Capítulo3

6 0 0
                                    

Essa era Garnerville e os dois dias passaram sem novidades. Cardenas saía ao nascer do sol, visitando cidades e fazendas próximas, voltando quase ao anoitecer. Ellsworth passava suas horas todas bebendo, fumando e transando no saloon. E Parker, bem, ninguém se importava com Parker, que ia sobrevivendo aos maus-tratos de Wilson e oferecendo seus serviços a todas as donas de casa e comerciantes na cidade. Ao terceiro dia chegaria o trem pagador e o xerife iria com Jimmy levar o dinheiro dos cidadãos que tinham dívidas a pagar e trazer de volta o dinheiro que alguns tinham a receber. Reuniu os homens de sempre - e Rose - e distribuiu as armas.

- Ninguém tente ser engraçadinho de não devolvê-las quando eu voltar. E você, Ellsworth, vou lhe dar um voto de confiança. – estendeu-lhe suas pistolas – Confesso que fico até satisfeito que esteja aqui em um dia como este. – olhou na cara de cada uma das pessoas que estavam aglomeradas próximas à entrada da cidade – Onde é que está aquele forasteiro, Parker, quando se precisa dele? Ah... esqueçam. É capaz que não saiba nem mesmo atirar!

Montou seu cavalo e partiu, seguido por Jimmy em seu burrico. Rose sentou em caixotes que ela mesma amontoara na entrada da cidade, anunciando que faria o primeiro turno. O xerife nunca se sentava às portas da cidade para vigiar, mas quando Nash saía, levava sua fama consigo, o que poderia atrair bandidos para Garnerville. Então todo exagero seria pouco para manter a cidade segura. Ellsworth declarou que faria o próximo turno, e que esperaria ali mesmo, conversando com Rose.

- O xerife já partiu? – Parker aparecera de repente, com suas roupas sujas de bosta de cavalo e com feno grudado nos sapatos. – E onde está aquele tal Jesus?

- Não é assim que se fala o nome dele! – Rose riu – Você tem que falar como os mexicanos, é Jesus.

- Ah... – olhou para baixo embaraçado – Ah... assim fica bem mais sonoro, não é mesmo? Jesus Cardenas... Parece um nome inventado. Quer dizer... todos os nomes são inventados, mas quis dizer que Jesus Cardenas parece o nome de um personagem de um livro.

- Não repita este nome três vezes, Parker. – Ellsworth falou com voz mal-humorada – Pode nos amaldiçoar.

- Ou pode acabar me invocando. Deu certo. Aqui estou! – o sorriso amigável dera lugar ao olhar sarcástico. Encarou Ellsworth – Parece que o amado xerife saiu e ambos temos nossas armas.

- Ninguém vai duelar, com ou sem o xerife aqui! – um clique indicava que Rose engatilhara a espingarda de Nash.

- Calma neném, sei me cuidar!

- Vá à merda com sua calma! – Rose encostara o cano da arma às costas de Ellsworth.

- Mas que piranha voraz!! – achando que Rose estava distraída com Clint, Cardenas tentou sacar uma de suas pistolas.

BANGH!

– PUTA DESGRAÇADA!! – um tiro arrancou não apenas a arma, mas também dois dedos da mão do caçador de recompensas.

- Rodrigo Sanchez, - a voz de Parker adquirira repentina segurança – o senhor está preso pelo assassinato de Jesus Cardenas, e por roubar seus pertences e assumir sua identidade. – apontava para o bandido uma arma até então desconhecida, com a qual acabara de dar um tiro certeiro.

Ellsworth soltou um assobio.

- E quando penso que já vi de tudo! – tentou sacar sua pistola

BANGH!

– VACA!! PUTA MALDITA. – caído de bruços, tentava estancar com a mão o sangue que jorrava do buraco em sua barriga.

- Era bom demais pra ser verdade!! – Rose levantara-se de seu lugar e continuava apontando a espingarda, depois do tiro. Apesar de tudo, parecia calma – Foi assim que conseguiu encobrir seus crimes durante tantos anos! Roubava e matava com seu cúmplice, depois vinha até aqui, entregava suas armas pro xerife, se hospedava no Toby e fingia ser um homem bom. Só não cuspo em você porque está morrendo!

Aos poucos, as pessoas da cidade iam se aglomerando ao redor do espetáculo inesperado.

- Devemos admitir que foi engenhoso. Como caçador de recompensas, Sanchez podia entrar e permanecer armado em qualquer cidade. E ele até se parece um pouco com Cardenas. Além disso, tratava de esconder todos os cartazes de procurado que encontrava com seu retrato ou de seu comparsa – Parker abriu um cartaz para que todos pudessem ver o desenho do rosto de Ellsworth – Mas eu venho de muito longe, e a cara bonita desse moribundo desgraçado está por toda parte. Passei a seguir Sanchez depois que ele foi à minha delegacia receber uma recompensa em nome de Cardenas. Ele não podia imaginar que eu conhecesse Jesus a anos. Mas acho que os dois sabiam que a farsa estava durando tempo demais. Acredito que planejaram um grande assalto para Garnerville. Como uma espécie de despedida. Não sei como fariam, se iriam render a todos e roubar tudo o que pudessem, ou se renderiam todos vocês e esperariam até que o xerife voltasse com o malote. De qualquer modo, foi bom poder confiar na discrição de Rose. E na sua agilidade com a espingarda também! Nem imagino do que é capaz com pistolas!

Outra vez sentada sobre os caixotes, pernas cruzadas, Rose sustentava seu olhar triunfante, enquanto apontava a espingarda do xerife Nash para Sanchez, que olhava consternado enquanto o comparsa se esvaia em sangue.

Pele de CordeiroWhere stories live. Discover now