POV. Harry
Eu diria que a pior coisa que eu deixei pra trás foram meus livros. Me lembro de quando era menor, mamãe comprava HQ'S de super heróis e eu colecionava todas. Tinha orgulho de mostra-las e pensava que um dia seria igual ao homem aranha. Iria salvar donzelas e cidades de pessoas ruins. Depois de um tempo, percebi que tudo não passava de ilusão de criança. E então me propus a ler ficção, e aprendi que um livro não precisa ter figuras para ser bom.
Voltando para o meu monólogo atual, estou agora dentro de um avião, prestes a começar uma nova fase. Não consigo parar de tremer e acho que a senhora que está sentada ao meu lado percebeu. Era isso ou roer as unhas. Mas se fizesse isso iria ficar sem meus dedos. Tento pensar positivo, em coisas boas que Londres me lembra. Coisas superficiais como shoppings, starbucks, lugares para comprar livros, mas nada realmente acalmava meu coração e consequentemente quem olhasse para mim veria que eu estava a beira de um ataque.
Tenho um ritual para momentos assim, costumo fechar meus olhos e imaginar que não tem nada ao meu redor e meu pensamento fica limpo, sem perturbações e nem preocupações, e as do momento são sobre a possibilidade do avião cair, do combustível acabar, do piloto dormir e esse seria o meu fim e de todas as pessoas presentes, fico pensando constantemente na escola nova que vou ter que entrar, se vou precisar me apresentar na frente de estranhos e porque eu deixei minha cópia autografada de Harry Potter e o Cálice de Fogo dentro da mala e eu não iria conseguir pega-la para me acalmar agora.
Estou nos meus devaneios internos, quando sinto algo me cutucando. Abro meus olhos e vejo que é a senhora que esta sentada ao meu lado. Odeio isso, eu não sei iniciar nem manter uma conversa.
Quando percebe que estou a olhando de uma forma estranha, começa a falar:
— Meu jovem, eu estava me perguntando se... se — ela exita em falar mas continua relutante — se você aceitaria algumas jujubas vermelhas, eu não gosto delas e não queria desperdiça-las e vi que precisa se distrair...
Olho para suas mãos e vejo as jujubas, não tenho como escapar de um diálogo, e em vez de me ajudar a me acalmar está me fazendo ficar mais perturbado, mas mesmo assim respondo:
— Obrigado, eu vou aceitar — pego o pacote desajeitadamente de suas mãos e me viro para frente de novo. Mesmo assim ela continua falando:
— Sabe, se você precisar de ajudar para relaxar, se quiser que eu cante uma canção para dormir ou algo assim...
— Muita gentileza da sua parte — fico pensando se devo lhe dizer que eu não consigo dormir em viagens, além do meu medo constante de ter pesadelos e não ter ninguém para me abraçar. — Eu não lido muito bem com viagens.
— Ah, não tem problema, só quero que saiba que se tiver algum problema ou se quiser conversar. Eu costumava fazer isso para os meus netos, mas agora todos eles estão crescidinhos.
— Eu não sou bom em diálogos, então só vou continuar aqui fingindo que esta tudo bem até ficar tudo bem.
Encosto minha cabeça na janela e observo as nuvens e o jeito como elas estão só ali deixando o cenário mais bonito. Então penso em como todos nós no avião e no geral como um todo, fazemos muita tempestade por nada. Afinal de contas, não somos nada comparada a imensidão do universo. Mas ainda assim dói.
Penso na senhora que está ao meu lado e em como ela levou sua vida e se um dia eu vou ser bom o suficiente para fazer alguma gentileza gratuita sem derramar um litro de lágrima ou de suor.
Como algumas jujubas vermelhas para adocicar o sabor da minha boca, já que com toda minha confusão mental tudo fica muito amargo.
Adormeço sem perceber, tentando imaginar quando minha vida vai realmente andar pra frente, sem stress emocional, sem bullying ou qualquer coisa que envolva eu chorando e usando as gilletes em minhas pernas.
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Estou a quase vinte minutos esperando Gemma, no quesito irmã mais velha ela falha algumas vezes, como por exemplo; agora. Evito pensar, evito qualquer coisa que me lembre coisas trágicas. Sinto cada gota de suor escorrendo pelas minhas costas. Não tem nenhuma maneira indolor de acabar com meus pensamentos então no máximo tento recolhe-los.
Então vejo Gemma entrando e correndo os olhos a minha procura. Quando bate os olhos em mim abre um enorme sorriso, eu sorrio também pois estou verdadeiramente feliz, principalmente por me lembrar de como ela me protegia o quanto podia enquanto estava por perto.
— Olha só quem está o maior gato — Ela sorri tanto que não tem como se contagiar com isso.
— Oi pra você também, Gemm
— Espero que você tenha me trazido algum presente alem da sua presença, porque se não trouxe eu despacho sua bunda gorda agora mesmo.
— Não se preocupe, eu te trouxe uma edição de colecionador de Alice no País das Maravilhas, porque sei que você ama essas coisas.
— Esse é meu garoto — Diz ela apertando minhas bochechas e sai andando na frente.
Ela me faz lembrar coisas boas, coisas que só aconteciam a muito tempo, me faz enfim ter um pouco de esperança que as coisas aqui possam ser diferentes.
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Inside Us
FanfictionDepois de acontecimentos trágicos, e por longas noites de terríveis pesadelos, Harry resolve se mudar para Londres. O garoto era uma bagunça, não sabia se comunicar, não tinha amigos, vivia com ansiedade constante e isso sempre o atrapalhava. Suas ú...