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Metade da humanidade, acredito que 98% dela tenta se encaixar em algum padrão, ou em algum grupo, e mesmo que você seja o solitário que for, sempre vai ter bem lá no fundo, no fundo mesmo, aquela vontade de ter amigos. Eu nunca quis me encaixar nisso, sou a raridade, isso, sou os 2% restantes na humanidade. Porque ser um tipo de ladra, não é bem algo que muitos queiram se encaixar e nem faço questão de ser diferente.

Tive meu pai morto na minha frente aos nove anos, até hoje me lembro da grande poça de sangue ao redor dele, vocês devem pensar "Nossa coitada, era uma criança" diria a vocês de verdade que dei graças a Deus, meu pai era um drogado, bêbado e que espancava minha mãe, eu sei que apesar dos pesares era meu pai, mas não consigo sentir nada além de um grande alívio e conforto por aquele filho da puta — com todo respeito à minha avó — ter morrido.

Mas voltando ao meu dia péssimo em um treiler pronto pra ir a venda, acordei radiante, para não falar de que apenas dormi três horas e meia. Estava frio naquele dia, meus casacos não estavam ajudando muito, Paris poderia ser bastante congelante quando queria, deveria fazer dezessete graus, a brisa corria por entre as árvores com poucas folhas ainda amareladas de outono, sabe o que me faria bem? Um uísque. Caminhava a passos largos, me escondendo dentre os panos grossos que me aqueciam do vento gelado no momento, ninguém poderia me ver, ninguém poderia me notar, se algum cidadão perceber quem eu era sem dúvidas me deletaria pra polícia, minha foto estava espalhada por todas as delegacias da França, isso por apenas um descuido meu, e pra falar a verdade, eu não sou do tipo de pessoa que fica presa. Ah, e para que eu estava me escondendo? Iria encontrar um conhecido meu, Roger, ex - professor de Física, talvez algo mais, nunca o perguntei no que ele realmente trabalhava, mas também não era da minha conta e nem me interessava. Conheci ele em uma festa, eu estava bêbada e prestes a ser estuprada por vagabundos chapados, mas ele apareceu e me tirou de lá, na manhã seguinte eu apontei a arma em direção ao seu peito, gritei um pouco e ele continuou calmo, e foi assim que nossa "amizade" começou.

Entrei no bar mais michuruca de toda a minha vida, não tinham cadeiras, eram apenas acentos de carros, estes concerteza roubados de infelizes que trabalham vinte e quatro horas em uma semana inteira por apenas um salário de merda para sustentar a família e uma combi, talvez. Estava cheirando a cocaina e cerveja barata, era escuro e desagradável, três homens gritavam em uma mesma isolada no canto por causa de uma partida de dominó, me pergunto o que aconteceria ao perdedor.

— Esta atrasada vinte minutos - Revirei os olhos ao me sentar.

— Você veio aqui só para marcar quantos minutos me atraso ou veio pra falar de coisas mais importantes? - Peguei minha pequena e sutil Taurus 838.

— Sempre querendo chamar atenção, quando vai mudar Camila? - Ri com diversão, colocando a arma na cintura de novo.

— Fala o que quer logo Roger, não quer uma arma apontada pro seu saco por me fazer vir aqui e perder tempo - Ele riu simplesmente, me levando a rir junto.

— Seu senso de humor é incrível.

— Apredi com os melhores, mas tô sem tempo de verdade.

— Só quero que me ajude a roubar a casa da moeda da França, so aceito pessoas que não tenham nada a perder, são 2,4 bilhões de euros - E foi naquele momento que nada do que eu fiz na minha vida antes disso foi algo realmente grande, naquele momento que percebi que um cara com um óculos e um livro poderiam ter planos bem mais mirabolantes do que um valentão de esquina. E se eu aceitei? Bom, se é pra minha cara aparecer em jornais, que seja pelo maior roubo da história.

Depois daquele dia eu conheci o resto do grupo, as outras pessoas na qual tinham uma história e um porque de estarem ali, alguns com fixa criminal, outros talvez nem saibam o que é ficar atrás das grades.

La Casa De Papel - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora