Capítulo II

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Estava chovendo.
Mas era uma pequena garoa. Indo para a escola de manhã, sem guarda-chuva, e sem me importar com as pequenas gotas de água que caiam em meu rosto. A aurora matutina ameaçava aparecer no céu. O canto dos pássaros estava imperceptível, pois eu estava com fones de ouvido.
Minha rotina sempre foi igual, e mesmo fazendo as mesmas coisas todos os dias, eu não enjoava. Sempre chegava cansado da escola, não praticava trabalhos em grupo por realmente não saber socializar. Mas eu não me importava com isso.

Sendo sincero, em plenos 15 anos, eu só tive 1 amigo. Seu nome era Tico. Foi meu primeiro e único cachorrinho. Era um vira lata, incansável, de cor cinza escuro.
Era um amor, aquele bicho. Todo dia de manhã, antes de eu levantar para ir para escola, ele vinha me dar um bom dia melado de baba. Naquele época em que ele era vivo, eu devia ter uns 6 ou 7 anos. Era uma das duas coisa que me faziam feliz.
A outra era minha mãe.

Ela me tratava bem, no começo. Nunca cheguei a conhecer meu pai, minha mãe me contou que ele fez muito mal a ela, então eles terminaram. Ela não tinha irmãos, nem irmãs. Não tinha ninguém para nos sustentar. Então ela tinha que trabalhar... À noite... Sozinha. Eu não sabia no que trabalhava. Me dizia que ajudava os lixeiros nas ruas escuras, por isso saia tarde da noite. Mas nunca entendi o porque ela se arrumava tanto para pegar lixos, em uma rua escura. Saía sempre depois que eu dormia. Mas um dia, eu acordei e minha mãe estava estranha, sentada no sofá da sala, com uma mancha estranha na blusa amarela gritante.

- Mamãe? - chamei passando a mão em seus cabelos. - mamãe? Você está muito cansada? Vá para a cama. Mamãe? - agora eu a sacudia. - MÃE, ACORDA.

Com os meus gritos, a vizinha que era amiga da mamãe bateu na porta, e eu abri. Ela olhou espantada para minha mãe, me pegou no colo, e logo me levou para fora da minha casa. Era um lugar tranquilo, ninguém tinha motivo para brigar com ninguém.

- RICARDO, RICARDO LIGUE PARA A AMBULÂNCIA - gritava a escandalosa mulher ao marido, ainda comigo em seus braços.

Não demorou muito. A ambulância chegou rápido e assim que os médicos entraram em minha casa, o mundo ficou em câmera lenta. Comecei a chorar, mas eu não sabia o porque. Não sabia que não iria mais ver a minha mãe.

Já era o horário do intervalo. As aulas tinham passado e eu nem reparei. Estava afundado em meus pensamentos. Nem havia aberto nenhum caderno. Esperei ansiosamente a aula de redação, para dar o meu melhor em escrita. Eu era bom nisso.

Enquanto todos os outros alunos conversavam nas mesas, incrivelmente juntos, eu estava quieto, atrás de um banco, bebendo meu suco. Até que alguma coisa cai na minha cabeça. Era um pacote de bolacha.

- Ai - eu resmungo levantando e tentando achar quem atirou.

- Oi, desculpe. Não vi que estava ai atrás. Desculpe pela bolacha. - uma voz doce sibilou ao meu lado, então me virei para ver quem era.

Era uma menina. Nunca tinha a visto na pelos corredores da escola.
Tem os cabelos negros caído de lado no rosto, era alta, mas não passava de mim. Ombros pequenos, dava para ver que era como eu... Só queria silêncio, e um lugar para ficar sozinha.

- An... Não tem problema, eu só me assustei - respondi, já procurando uma saída.
Até que dei um sorriso e saí, indo para a minha sala.

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