Eu sinto muita falta de ter um lugar onde eu possa desistir sem que ninguém veja, escute ou perceba. Não sei, mas é como se todos os dias eu precisasse interpretar um papel, arrancar de dentro de mim a essência anêmica e guardar dentro do bolso da calça. E as pessoas, paranoicas com as suas próprias angústias, enxergam o meu exterior, sem notar que falta um pedaço ,elas olham o sorriso no meu rosto quando as cumprimento, as palavras que eu uso para encorajar quem vive ao meu redor (eles precisam tanto de mim); minhas pernas que não vacilam (os pés não falham); uma coragem avassaladora, que para eles parece não ter nome. Todos os dias eu perco um pedaço de mim. E todos os dias continuo de pé, fingindo... Eu grito para dentro, engulo os punhos da minha mão, e mordo, mordo, mordo... eu conto, 1... 2... 3..., eu me silencio, para não expor minha podridão. Não sei ao certo porque eu queria me deitar em uma cama no meio da tarde ,mesmo que eu dificilmente esteja cansada nesse horário , pra ficar olhando para cima por um momento. Sem música, sem luz, sem barulho. Eu queria um lugar assim pra poder desistir. Eu queria um lugar assim pra poder me desmontar, pois as peças de plástico que encaixei em mim, provisoriamente, doem e grudam, como se sempre fossem se recusar a sair. Elas deixam marcas, queimam, me apertam, pois não são do meu tamanho. Mas eu preciso usá-las, para fingir. Eu queria um lugar para gritar, e ser eu, só eu sem máscaras, sem sorrisos dissimulados, sem mil e uma camadas me escondendo. E chorar, muito, muito... [porque às vezes, é só disso que precisamos]. Eu queria um lugar... onde eu não precisasse fingir que estou bem.