Capítulo Um

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    Nunca foi muito de gostar da água, sabe? Talvez fosse medo de cair no mar e se afogar, o que o fazia manter-se longe das pedras rochosas próximas do Ancoradouro.

Era por isso que ele preferia seu lago.

Estranhamente não tinha medo do Lago, ele não deveria ter mais que vinte metros de extensão, e tinha um formato oval. Seu pai lhe disse que não havia como se afogar ali, tirando o píer que o cortava ao meio – o assegurava de ter algo para se segurar –, e ele não chegava a ser muito fundo.

E a água era calma, ótima para relaxar.

Poderia pegar suas coisas e retirar os tênis antes de chegar ao píer, deixando junto de seu casaco, e caminhando até o centro. A madeira afundava levemente a cada passo, mas o rapaz não se importava, sabia que seu avô havia construído-o bem firme, forte o suficiente para aguentar tempestades e o peso de várias pessoas. Na ponta ele se estendia, em um quadrado, onde antigamente seu pai levava a cadeira para se sentar.

Hoje em dia ele permanece vazio, e JiHoon gosta de se sentar na borda. O vento sempre está agradável, e o clima é sempre bom, ameno, o sol lhe esquenta suavemente as costas, e ele sente seu corpo relaxar. Deixa seu material ao seu lado, e arrisca por os pés na água. Estranhamente ela é sempre morna, e parece envolver bem os seus pés, brincando com estes.

Ele brinca um pouco, o vento bagunçando seus fios rosados, e como sempre, após alguns minutos de puro divertimento, ele resolve começar sua lição. Abre o caderno, e o empurra para longe da beirada, até poder se deitar rente à esta. A aquela altura, sua mãe já saiu para fazer compras, deixando-o livre para fazer o que quiser. Mas o pequeno Lee era esforçado, e gostava de terminar tudo antes de se divertir ali.

Enquanto tentava calcular algumas áreas de triângulos, ele percebeu uma movimentação na água. Nada que o incomodou, afinal, não era difícil aparecer alguns peixes, embora a maioria não gostasse de sua presença. Geralmente eles fugiam, mesmo que tentasse oferecer grãos de pão. Porém, começou a chamar sua atenção após alguns instantes, quando ele ouviu um barulho estranho, como se alguém batesse na água em sua direção.

Virou sua cabeça e conseguiu ver apenas a água respingando, o que fez seu coração acelerar de nervoso. Pensamentos estranhos de que poderia ter alguma espécie de monstro do lago se fez presente, e ele se aproximou da borda, virando seu corpo devagar, não querendo fazer barulho.

A água era escura, não o permitia ver muito fundo, o que o deixou alarmado, inclinou-se mais para perto da água, vendo seu próprio reflexo, os olhos redondos e assustados o fitando, até que algo emergiu. Demorou alguns instantes para processar, seus olhos se encontraram, e por instantes ele se perdeu naquelas orbes brilhantes. Nos primeiros segundos eles eram negros, entretanto, mudaram para um ciano forte, e o baixinho se sentiu atraído.

Algo mágico passou por seu corpo, e as batidas de seu coração desaceleraram, se tornaram lentas e ritmadas, sua própria respiração mudou. Seu corpo não respondia mais por si, mas por aqueles belos olhos azuis e pequenos, seus dedos se apertaram na borda de madeira, ficando brancos de tanta força.

O rapaz que o encarava tinha a boca entreaberta, pequenos dentinhos pontudos eram vistos da parte superior, mas ele não respirava, não puxava ar, parecia mais um boneco. JiHoon foi se inclinando em sua direção, sua mente tornou-se límpida como aquela água, totalmente hipnotizado, e o outro foi se afastando, afundando na água sem a mesma se quer se mexer. Era como se ele fizesse parte desta, parecia nem ter um corpo físico.

Assim que este sumiu de sua vista, o Lee percebeu o que estava fazendo, seus pensamentos voltaram, e ele soltou um xingamento, antes de se erguer, e sentar com tudo sobre o píer.

Siren's CryOnde histórias criam vida. Descubra agora