com ela. Novamente, Ritinha pergunta:

- Certeza que não vai fazer isso pra mim?

Antônia nem olha. Só nega com a cabeça.

Ela já bateu em tudo que é moleque. Mais velho, mais forte. Bateu com as mãos nuas, mesmo. Traz aquele pau porque a estrada até a escola é vazia, e a aula é muito cedo. Catarina e Ritinha vão pra mesma escola, que é a melhor dali, na cidade. Então Antônia tem que ir junto, porque ela tem o pau consigo.

Nunca tinha acontecido nada. Até umas três semanas atrás. Um dia, Antônia percebeu o cara no mato. Com outro pau na mão, vendo as meninas passarem. Foi aquele o pau que Antônia quebrou.

- Homem não presta não, Catarina. Não se mete com eles. A Antônia que sabe das coisas: Homem só merece apanhar.

Meio-dia e pouco. O menino está lá embaixo, sentado no meio do pasto.

Achocolatado para AlienígenasOnde histórias criam vida. Descubra agora